quinta-feira, 31 de maio de 2012

"Boneca de luxo", de Truman Capote

É a segunda vez que leio este livro.
O livro de Truman Capote, de 1951, foi editado em Portugal pela Dom Quixote e mais tarde pela Colecção Mil Folhas. É uma história da relação de afectos limitada entre um escritor que procura o seu caminho e uma estrela feminina que vive, com inocência aparente, num mundo do jet-set e de contacto com o crime organizado, para onde foi catapultada aos 14 anos, vivendo da existência de um conjunto de admiradores ricos que lhe pagam essa vida de boémia pelo prazer que lhes dá aos olhos.


A acção decorre em Nova Iorque entre 1943 e 1944.

Já clássico da literatura norte-americana, este pequeno livro parece reflectir a própria maneira de estar na vida de Capote.

E deu origem a um filme de Blake Edwards, "Breakfast at Tiffany's", com a incomparável Audrey Hepburn. Ficou mal servido na edição da Colecão Mil Folhas com o título "Boneca de luxo"

Na coluna da direita tem uma passagem deste filme

quarta-feira, 30 de maio de 2012

terça-feira, 29 de maio de 2012

"A ameaça", de Ken Follett

Acabei de lêr "A ameaça" de Ken Follett.
De vez em quando volto ao policial, ao suspense que nos faz ler sem parar, partilhando com o autor a suspeitas e questões a esclarecer.
Ken Follett é um dos maiores neste género que sempre se renova  na originalidade dos temas e nas dinâmicas narrativas. E neste caso introduz o roubo de um virus mais mortal que o Ébola de uma grande empresa farmacêutica na Escócia, tema já tratado à exaustão em filmes de TV norte-americanos, em geral de baixa qualidade.
A família do presidente da empresa aparece no enredo, ligada de diferentes formas à trama.
Aconselho.

domingo, 27 de maio de 2012

A "caserna dos zés"

Acordo com as galinhas. A vida nos corredores só se anima mais tarde com as rotações de enfermeiros, auxiliares e médicos. Começo as caminhadas do dia - são quatro que no conjunto perfazem os 4 km. Antes disso uns copos de água para adiar a fome. Acabo e tomo o meu pequeno almoço no quarto às sete. O pequeno almoço a sério só virá pelas nove. Até lá, leio,vejo notícias na net e vou ao duche.
Antes das nove já os meus companheiros do internamento de cardiologia se sentam à volta da mesa  das refeições e as conversas e a boa disposição vão-se soltando. Nenhum de nós está ali por boas razões mas isso não se nota.
O quarto em frente ao meu é a "caserna dos zés": em quatro camas três são zés. Eles assim o alcunharam. Também lá está o Ilídio, do Porto, que erradamente não foi enviado para S. João. Não tem família e assim os amigos  não o vêm visitar. Depois temos o José Gerreiro, alentejano, conterrâneo da minha mãe, de S. dasMartinho das Amoreiras (Odemira). É o mais bem diposto. Um outro Zé é do Zambujal e um outro de Alcobaça. Doutro quarto junta-se ao grupo o António, também do concelho de Loures, o campeão dos aparelhos colocados em apoio do coração. Há quatro anos que caminha para Santa Maria. Toda a gente de Cardiologia o conhece e acarinha. Todos os restantes são gente de vida de trabalho com muitas estórias, na maior parte sobre outros temas que não a saúde (aqui  o grupo tem um extenso rol de operaçõe ao coração., próteses, pacemakers, by-passes e cateterismos qe acaba por dar motivo de conversa...).
Uma boa parte do dia é passada com eles.
Mas a hora mais esperada é a da visita da minha mulher, a Isabel, o grande pilar da nossa família, a mulher e o amor da minha vida.
A forma como somos tratados por todo o pessoal é de cinco estrelas e isso ajuda muito ao estado de espírito. Nenhum dos internados está acabrunhado e todos falam na vida a seguir. E arrasam a políitica deste e de anteriores governos...Agora vou ver o telejornal-.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pinote

Era 5ª feira e a lota estava preparada para receber o pescado.


Foram doze os barcos que partiram, doze os que regressaram. Nem sempre era assim.

O "Amor de mãe" abriu as redes na praia e o peixe saltava. Era a cavala, que pouco se vendia, a não ser as de maior porte.

A canalha pulava com sacos de plástico e empurrões a disputar as cavalas desprezadas.

Alguns eram verdadeiros heróis da faina quando corriam para a mãe, esganiçados à espera dum louvor

"Ó mãe, temos peixe para hoje e para congelar. Achas que chega?"

Respondia-lhe ela "Ai queres a medalha? Assim também eu! Quem deu ao litro foi o Zé da Chica mais os seus homens. Mas deixa lá ver isso."

E separava-os em sacos mais pequenos. Estas cozem-se ou escalam-se no fogareiro. Estas aqui dão para uma caldeirada mas temos que ir à sardinha.

Olha, Pinote, esses aí são tão pequenos que só mesmo para farinha. Tens que os dar para o avô".

"Mas falta a sardinha. Vai lá vêr se convences o Zé".

O gaiato não se fez esperar. Correu e agarrou-se às grandes botas do Zé. A mãe via-o gesticular com o pescador, a quem ela tinha dado de mamar por insuficiência dos peitos da D. Josefa. Mulher do bairro, como eles, aspirou a outros caminhos para o filho. Mas o Zé seguira a inclinação dos outros miúdos e entregou-se ao mar e ao pescado. Depois de grande discussão em que ouvia "Diz lá à tua mãe que se quer sardinha paga-a. Por esta passa, toma lá..." O Pinote levantou a camisa e fechou a sardinha nela como se um saco fosse. O Zé entregou-se a outras tarefas e a levar o peixe de tractor para a lota. E já o Pinote enchia um saco de plástico caído com uma segunda dose, desta vez roubada.

Ala que se faz tarde, pareciam dizer as pernas correndo, num equilíbrio difícil, para o pé da mãe.

A tarde já caíra e o Pinote de sacos às costas seguia ao lado da mãe mas com um ar triunfante. Passou pela Bela, ex.namorada que se convencera com as falinhas mansas de um betinho, e atirou-lhe à cara "O que achas? O teu Francisquinho era capaz disto?".
Jantaram e o Pinote contou histórias fantásticas ao pai até cair no seu colo.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Recordando a recente homenagem a Adão Barata

                                    (in Avante!)

domingo, 20 de maio de 2012

Timor-Leste: dez anos de independência e algumas memórias

A passagem dos 10 anos da independência de Timor-Leste recorda-me a viagem que lá fiz em Maio de 2000, integrando uma delegação de todos os partidos da CML que aí foi proceder à inauguração de uma série de equipamentos construídos com a solidariedade de todos os trabalhadores da CML.
Aí revi  Mari Alkatiri,dirigente da Fretilin, o maior partido timorense, o dirigente que me pareceu  ser o mais qualificado para a situação do novo país. Viria a ser 1º Ministro mas os entendimentos de Xanana e Horta com sectores ligados a interesses estrangeiros que visavam a produção de petróleo provocaram divisões que geraram novos e graves conflitos
Ficam aqui  palavras dev Alkatiri ditas ao Público e RTP-1 e editadas no dia de hoje.

"Não há uma linha estratégica para o país e para o combate à pobreza"
"Dez anos depois o país continua sem azimute. Vive numa solução de facilitismo com base no dinheiro fácil do petróleo e sem um plano claro de desenvolvimento"
" Em vez de se semear o dinheiro do petróleo, está-se a enterrar o dinheiro em projectos megalómanos feitos por estrangeiros que levam o dinheiro para fora do país"
"Por cada dólar investido, 70 cêntimos vão para fora. Dos 30 cêntimos que ficam, só beneficiam 20% da população. E os pobres ficam cada vez mais pobres"
"A única transparência que existe aqui é a da corrupção que é evidente para todos". 

Delegação CML com cooperantes e GNR


Com a mascote do batalhão no heliporto




No heliporto das montanhas e entregando
mochilas a estudantes fruto solidariedade
da J. Freguesia de Carnide



Com o administrador até à independência,
Sérgio Vieira de Mello


Na inauguração dos equipamentos

sábado, 19 de maio de 2012

Os polvos

Nas últimas dezenas de anos a banca suíça, aparentemente fechada aos olhos do mundo, teve os olhos bem postos neste.
Tudo o que foram fortunas para fugirem aos controlos nacionais, para serem lavadas provenientes de actividades criminosas, para fugirem aos impostos, para serem passadas em off-shores, lá caíram. Os gestores de contas ou de fortunas deram um aspecto mais personalizado e sedutor na relação com os depositantes. Muitos deles passaram a trabalhar autònomamente criando este tipo de empresas das quais uma foi agora desmantelada pelas autoridades portuguesas, aparentemente por denúncia de Duarte Lima.

Os portugueses que estão a ser vítimas da agressão da austeridade gostarão de saber o nome dos cerca de cem homens de "negócios" e "políticos" que eram clientes da Akoyes. E importa não esquecer que esta não é seguramente a única estrutura deste tipo que por aí funciona

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Dia 26, sair à rua com o PCP

Pravda fez 100 anos de vida

Jornal do Partido Comunista da Federação Russa, o Pravda, assinalou o seu centenário com manifestações culturais e políticas

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Um mundo sem trabalhadores é impossível,

um mundo sem capitalistas é necessário."



Federação Sindical Mundial
(na saudação do 1º de Maio deste ano)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Para que ninguém esqueça que houve um Primeiro-Ministro em Portugal que, com convicção, foi capaz de dizer isto

"Estar desempregado não pode ser um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma. Tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida. Tem de representar uma livre escolha, uma mobilidade da própria sociedade."

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Paisagem


de João Hogan (1914-1988)

Municipalização das escolas, o golpe da Guiné-Bissau e mais um manifesto

1. O PSD da Câmara de Sintra quer anexar as competências no que respeita à gestão do pessoal não docente e à construção e reparação de escolas básicas e secundárias e admite que a municipalização da educação até este grau de ensino é um objectivo. Nada diz sobre contrapartidas nem revela como é isto compaginável com a debilidade financeira da maioria dos municípios ou com o que se passa com a Lei dos Compromissos. Os sindicatos da função pública naturalmente receiam o que se passará com o pessoal não docente, sujeitos a mais de trezentas tutelas diferentes, tantas quantos os municípios.

2. Os golpistas da Guiné-Bissau estão para ficar? Era o que faltava que os presidente da república e o 1º ministro, eleitos democràticamente num quadro constitucional definido, não retomassem funções, ficando a solução nas mãos dos golpistas militares e civis, como Kumba Ialá. Para que a Guiné- Bissau continuasse a ser um narco-estado de que esses títeres continuariam a ser os grandes beneficiados.

3. Mais uma vez se está a constituir um movimento agregador de esquerda (para uma esquerda livre) talvez por mimetismo com uma situação diferente ocorrida em França. No manifesto fundador diz-se que ele "é uma iniciativa política de pessoas livres, unidas pelos ideais da esquerda e pela prática democrática. Aberta a todos os cidadãos, com ou sem partido.".
Dos seus apoiantes e iniciadores da idéia está bem representado o PS, pessoas que se afastaram do PCP e independentes.
Não sei se estas pessoas "livres, unidas pelos ideais de esquerda e pela prática democrática" se consideram no universo das esquerdas as únicas que se podem reclamar desse estatuto, o que seria um maniqueísmo infantil. O nome do manifesto "Para uma esquerda livre", pressupõe que há esquerdas que o não são
Lá estão muitas pessoas que respeito e que seguramente estão lá por convicções que partilho. Mas também estão alguns habituais anti-comunistas retorcidos.
Vamos ver o que o futuro lhes reserva: se o de novo reforço para uns próximos Estados Gerais do PS ou como incubadora de outros factos políticos...

A morte de Orfeu


Do pintor suíço Felix Valloton (1865-1925)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Quem não se mexe, não sente as cadeias"


Róza Luksemburg
economista e revolucionária
germano-polaca, 1871-1919

Wagner e Tchaikovsky ontem na Gulbenkian.

Ontem a noite transportou-nos na música de Richard Wagner pela Orquestra Gulbenkian, dirigida pelo maestro russo Kirill Petrenko.
Com boa interpretação na primeira peça, "Idílio de Siegfried" , de Wagner, e uma excelente interpretação da bela e complexa "Abertura-fantasia", de Romeu e Julieta de Tchaikovsky, a nossa atençao foi, porém especialmente atraída pela excelente cena final do 3º acto da ópera "Siegfried", de Wagner, com a soprano austríaca Anna-Katharina Behnkeda, no papel de Brünnhilde, e o tenor norte-americano Scott MacAllister, no papel de Siegfried.
Orquestr Gulbenkian
Neste 3º acto, Siegfried e Brünnhilde encontram-se, depois de Siegfried ter destruído a lança de Wotan, na qual estavam inscritas as runas que regiam o Universo, acto simbólico que representava o fim do domínio dos deuses e a libertação do mundo liderado pelos homens.Ela liberta-se da condição de valquíria, semi-deusa, e passa a sentir-se mulher com os desejos resultantes de um impulso sexual novo e apaixona-se por Siegfried.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A esquerda, a austeridade e a União Europeia


Não só os resultados eleitorais na Grécia e na França, mas sobretudo o confronto cada vez maior entre a desumanidade dos pactos de agressão e a sua rejeição pelas populações de uma série de países, que estão na origem desses resultados, está a mudar quadros políticos. A crise muito alargada do capitalismo também.

Difícil seria conceber que este descontentamento levasse partidos dos "arcos governativos" a recauchutarem-se, mantendo formulas de austeridade renegociadas e da União Europeia na mesma, ou remetendo estas fórmulas para movimentos, como tubos de escape que impeçam as rupturas necessárias.

Nalguns países já em marcha, noutros em preparação, alguns destes movimentos serão de saudar como forma de dar corpo ao descontentamento mas transportam esse risco. Estejamos atentos ao que os seus dirigentes, atraídos para a "área do poder", farão.

Por aqui Mário Soares já deu o sinal para o PS ou para outras formas de federação de descontentamentos. Não se coibindo de propor que se rasgue o pacto da troika, depois de ter sido seu apoiante, contando com algum esquecimento de cabeças que acham que ele foi (é) um dos grandes obreiros da adesão à CEE, da contra-revolução e do esvaziamento da democracia.

Penso, meus amigos, que não podemos perder este encontro com a História, deixando arrastar na podridão um capitalismo que se esgotou e que é um cancro cada vez mais grave para a democracia política, cultural, social e económica.

Não insistam em tiros no pé nem na confusão entre sectarimo e integridade quando se referem aos comunistas.

O tempo é de acção (de acções) e não de criação de novas ilusões.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Os principais títulos da semana na voltairenet.org


A Síria, centro da guerra do gaz no Próximo Oriente
Golpe de estado do Qatar no Koweit falhado
50 milhões de rublos para quem prender Putin
O general Mood e a actual situação de segurança na Síria
A revolta dos generais israelitas contra o obscurantismo israelita
Acertos decontas no Líbano

Um indisfarçável tique de classe...

O debate "Prós e Contras" de ontem na RTP foi esclarecedor a diversos títulos.
De um lado a esquerda consequente no ponto de vista da ideologia e projecto e do papel do homem e dos oprimidos como questões fundamentais: Jerónimo de Sousa e Avelãs Nunes.

Do outro uma direita "cosmopolita" com ar de "se dar bem com todos", que fala do passado como se não fosse responsável por ele, que incorpora críticas da esquerda ao pacto cozinhado com a troika, por hoje serem universalmente reconhecidas, mas sem dar um passo de como alterar de alto a baixo essa operação, que à falta de argumentos se arrasta, numa cena de geriatria imbecil, recorrendo uma vez mais(!!!) ao PREC, à morte do comunismo, bla, bla, bla, e revelando uma insensibilidade social, num mal disfarçado tique de classe: António Capucho e Rui Machete

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Ainda a Associação de Estudantes do IST


 

Faltavam 5 anos para o 25 de Abril.
As lutas etudantis no IST e nas 3 academias não
iriam parar e dariam um contributo
importante para a mudança revolucionária.

A AEIST era a Associação de Estudantes mais forte do país, com bons recursos próprios para apoio aos estudantes do IST e às suas lutas pela autonomia universitária, a liberdade das associações de estudantes e o combate à ditadura fascista.

No próximo sábado, dia 12, realiza-se mais um almoço anual de antigos dirigentes, empregados e colaboradores da AEIST do período entre 1956 e 1974.

Connosco estarão o Reitor, o presidente do Conselho Directivo do IST, e actuais dirigentes da AEIST.

O almoço realiza-se no restaurante do edifício de Matemática, pelas 13 h.

Franceses e gregos expressam rejeição dos pactos de agressão

Independentemente de uma leitura mais detalhada destes resultados, importa não deixar escapar o essencial.

Na França e na Grécia o voto condenou as políticas de austeridade, de recessão, de retrocesso na economia, de reduções salariais e de outros direitos, de perdas significativas na soberania.
Sabemos que os resultados eleitorais não conduzirão linearmente nesse sentido.
Num caso e noutro podem formar governo partidos que foram obreiros desta política de desastre.
Mas o abanão foi grande e as consequências não se ficarão por aqui.
Outra política é necessária como se referiu no encontro de partidos comunistas e operários cuja declaração , anterior às eleições, aqui pode ler

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Frase de fim de semana, por Jorge

"Provam as estatísticas
que as estatísticas não provam nada"

Millôr Fernandes 
jornalista e escritor brasileiro, 1923-2012