sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Cartoon de Monginho

in Avante!

"O beijo", de Gustav Klimt



Frase de fim-de-semana, por Jorge


"Desde que não se lhe dê uso, a consciência está sempre limpa."


Abba Ebam

Ministro dos Estrangeiros de Israel de 1966 a 1974

Com os jovens não se brinca…

A criação de um regime jurídico dos Conselhos Municipais de Juventude, matéria interessante mas com o conteúdo detalhado que a lei 8/2009 lhe atribui, parece-me uma regulamentação sem sentido. Mas traz água no bico…

A organização de estruturas consultivas de juventude pelos municípios deveria depender de cada situação concreta e ter em cada uma a regulamentação que os jovens e o município entendessem. E que seria, certamente, sempre diferente quer em composição, quer em funcionamento, quer na definição de objectivos e de competências, quer em instalações e apoios institucionais ao seu funcionamento, nos diferentes tipos de municípios.

A rigidez da composição, a discriminação das associações informais, os esquemas de representações cruzadas entre órgãos municipais e nacionais, são tudo o que de mais estranho se possa conceber para jovens…
A democracia participativa é mais um estilo de governar e de intervir na governação do que uma forma rígida e uniformizante de a condicionar. Não é uma fórmula que se auto-isente de riscos de manipulação e de ressonâncias de lobbies estranhos aos jovens, em geral, mesmo que alguns deles sejam juvenis.

Sei do que falo. Como vereador convivi de muito perto com estas situações durante oito anos.

O risco de que um jovem não conhecer da vida o suficiente para se pronunciar sobre esta ou aquela matéria não pode ser impeditivo desse pronunciamento. Devem as associações juvenis densificarem o seu conhecimento de situações, com perspectivas diversas e informação qualificada, para dar mais solidez às opiniões. Mas isso é o processo educativo normal num jovem e o perfeccionismo regulamentar só quer dizer que quem o elaborou de jovem já pouco tem…

Tal como para outros sectores que, desejavelmente, devem assegurar direitos de participação, este tipo de problemas existe.
E isso dá mais força à necessidade de que a força da representação não se esgote nestas instâncias, necessariamente consultivas e para melhor fundamentar as decisões políticas daqueles que têm a competência de decidir.
Que ninguém pense que pode transformar democracia representativa em funil biunívoco das organizações desejavelmente livres, com capacidade de iniciativa e a natural irreverência e vontade de mudar a vida e o mundo que lhe são tão características. E na qual se inclui a capacidade para acabar com perversões de representatividades pelos seus mais directamente interessados.

Nem a excessiva institucionalização e parlamentarização destes Conselhos, nem a rigidez burocrática de quem assegura as participações são desejáveis no interesse de uma efectiva participação.

Governos que tudo têm feito para limitar as perspectivas dos jovens, alimentando o desemprego, o trabalho precário, o acesso com custos elevados à educação, à habitação e a tantas outras condições de vida e de trabalho, tomarem, esta iniciativa é um desvio de atenções. Eles são responsáveis pela falta de interesse e confiança na participação para esta regulamentação cerrada ter sentido positivo. Mas não só de fait-divers vive este diploma.

Ainda mais grave é, tal como está a acontecer noutras áreas da actividade municipal, como, por exemplo a Acção Social, o governo amarrar as estruturas locais de iniciativa local a políticas e estruturas do governo, colocando-as como executoras de orientações governamentais e cerceando actividade autónoma por tal rede de estruturas condicionar o acesso a programas nacionais de apoio, à semelhança do que acontece com a inacessibilidade a incentivos que o Portal 65 introduziu.

Não seria a primeira vez, e continuaria com tais regimes jurídicos a ser no futuro, que um governantezinho em discursos dentro e fora do país, em balanços, livros e anuários, em sites sobre a s associações juvenis, chamasse a si, como se se devessem a uma clarividência e esforço hercúleo dos governos, a iniciativa e a diversidade de milhares de estruturas e actividades juvenis que continuam a existir, apesar das políticas negativas dos governos.

A instrumentalização da iniciativa juvenil é o que tal fúria regulamentar em última análise, pretende.

Deixo ao leitor o convite de conferir o que aqui fica dito com a lei nº. 8/2009, de 18 de Fevereiro, cujo debate parlamentar na altura não acompanhei.

Com um governo como este, tal tipo de leis é uma conversa da treta que é um faz de conta, para mais um show-off que pretende distrair as atenções dos reais problemas da nossa juventude que, ainda por cima, não dependem tanto do poder local mas de políticas nacionais.
Os ministros que brinquem uns com os outros. Com os jovens não se brinca…

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A lei do mais fraco, por Jorge


É verdade.

Ao contrário do que se pensa, descobriu-se que a competição entre espécies pode dar a vitória à mais fraca, a que sobrevive!

Diga-se de passagem que a selecção natural não é ao mais forte que dá a superioridade, mas sim ao mais apto! ("survival of the fittest" disse o Darwin).

Animem-se portanto, desgraçados de todo o mundo! o futuro pode ser vosso! o segredo está em saber escolher os mais fortes com quem competir...


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Brasil solidário com Cuba

O Governo de Lula doou a Cuba 19 mil toneladas de arroz para enfrentar os graves problemas causados pela passagem de três furacões que devastaram a ilha em Outubro passado - o Ike, o Gustav e o Hannah. Uma expressão de solidariedade desta grandeza não pode passar sem merecer reflexões amplas, especialmente num momento em que o mundo regista principalmente é a movimentação de armas. Enquanto Brasil oferece arroz a Cuba, os EUA continuam com o abastecimento de armas para Israel.

Como o jornal comunista “O Vermelho” refere na sua edição de hoje:

“Assim, aprendamos todos com esta página de solidariedade que está sendo escrita agora pelo Brasil, coerente com uma política de integração, que precisa ainda desenhar-se, expandir-se, superar os que do lado de lá patrocinam não apenas o jornalismo de desintegração, mas a própria desintegração latino-americana. Com a crise do capitalismo mundial, temos uma avenida. Militares brasileiros da Aeronautica participaram de operações de salvamento de flagelados quando das devastadoras inundações na Bolívia há alguns meses. Participaram também, recentemente, indicados pelas Farc, mas com a concordância do governo da Colômbia, da operação de resgate humanitário dos reféns coordenada pela Cruz Vermelha nas selvas do país vizinho. São algumas ações apenas, mas apontam um caminho com a criação da Universidade da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu aponta. Mas, esta página tem muitos antecedentes, sobretudo inúmeras páginas nobres que Cuba já escreveu na história da solidariedade internacional dividindo generosamente seus escassos meios com outros povos mais necessitados.
Assim, o arroz solidário brasileiro vai para quem merece amor, como na canção de Silvio Rodriguez”.


Como curiosidade também registada neste jornal, refira-se que passam hoje 28 anos sobre a condenação de Lula em tribunal militar, de acordo com a então Lei de Segurança Nacional, por ter sido um dos dirigentes da greve geral de 1980.

Habitação por conservar: os números e a conversa fiada...

1. Noutro post já aqui falei da reabilitação urbana dos bairros históricos que, por diversas especificidades (técnicas e materiais de construção, peso maior de necessidades de conservação e reabilitação, menor rentabilidade do investimento privado, laços sociais particulares, dimensão e especialização de empresas de construção indicadas, etc.) devem ter um enquadramento legislativo, de planeamento urbano distintos, ter uma estrutura municipal própria, com várias valências integradas e um maior entrosamento com os residentes.

2. Mas em todo o resto da cidade, para além do seu casco antigo, as necessidades de conservação e reabilitação existem e, em alguns casos, atingim níveis preocupantes.
Em palavras todos reconhecemos que grande parte do nosso parque habitacional precisa de ser conservado e/ou reabilitado, tiram-se efeitos especiais destes ou daqueles dados, geralmente com poucos estudos ou estudos e planos sobre aspectos muito parcelares
Depois vamos olhar para o investimento feito e as grandes intenções esboroam-se…
Para só falar daquilo que é responsabilidade directa da CML ou em que esta actua como parceira ou por razões ponderosas, assistimos a um descalabro desde o final da coligação de esquerda dos anos noventa.
De 12 milhões de euros de execução do plano em 2001 passou-se para 1,2 em 2007 (o relatório de gestão de 2008 só será aprovado daqui a umas semanas), e de 74% de taxa de execução para 27%…
Esta tendência atingiu particular gravidade nos bairros municipais que, como se sabe atingiram crescente dimensão. Aqui de 4,5 milhões de euros em 2001 passou-se para 0,3 em 2007 com as taxas de execução a caírem de 70 para 18%.
Os números decrescem e ilustram bem a incúria, o desprezo que contradiz o discurso oficial, as opções de classe na despesa realizada.

3. Em Lisboa, a média de idades dos edifícios em utilização habitacional é de cerca de 50 anos e o número de fogos devolutos ultrapassa os 40 mil.A maior parte dele é particular e os proprietários não terão recursos para o fazer. Quer sejam eles arrendados quer sejam habitados pelos próprios proprietários.
Também o município tem escassez de recursos, apesar dos programas de co-financiamento de obras pelo Estado a que, contraditoriamente (ou não), quer o município quer os particulares tem recorrido menos…
Outros fogos particulares carentes de conservação e reabilitação são deixados degradar para que os seus locatários se vejam forçados a abandoná-los ou a receber “indemnizações” ridículas por isso.
Obviamente não é esse o caso do município. Neste caso os fogos que estão vazios, até por isso se degradam mais depressa e ficam menos disponíveis para corresponderem às necessidades do município em realojamentos.
Mas um programa de reabilitação sistemático recorrendo ao co-financiamento poderia e deveria ser realizado com outra eficácia e uma vontade política mais determinada. Não para serem atribuídos de forma pouco clara mas para acorrer às necessidades sempre existentes de realojamentos temporários ou definitivos.


4. Dos 60 692 mil fogos existentes em 1960 passou-se para 292 065, em 2001. Mas, conforme os dados municipais revelam, apesar disso, nos últimos 20 anos, e acompanhando uma tendência comum a outros grandes centros urbanos, sujeitos a enquadramentos neo-liberais e aos respectivos movimentos especulativos em vários mercados, a cidade perdeu cerca de um terço da população (em 1981 residiam em Lisboa 796 534 mil pessoas e, em 2001, já só viviam 564 657 mil pessoas).
Esta perda de população não está directamente relacionada com o estado do parque habitacional.
Não é possível suster esta perda de população se de forma combinada não se actuar simultaneamente a vários níveis como na maior oferta de postos de trabalho, na redução dos preços leoninos da habitação e das rendas, agindo sobre o mercado, no suster da especulação e no assegurar na habitação nova uma percentagem de fogos para venda a custos controlados e para arrendar a preços suportáveis.
E aqui é outra política que se impõe para não continuarmos a alimentar ilusões.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Foto de Luis Lobo Henriques



Conferência subordinada ao tema O Movimento Comunista no Século XX por Domenico Losurdo




Na próxima quinta-feira 26 de Fevereiro às 17,30 h., no auditório B 104 do ISCTE (edifício novo, entrada pela av. Prof. Aníbal de Bettencourt) o filósofo marxista italiano Domenico Losurdo, director do Instituto de Ciências Filosóficas e Pedagógicas da Universidade de Urbino, Itália, profere esta conferência.

Nascido em 1941 nos arredores de Bari, é actualmente Professor catedrático da Universidade de Urbino e Presidente da Sociedade Internacional Hegel.
Um dos principais campos de investigação de Domenico Losurdo situa-se na reconstrução da história política da filosofia clássica alemã, de Kant a Marx, tendo ainda dedicado ensaios a Nietzsche e Heidegger.
Mais recentemente dedicou-se a uma leitura crítica da tradição liberal e das origens ideológicas do fascismo e do nazismo, na sua relação com as tradições coloniais e imperialistas.
A mais recente das suas obras, Stalin. Storia e critica di una leggenda nera, suscitou intenso debate e o comentário elogioso, entre outros, de Gianni Vatimo: “Graças aos documentos e citações presentes no livro conseguimos entender como Stalin foi sobrevalorizado por muitíssimos estadistas, como Churchill e De Gasperi e filósofos como B. Croce, que sempre olharam Stalin com respeito, simpatia e mesmo admiração”.

Obras recentes
Il Revisionismo Storico. Problemi e Miti. 1996.
Hegel e la Germania. 1997.
Antonio Gramsci dal Liberalismo al "Comunismo Critico". 1997.
Hegel, Marx e a Tradição Liberal. Liberdade, Igualdade, Estado. Editora Unesp, 1998.
L’Ipocondria dell’Impolitico. La Critica di Hegel Ieri e Oggi. 2001.
Nietzsche, il Rebelle Aristocratico. Torino, 2002.
Democracia e Bonapartismo. Editora UNESP, 2004.
Fuga da História? A Revolução Russa e a Revolução Chinesa Vistas de Hoje. Editora Revan, 2004.
Contra-História do Liberalismo. Aparecida, SP: Idéias & Letras, 2006, Publicado em italiano em 2005 como Controstoria del Liberalismo.Domenico Losurdo

"Tanto Mar", de Xico Buarque

O senhor que se segue...



Fontes próximas do Ministério da Administração Interna confirmam ( "correcto, afirmativo", disse-nos o assessor de comunicação social, que afastou assim o boato de ser brincadeira de Carnaval... ) a retirada da circulação de todos os postais ilustrados de "David", criação de um tal Miguel Angelo, de morada incerta, na sequência de idêntica operação realizada há dias com sucesso a propósito da indecente publicação do "Princípio do mundo" de um designado realista que utilizava o nome de Gustave Courbet.


Os agentes revelaram-se um tanto perplexos com as reacções negativas à sua intervenção porque ela decorre da recente acção de formação de "Manutenção da ordem pública em tempos de previsíveis perturbações de valores", do ciclo do MAI "Preparar a crise no plano da ética e da estética", inspirado em recomendação dos últimos Estados Gerais.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Porto Covo e a Ilha do Pessegueiro, por migana




Um novo new deal?

No número de este mês da Monthly Revew, dois professores universitários norte-americanos John Bellamy Foster e Robert W. McChesney respectivamente editor e colaborador desta revista norte-americana, discutem o apelo de sectores académicos para que seja implantado um novo New deal quando a nova administração Obama tem apontado para um amplo programa de estímulo económico de mais de 850 mil milhões de dólares durante dois anos, com o objectivo de resgatar a nação da profunda crise económica.

Remetendo para a tradução publicada hoje pela resistir.com, não deixaremos de aqui citar o início dessa discussão e as medidas que, na opinião destes dois professores, a esquerda poderia propor apoiada num forte movimento de esquerda nos EUA, que, como é sabido, não existe organizado.

”A possibilidade de um novo New Deal deve ser saudada por quem se posiciona à esquerda, na medida em que faz prever algum alívio para a população trabalhadora bastante sacrificada. Porém, há questões importantes que se colocam. Quais são as reais perspectivas actuais de um novo New Deal nos Estados Unidos? Será essa a resposta para a actual crise económica? Qual deve ser a atitude da esquerda? Uma análise profunda destas questões exigiria um grande volume. Aqui, confinamo-nos a alguns pontos que ajudarão a tornar claros os desafios que temos pela frente. O New Deal não foi, inicialmente, uma tentativa de estimular a economia e provocar a recuperação através da despesa pública, uma ideia que pouco estava presente no início da década de 1930. Pelo contrário, consistiu em medidas de salvamento e resgate ad hoc, motivadas sobretudo pela ajuda aos negócios, associada a programas de apoio ao emprego. A parte de leão das despesas do New Deal foi, no início, canalizada para operações de salvamento. Como explicou Alvin Hansen, economista de Harvard e um dos primeiros seguidores de Keynes nos Estados Unidos, no seu "Fiscal Policy and Business Cycles" (Política fiscal e ciclos de negócios).

(…) Com o capitalismo atolado numa crise económica de uma tal severidade que cada vez mais faz lembrar a Grande Depressão dos anos 1930, não deveria surpreender que assistamos a um apelo generalizado por "um novo New Deal".

(…) É da exclusiva responsabilidade da esquerda impulsionar não apenas a organização militante da população mais desfavorecida, mas também os tipos de mudança, indo contra a lógica do sistema e assentando numa expansão da despesa pública que contribua substancialmente para melhorar as condições de vida. Em termos de exigências, um programa deveria incluir, para começar, que:

(1) o governo assuma a responsabilidade de assegurar trabalho útil e com salários decentes a todos os que necessitam, recorrendo às competências existentes;
(2) seja alargado o subsídio de desemprego para lá dos seus inadequados limites actuais;
(3) os que estão em perigo de perder os seus empregos sejam protegidos pela assistência pública;
(4) seja iniciado um programa de habitação de choque a favor dos que não têm casa ou vivem em casas degradadas (incluindo o alívio das hipotecas e o apoio aos arrendatários);
(5) seja estabelecido um sistema fiscal verdadeiramente progressivo, incorporando um imposto sobre a riqueza;
(6) sejam alargados programas alimentares e vales alimentares para os pobres, juntamente com outras provisões de bem-estar, facilitando o acesso;
(7) seja facultado a toda a população acesso nacional a cuidados de saúde (um sistema de pagador único);
(8) seja garantido pelo governo o financiamento das reformas;
(9) seja aumentado o financiamento da Segurança Social e eliminados os impostos regressivos;
(10) sejam eliminadas as leis que restringem a sindicalização;
(11) seja aumentado o salário mínimo federal;
(12) seja introduzida a semana de trabalho das 35 horas;
(13) seja promovido a nível nacional um programa de transportes públicos de massas;
(14) sejam muito alargados os sistemas de comunicações de propriedade ou controlo público e estendidos por toda a nação;
(15) seja bastante aumentado o financiamento público da educação; e
(16) seja bastante aumentada a protecção ambiental, em linha com a revolução ecológica hoje necessária para salvar o planeta.”

Há 22 anos dissemos adeus mas ficaste

Golpe de Estado nos corredores do poder norte-americano em 18 de Dezembro de 2006?

A única expressão visível deste acontecimento foi a troca no Pentágono de Donald Rumsfeld por Robert Gates, republicano e anterior directos da CIA, num estilo de “homem forte do regime”.
A razão de fundo poderia ter sido a política seguida por Bush e Rumsfeld de contratação para o Iraque de mercenários, em vez de militares profissionais de carreira, por isso sair mais barato e fazer reduzir os custos da guerra. Apesar de os mercenários ganharem mais, os seus contratos cessavam quando eram feridos ao contrário dos militares profissionais em que o Estado teria de garantir-lhes apoio e pensões.
Esta “privatização da guerra” colocou a administração contra os militares, que reagiram corporativamente à perspectiva da sua extinção a prazo. A imposição de Gates foi a expressão dessa reacção.
Barack Obama, depois da eleição, assumiu que manteria Gates em funções de Secretário da Defesa. E este foi o único membro do gabinete que não assistiu ao seu juramento.
Bush, com o acordo de Obama, passaram a designá-lo como “administrador”, fórmula que o coloca em terceira posição na linha de sucessão do poder. Isto é se o actual presidente e o seu vice-presidente fossem, assassinados, Gates assumiria o poder.
Esta poderá ser fruto da imaginação do escritor Thierry Meissan? É a questão que nos coloca o jornalista venezuelano Ernesto Villegas que se tem mantido em contacto com ele, desde que este defendeu que o 11 de Setembro fora um logro montado pelos serviços secretos norte-americanos.

Vox populi




sábado, 21 de fevereiro de 2009

"Escrever o sol", de Júlio Pereira

Campo das Letras tenta sobreviver


As declarações de Jorge Araújo ao Público de hoje confirmam as dificuldades de, no quadro de concentração editorial em curso há alguns anos, de sobrevivência de uma editora com um percurso editorial exemplar fruto da qualidade das pessoas que lhe deram origem, a começar no próprio Jorge Araújo.

Se outras editoras absorvidas neste processo conseguem repercutir num universo editorial mais vasto obras de grande interesse cultural que não se coadunam com a ditadura das vendas e dos géneros mais light, outras editoras como estra, com um palmarés editorial notável, não o podem
fazer e não sobrevivem sem novos investidores por sua vez pouco atraídos por critérios exclusivamente culturais, de procura de novos talentos jovens e de alargamento das opções de leitura.
A Campo de Letras procura um esforço conjunto com outras editoras para sobreviverem. Oxalá o consigam. Até lá um grande abraço de solidariedade e reconhecimento ao Jorge Araújo, ao Emídio Ribeiro, ao José Tavares e a todos os que têm estado neste projecto.

Uma questão de narizes, pelo Rodrigo

Hoje vou à boleia a Torres Vedras para ver se o José Sócrates vai desfilar de nariz comprido ou se a procuradora conseguiu evitar essa cena pornográfica, sim se não os foliões ainda se punham a magicar onde é que ele andava com o apêndice e não há necessidade de assim se invadir a privacidade do nosso primeiro que mais o Dias Loureiro têm direito a ver o nariz crescer já que fizeram por isso, semearam os ventos e não lhes podemos negar as tempestades até porque ao fim e ao cabo estão a amparar-se um ao outro revelando as virtualidades do centrão em que dão todos as costas como fizeram com o cherne de Bruxelas que, coitado, tem que continuar naquela coisa para onde fugiu deixando-nos entregues ao Santana Lopes que, graças a Deus, viabilizou administrações multicolores nas empresas municipais que tanta coisa delas receberam em troca do nada que fizeram para além de dar obras aos amigos, essa canseira, pois então, se não somos para os amigos para quem haveríamos de ser, agora o que já não consigo entender foi aquela do Luís Amado, sim aquele da barba branca e olhos de carneiro mal morto, o positivo das sondagens, que disse que o país precisava de estabilidade governativa, olhó dissidente a querer pôr o Sócrates a andar numa altura em que a instabilidade está a dar tanta pica e em que os narizes readquiriram a dimensão adequada à inalação do cheiro fétido redobrado que as nossas elites, em sinal de que têm a tripa com bom desempenho, produzem depois de deglutirem repastos pagos com cartões de crédito para se rirem dos que dizem que eles já não o têm e agora vou andando porque o patrão não paga horas, inté.

Pôr do sol, por migana

Cais das Colunas

Pour les gosses de mon âge, le voilá: Jean Gabin dans "Je sais"

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Frase de fim-de-semana, por Jorge


"Quem atira a pedra esquece. Quem é atingido lembra para sempre"


Provérbio angolano

La Traviata, de Verdi

Vox populi




"Feliz foi o Ali Babá: não viveu por cá e só conheceu 40 ladrões..."

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Cá pra mim, pa(c)to só com arroz. E para eles?


O passado diz que sim

O presente diz que não

Em matéria de política

Pacto, PSD e PS

Claro que sim, ora não!

(ao som de um corridinho)

Cartoon de Monginho

in Avante!

As convulsões

Responsáveis deste país dizem umas vezes em público e outras em privado que os preocupam as “convulsões”. Em público mas ainda menos em privado já não se preocupam tanto com as suas causas nem dão o mote ao sofrimento que cresce nos lares - quando os têm - dos portugueses.

As convulsões poderão ser inevitáveis.
Melhorar o nosso viver poderá evitá-las ou reduzir a dimensão da sua expressão. Mas importa observar como os que o não querem se comportam face aos que o exigem.

Como noutros momentos da História, as questões do poder, de quem o exerce e como – em última análise revelando em benefício de quem e contra quem – o exerce, de quem muscula o Estado para resistir às mudanças e prepara o confronto e a provocação, de quem ainda sente força para mandar enquanto outros ainda não a adquiriram para alternarem outras formas de poder, são questões recorrentes, livres de determinismos retóricos mas verdadeiramente assentes em observações dos comportamentos sociais em ciências que, não sendo exactas, são indicativas.

O domínio dos média e o seu uso para a manterem as relações do poder, a ameaça aos magistrados, o regabofe de algum patronato que acaba com perspectivas de vida dos seus semelhantes, são sinal do desembainhar das espadas…que é acompanhado com tretas vazias de significado para alguns das “mudanças de paradigmas” ou as “oportunidades que as crises trazem”…

Dir-me-ão que sou um troglodita, agarrado à lógica da luta de classes…
Mas, me perdoem os bem-pensantes, que se não livraram dos preconceitos. Não encontro outro fundamento científico.
Para a sustentação da exploração, da desigualdade crescente, da fome e da miséria em parte significativa da população mundial, do saque das matérias-primas e dos acordos económicos leoninos para os mais fortes, da retórica do ambiente que é diariamente desmentida, do racismo e da intolerância, da “justificação” de sucessivos genocídios e ingerências, etc.
Que não seja o lucro desmedido e anti-social, a desvalorização do trabalho e da actividade produtiva para a dessocializar as relações económicas, o regresso à barbárie para que muito poucos possam continuar a ser os beneficiários da roleta em que jogam diariamente as mais-valias confiscadas dos outros.

Todos os dias as elites dirigentes revelam os piores princípios éticos de conduta, se atascam na corrupção e no compadrio, esperando talvez que a sociedade venha a aceitar esta mudança de valores no seu código genético para os reconduzirem ciclicamente...
Mas aqui e em muitos pontos do mundo ainda existe a felicidade, o amor, o respeito pelos outros, a importância de estarmos juntos e de gerirmos para o bem comum relações complexas onde todos são diferentes e intervêm com as suas diferentes capacidades, num espírito mais igualitário que não igualitarista, numa época da História em que o desenvolvimento científico e tecnológico seria favorável a passos consistentes na elevação da condição humana.

Se as elites do poder insistirem em que devem continuar os mesmos a fazerem as mesmas coisas com os mesmos resultados catastróficos para todos, não duvidem que o abanão se vai impor.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Reportagem em banda desenhada de Patrick Chappate para o Courrier Internationale







Pintura de Malangatana




A lentidão do processo eleitoral norte-americano, por F. Sousa Marques


Como se sabe as eleições presidenciais realizaram-se em 4 de Novembro passado. Até agora decorreram 104 dias, mais de 3 meses! Esta é a primeira nota. "Alguma coisa está podre no reino da Dinamarca!". Como é possível que na maior potência militar da actualidade e no centro do Império se passe tanto tempo antes de se criarem condições de governabilidade?
Não sei se sabem, ou se o assunto é comentado por aí, mas o Senado ainda não está constituído porque falta eleger um Senador (no Estado de Minnesota)! Houve recontagem da totalidade dos mais de 3 milhões de votos!, muita discussão!, muito trabalho!, e o caso acabou nos tribunais! Parece que hoje terá havido uma decisão (que não sei se poderá ser sujeita a mais um recurso, ou mais uma manobra dilatória) no sentido de reconhecer a vitória do candidato do Partido Democrático (Al Franken), com mais 225 votos do que o seu principal opositor e até agora Senador Coleman, do Partido Republicano. Com esta decisão a composição do Senado será de 59 Senadores do Partido Democrático e 41 do Partido Republicano. O Partido Democrático fica a um voto de conseguir a maioria qualificada de dois terços que lhe permitiria governar sem temer bloqueios por parte da oposição.
O que importa referir, na minha opinião, são as razões que estão por detrás deste longo caso.
Primeira. O processo eleitoral precisa de ser revisto e melhorado. De dois em dois anos há eleições simultâneas para eleger os mais diversos representantes e, até, para fazer referendos. Tudo no mesmo boletim de voto, um enorme "linguado" difícil de preencher. Não quero especular dizendo que isso é feito de propósito para desmotivar a participação cívica nos actos eleitorais. Mas não estarei longe da verdade se afirmar que, de facto, essa é uma razão histórica. Por aqui é hábito haver afluências às urnas de 10 a 20% dos eleitores inscritos, sendo que, como a inscrição nos cadernos eleitorais não é obrigatória, isso significa uma participação popular inferior a 10% dos cidadãos com capacidade eleitoral! A única excepção é a das eleições presidenciais em que a participação tem rondado os 50%! Se no nosso país houvesse uma abstenção de 50% o que não se diria! Justificadamente!
Segunda. O sistema não está preparado, nem para uma participação plural e democrática das inúmeras organizações políticas e partidárias que por aqui pululam, nem para "empates técnicos" como o que se verificou, agora, em Minnesota e, com grande escândalo e repercussão, nas eleições de 2000 na Florida em que Al Gore foi roubado e, depois das quais, foi declarada a vitória fraudulenta de George W. Bush! O primeiro aspecto tem a ver com uma ditadura, não do Partido Único, mas dos dois Partidos Quase Únicos. Ninguém fala dos outros! Até parece que não existem! O segundo aspecto tem a ver com a própria forma de preencher os boletins de voto, de os contar e, eventualmente, recontar. As experiências que têm sido feitas com a utilização do voto electrónico (sem possibilidade de controlo) e os votos por correspondência são um cancro no sistema.
Mas, quando me refiro a lentidão, não estou apenas a referir o caso de Minnesota (em 2008) ou da Florida (em 2000). Quero, sobretudo, salientar o tempo demasiado que decorre entre o dia 4 de Novembro e o dia da tomada de posse do novo Presidente (que aqui tem as funções, também, de Presidente do Governo) em 20 de Janeiro. Depois disso, o imenso tempo que leva a constituir o Governo. Não sei se é surpresa para vós, mas o Governo ainda não está constituído! Falta preencher, entre outros casos menores, a importante pasta do Comércio! O primeiro nome (Governador de New Mexico) indicado por Obama saiu da corrida por haver uma acusação de fraude e corrupção que está em processo de análise e o segundo (membro do Partido Republicano) desistiu do lugar depois de ter andado a desenvolver acções de lobbying para o conseguir! Apresentou como justificação que não poderia ocupar o cargo porque viria a ter muitas divergências e discussões com o Presidente...
Cada membro do Governo e outros nomeados (Presidente da CIA, por exemplo) têm de prestar contas, caso-a-caso, perante o Senado, em processos longuíssimos e em que se analisam as contas bancárias, os escândalos sexuais e outros pormenores de grande importância para o futuro da humanidade.

Olá, sou o Rodrigo...


Olá, dão licença?

Eu fui criado pela Beatriz, a neta do senhor deste blógue e parece que ele lhe pediu para me desenhar, isso é nasci por encomenda, que é maneira como outras de vir ao mundo, mas agora António tens uma grande responsabilidade que é justificar a minha vinda dando-me que fazer pois não gosto de estar aqui encostado mas não aceito limitações ao meu trabalho, quero uma crónica quinzenal em que possa escrever sobre o que me der na gana e não ser antreusmente correcto e quanto a vocês espero que digam qualquer coisa para me manter a trabalhar porque o meu patrão torceu o nariz quando lhe fiz a proposta, que lhe cheirava muito a uma tal Guidinha dum Stau que não cheguei a conhecer, bom vamos lá ver o que isto vai dar e até daqui a uns dias.

A fraude estatística e política dos 150 mil postos de trabalho, por Agostinho Lopes


Aconselho vivamente o leitor a consultar o artigo de Agostinho Lopes, deputado e dirigente do PCP, publicado no Le Monde Diplomatique” deste mês.

Nele poderá confirmar, a propósito da “bandeira” dos 150 mil postos de trabalho

- As indefinições desde o início sobre o que estes queriam significar :se era um saldo líquido e como o iria conseguir com o Pacto de Estabilidade;

-A manipulação estatística inaceitável feita para se atingirem os 150 mil postos de trabalho: comparação de trimestres diferentes sem a necessária “dessazonalização” correctiva, contagem de empregados a trabalharem no estrangeiro, de situações excepcionais e temporárias de formação e aprendizagem, não integrar a componente qualitativa do novo emprego (precariedade, trabalho juvenil, qualificação, etc.); e a consequente não consideração de que sobe o emprego precário e o emprego parcial enquanto desce o emprego permanente ou de que sobe o número de trabalhadores a desempenhar funções pouco ou nada qualificadas e o emprego nos serviços enquanto este baixa na indústria.

Agostinho Lopes refuta a ideia que o Governo quis criar de que se deve considerar um “antes” e um “depois” do 3º trimestre de 2008 e debate do OE para 2009, em que no “depois” se debitam à crise financeira internacional as desgraças que vinham da política do governo.
Assinala que diversos factores vulnerabilizaram e tornaram dependente e impotente a economia face aos impactos da crise internacional: níveis de endividamento dos portugueses, das empresas não financeiras e do país em geral que se agravaram de 2005 a 2008 como consequência das políticas neo-liberais do PS.
Indica ainda quais os elementos centrais desta política: privatizações de empresas de bens e serviços públicos, liberalização dos mercados destes, adesão à UEM e ao euro com a consequente perda de importantes instrumentos de controle da economia, particularmente a gestão orçamental determinada pelo Pacto de Estabilidade, atrasos nos apoios às MPME, extrema dependência de sectores da economia do capital estrangeiro (drenagem de riqueza para o exterior, deslocalizações, estratégias alheias) com as consequências na actividade económica e desemprego.

E conclui que “a solução para os problemas e défices estruturais do país (energético, agro-alimentar, tecnológico e de qualificação)” não se resolvem com a degradação das relações laborais como o caso do recente Código de trabalho mas pela valorização e aproveitamento do trabalho dos portugueses.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Ainda o SIM da Venezuela, em resposta a um amigo


Um amigo meu questionou-me sobre o que aqui escrevi hoje sobre a vitória do SIM na Venezuela.

“Bom dia António, hoje questiono-te aqui sobre o que escreves-te no blogue.
E explica-me , gostava de te ouvir!
Achas que é mesmo uma vitória a do povo venezuelano????
Será uma democracia alguém ter a possibilidade de ficar ad eternum no poder?
E os votos do "não" que nas urnas foram anulados automaticamente?
Como se podem elevar regimes ditatoriais? Autocráticos????
Diz-me algo”

Não levará a mal que, sem o identificar, reproduza a minha resposta até porque já tencionava escrever sobre isso.

1. Em democracia os resultados contam-se pelo voto popular. Este referendo permitiu que não só Chaves mas uma plêiade de novos activistas com dez anos de vida política não percam direitos depois de terem dado tudo de si à tarefa gigantesca da revolução.O seu papel carismático não pode ficar sujeito à lei do silêncio que as campanhas dos grandes media tentariam com a mesma força que tentaram por todos os meios sabotar estas eleições (essa é uma questão que tratarei em próximos dias).Quem vota é o povo não são os preconceitos.Quem vota é o beneficiário de uma política que retirou os ganhos do petróleo das mãos das multinacionais e os entregou a programas sociais internos, ao desenvolvimento e à solidariedade continental (Há dias Chávez perguntava a Fidel: Quanto petróleo nosso precisas para vencer os efeitos do embargo americano?...).

2. Quais os requisitos para se ser democracia que a revolução bolivariana, sempre ratificada nas urnas, não cumpriu? Há alguma?Chávez ditador? Porquê? Porque deu voz ao povo?
Há presos políticos na Venezuela? Partidos proibidos? Ausência de liberdade de imprensa? Os ricos não têm direitos? Só os mais pobres?
3. Um observador do PP espanhol, convidado pela oposição, procurou condicionar o voto dos venezuelanos chamando ditador a Chávez nas vésperas do acto eleitoral. Foi posto na fronteira…Imaginas algum partido português a convidar "observadores" que se dessem a esse desplante com o Sócrates? Nem eles nem nós somos repúblicas de bananas e não temos que ter complacências com as saudades neocoloniais de alguns senhoritos.
4. Os observadores internacionais já declararam as eleições justas...mas os media portugueses, ainda não havia resultados e já davam como bom reproduzir e fazer sua uma notícia do jornal Universal, da oposição venezuelana e estandarte secular, ele sim, da autocracia e corrupção do passado recente, sobre uma série de pretensas irregularidades. Pende-lhes para ali o profissionalismo.

5. Acabei de ver o telejornal das 20 h da TVI e a peça sobre as eleições deu-me a volta à tripa… Que lhes fazer? Continuarem a ser livres até para dizer novos disparates, fruto de um solidário despeito com quem historicamente não merece qualquer solidariedade. Mas não livres de se submeterem à denúncia das suas manipulações e mentiras no total desrespeito pelo acesso à informação dos portugueses que aqui e na Venezuela vivem e trabalham.