sábado, 30 de março de 2013

sexta-feira, 29 de março de 2013

"A União Europeia morreu em Chipre" por Viriato Soromenho Marques- DN 26-03-2013



"Quando as tropas norte-americanas libertaram os campos de extermínio nas áreas conquistadas às tropas nazis, o general Eisenhower ordenou que as populações civis alemãs das povoações vizinhas fossem obrigadas a visitá-los. Tudo ficou documentado. Vemos civis a vomitarem. Caras chocadas e aturdidas, perante os cadáveres esqueléticos dos judeus que estavam na fila para uma incineração interrompida. A capacidade dos seres humanos se enganarem a si próprios, no plano moral, é quase tão infinita como a capacidade dos ignorantes viverem alegremente nas suas cavernas povoadas de ilusões e preconceitos. O povo alemão assistiu ao desaparecimento dos seus 600 mil judeus sem dar por isso. Viu desaparecerem os médicos, os advogados, os professores, os músicos, os cineastas, os banqueiros, os comerciantes, os cientistas, viu a hemorragia da autêntica aristocracia intelectual da Alemanha. Mas em 1945, perante as cinzas e os esqueletos dos antigos vizinhos, ficaram chocados e surpreendidos.

Em 2013, 500 milhões de europeus foram testemunhas, ao vivo e a cores, de um ataque relâmpago ao Chipre. Todos vimos um povo sob uma chantagem, violando os mais básicos princípios da segurança jurídica e do estado de direito. Vimos como o governo Merkel obrigou os cipriotas a escolher, usando a pistola do BCE, entre o fuzilamento ou a morte lenta. Nos governos europeus ninguém teve um só gesto de reprovação. A Europa é hoje governada por Quislings e Pétains. A ideia da União Europeia morreu em Chipre. As ruínas da Europa como a conhecemos estão à nossa frente. É apenas uma questão de tempo. Este é o assunto político que temos de discutir em Portugal, se não quisermos um dia corar perante o cadáver do nosso próprio futuro como nação digna e independente.

Frase de fim-de-semana, por Jorge


"Vai e não voltes nunca mais... nunca mais."

                                                                             

palavras do Cardeal, 
libertando e despedindo Jesus
O Grande Inquisidor,
cap.5 de Os Irmãos Karamazov 
F. Dostoiévski

A guerra suja do "Ocidente" contra a Síria

Há meses que os observadores mìnimamente sérios abandonaram as teses dos "rebeldes" ou da equidistância entre as partes no conflito. Nos últimos dias o bombardeamento por tais "rebeldes" da

Faculdade de Arquitectura de Damasco matou 15 estudantes. A maioria dos anteriores bombardeamentos são feitos por estes "rebeldes" armados pelos EUA, a Fraça e a Inglaterra para além de alguns emiratos árabes e o apoio da Turquia. Não conseguiram destruir a Síria, Assad continua no seu posto, a esquerda
que antes lhe não era afecta, ajuda a unir o povo contra a agressão bárbara...
É neste quadro que causam repulsa as declarações há dias pelo comandante supremo da NATO na Europa, chamando nós aqui a atenção para a leitura de um comunicado do CPPC sobre a questão.




Contra uma agressão da NATO à Síria

Foi com profunda preocupação que o CPPC tomou conhecimento das recentes declarações do Almirante da Marinha dos EUA, James Stavridis, ao mesmo tempo comandante supremo da NATO na Europa, sobre uma planeada invasão da Síria.

Em resposta a questões levantadas pelo Senado norte-americano, Stavridis afirmou que vários países membros da NATO estavam a considerar uma intervenção na Síria semelhante à levada a cabo, há dois anos, sobre a Líbia, ao mesmo tempo que reconheceu estarem em discussão um conjunto de acções contra a soberania e integridade territorial da Síria, que incluiriam a imposição de uma zona de exclusão aérea e uma intervenção militar terrestre.

Há muito que os Estados Unidos da América e as principais potências da União Europeia intervêm na Síria, nomeadamente através do financiamento, treino e armamento dos diversos grupos que aí actuam, no âmbito do chamado «Exército Livre da Síria», e que têm procurado – e em certa medida conseguido – desestabilizar aquele país do Médio Oriente. O objectivo, ilegal à luz do Direito Internacional, é a mudança da natureza do poder na Síria, para um governo que mantenha intocados os interesses dos EUA e da UE naquela sensível região do globo.
O «modelo» seguido é em tudo semelhante ao da Líbia: patrocínio da dissidência para depois proceder à intervenção, em nome da «democracia» e dos «direitos humanos».

Mas se a Líbia serve de exemplo para algo é para todos compreendermos melhor as consequências de tal actuação: nesse país do Norte de África, durante os escassos sete meses da agressão da NATO, morreram 30 mil pessoas e 50 ficaram feridas; dezenas de milhares de refugiados; as anteriormente avançadas estruturas sociais ficaram destruídas e a instalação no terreno de grupos ligados à Irmandade Muçulmana e à Al-Qaeda, fortemente armados pela NATO, que dominam hoje aquele país.

Face a isto, o CPPC exige o respeito pela Constituição da República Portuguesa e considera que o nosso País, enquanto Estado membro da NATO, não pode deixar de assumir as suas responsabilidades, impedindo, por todas as vias ao seu alcance, que estas ameaça se venha a concretizar. As autoridades portuguesas devem agir, sim, no sentido de uma solução que ponha fim à violenta agressão não declarada que desde há dois anos massacra o povo sírio.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Façam o mundo melhor, ouviram? Não me obriguem a voltar cá! - Mário Sacramento, nos 44 anos da sua morte


Mário Sacramento nasceu em Ílhavo, arredores de Aveiro, filho de Rita de Morais Sarmento e de seu marido Artur Rasoilo Sacramento. Realizou os seu estudos secundários no Liceu de Aveiro, onde foi um activista estudantil, razão pela qual chegou a estar preso. Matriculou-se em Medicina na Universidade de Coimbra, mas apenas concluiu os seus estudos depois de ter frequentado as escolas médicas do Porto e de Lisboa (onde se licenciou em 1946). Obteve em Paris uma especialização em gastrenterologia (1961).
Desde muito cedo colaborou em diversos periódicos entre os quais O Diabo, o Sol NascenteVértice e o Diário de Lisboa.
Observador interessado do panorama literário português, Mário Sacramento publicou diversos ensaios sobre a obra de escritores como Eça de QueirozMoniz BarretoCesário VerdeFernando Namora e Fernando Pessoa. A qualidade dos seus ensaios granjeou-lhe a admiração da intelectualidade portuguesa do tempo.
Ainda estudante, Mário Sacramento integrou-se na tradição do republicanismo democrático português, aderindo ao movimento de resistência democrática ao regime fascista. Militava no Partido Comunista Português
Foi membro da comissão central da organização de juventude do Movimento de Unidade Democrática (o MUD Juvenil), o único movimento oposicionista tolerado pelo regime, no qual se congregavam a todas as correntes da oposição democrática. Nessas funções ganhou grande notoriedade, transformando-se numas das figuras de referência da resistência.
A sua actividade de crítica literária guindou-o ao papel de principal teorizador do movimento neo-realista em Portugal. Participou em múltiplas conferências sobre literatura e publicou uma extensa obra de crítica e de análise literária, que inclui ensaios marcantes, entre os quais Eça de Queirós, uma Estética da Ironia (1945, Prémio Oliveira Martins),Fernando Pessoa, Poeta da Hora Absurda (1959), Fernando Namora, a Obra e o Homem (1967) e Há uma Estética Neo-Realista? (1968).
Foi secretário-geral, e principal obreiro, da comissão promotora do Primeiro Congresso Republicano, um fórum da oposição democrática que se reuniu em Aveiro no ano de 1957 e liderou a organização do Segundo Congresso Republicano, também realizado em Aveiro, embora tenha falecido pouco antes da sua realização em 1969. Uma parte importante da sua obra de ensaio literário está reunida nos três volumes, parcialmente póstumos, de Ensaios de Domingo (1959, 1974 e 1990).
Uma parte importante do seu pensamento político e filosófico está reunido no volume Frátria, Diálogo com os Católicos (1971), obra que reuniu os artigos que escreveu entre 1967 e 1969 sobre o papel dos católicos e do movimento eclesial na evolução política portuguesa.
Mário Sacramento foi por cinco vezes detido pela PIDE, a polícia política do salazarismo, a primeira das quais em 1938, quando era membro da associação de estudantes do Liceu de Aveiro, e a última em 1962.
Mário Sacramento é lembrado numa das mais importantes artérias da cidade de Aveiro, sendo ainda patrono de um dos principais estabelecimentos de ensino daquela cidade.
Na foto seguinte, homenagem em Ilhavo (Aveiro), promovida pelo PCP, estando na mesa Armando Gouveia, Óscar Lopes, Denis Jacinto, Joaquim Namorado, Cecília Sacramento, José Bernardino, Nelson Ribeiro, João Sarabando e Carlos Lopes. 

Pezarat Correia sobre Álvaro Cunhal


No passado sábado, 23 de Março, numa Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa completamente lotada, teve lugar uma sessão cultural evocativa da figura de Álvaro Cunhal, que inicia um ano dedicado às comemorações do centenário do seu nascimento. Não pertencendo nem nunca tendo pertencido ao Partido Comunista Português (PCP) situo-me, porém, no grupo daqueles que consideram que o PCP se inscreve na área política que gostariam de ver o povo português escolher para liderar os destinos do país. Aqui fica o meu registo de interesses para que não haja equívocos com esta nota no GDH.
Com muito gosto aceitei o convite que me dirigiram para integrar a Comissão Promotora e estive presente na Aula Magna onde, entre muitas vantagens, beneficiei da oportunidade de ouvir mais um magnífico discurso do reitor da Universidade, professor Sampaio da Nóvoa. Guardo de Álvaro Cunhal, do cidadão, do resistente e precursor do 25 de Abril, do político, do estadista, do intelectual multifacetado, um profundo respeito. Particularmente agora, quando as figuras menores que têm passado pelo poder sem honra e sem dignidade vêm aviltando a imagem dos políticos e da democracia – e este é dos pecados maiores que lhes devem ser cobrados –, é justo e é pedagógico, evocar alguém que se empenhou profundamente na política sem mácula, sem cedências susceptíveis de violarem os princípios, os valores, os compromissos. Álvaro Cunhal era uma referência para quantos, independentemente dos sectores ideológicos e partidários em que se situassem, cultivavam o rigor na gestão da polis, na política, porque era de uma enorme exigência. Mas começava por ser exigente consigo próprio. Concordasse-se ou discordasse-se dele, confiava-se nele.
Recordo que, quando partilhei algumas responsabilidades no país e, com os meus camaradas, discutíamos ou analisávamos a situação política, o sentimento generalizado em relação a Álvaro Cunhal era o de que se tratava de um homem de carácter, credível no que dizia,fiável naquilo com que se comprometia. Aí pela década de 90, quando eu já estava reformado da vida militar e Álvaro Cunhal já deixara a liderança do PCP, encontrávamo-nos, não com muita frequência mas com alguma regularidade, por vezes com mais dois ou três amigos. Eram conversas privadas, interessantíssimas, trocas de impressões passando em revista as conjunturas nacional e internacional. E Álvaro Cunhal gostava de frisar o que mais o marcara quando teve de lidar com os militares na política no período revolucionário e nos anos em que perdurou o Conselho da Revolução e um militar na presidência da República: eram homens de palavra. E isso fora decisivo na manutenção de relações de respeito mútuo.
Há um aspecto que não posso deixar de registar. Hoje, quando a União Europeia navega em águas agitadas sem rumo perceptível e em que os chamados países periféricos sofrem as consequências de decisões que parecem tudo menos inocentes, é oportuno recordara voz lúcida de Álvaro Cunhal que na altura muitos acusaram de “velho do Restelo”. Quando os responsáveis políticos embandeiravam em arco com a adesão à Comunidade Económica Europeia e a entrada no “clube dos ricos”, quando a maioria do povo português embarcava na euforia da festa das remessas dos fundos estruturais e se empanturrava em betão a troco do abandono da agricultura, da extinção da frota pesqueira, do esvaziamento da marinha mercante, do encerramento de indústrias de base, Álvaro Cunhal alertava e repetia: os portugueses irão pagar isto. Era ouvido com cepticismo. Não me excluo, a palavra de Álvaro Cunhal levava-me a reflectir, mas deixava-me dúvidas.
Álvaro Cunhal tinha razão. Os portugueses estão a pagar isso.

Prever ou navegar à vista?


Crise sistémica global 2013 
A Grande Névoa Estatística obriga a passar da navegação por instrumentos para a navegação à vista 
– Armadilhas, referências e grelhas de leitura

GEAB (Boletim de Previsões na Europa Global)  http://www.leap2020.eu/

Nas tendências Up&Down apresentadas no número de Janeiro, nossa equipe havia colocado em Down "Os indicadores económicos" com os seguintes argumentos: "Entre indicadores económicos de curto prazo que descrevem apenas o que se passou na semana, mais os que são manipulados pelos governos a fim de reflectirem a mensagem que desejam transmitir e ainda outros que já não têm pertinência no mundo actual, a realidade económica é pelo menos muito mal descrita, até mesmo travestida, por estes números que no entanto são seguidos pelas empresas, pelos bancos e pelos países. Esta névoa estatística impede uma navegação fiável, apesar de isto ser fundamental nestes tempos de crise". Quer seja o fruto de manipulações intencionais por parte dos actores no seu esforço de sobrevivência ou o resultado da extrema volatilidade das bases de cálculo (como o valor das moedas e do US dólar, muito particularmente), esta tendência confirma-se efectivamente. 

Indicadores fiáveis e pertinentes sobre a situação económica, política e social mundial são contudo indispensáveis a fim de atravessar a crise sem contratempos. Mas aqueles utilizados pelos governos ou as empresas no melhor dos casos são inúteis no período actual de remodelação profunda e, no pior, nefastos. Eis porque a nossa equipe decidiu neste número do GEAB pormenorizar quais os indicadores que reflectem a situação real e quais são enganosos. Este trabalho permite sublinhar igualmente que nem sempre os próprios indicadores são falseados, mas sim o modo como são interpretados ou o estudo das razões que os fazem evoluir. 

Num mundo onde circulam tantos "activos fantasmas" ou dívidas duvidosas, assim como produtos derivados opacos ou sem valor, as finanças estão cada vez mais desconectadas da realidade. Os indicadores financeiros (cotação das bolsas, nomeadamente) devem portanto ser interpretados com a maior precaução como veremos mais adiante. Da mesma forma, o folhetim semanal da "vida económica" mantém-nos confiantes tanto com o anúncio dos números da "confiança", do "sentimento", como com os discursos dos bancos centrais... Mas não é a este ritmo que evoluem os dados fundamentais e a realidade não se 
ontudo, mesmo este "embelezamento" a priori indubitável deve ser posto em perspectiva. Onde está o recorde quando o curso do Dow Jones é comparado ao ouro, medida sob certos aspectos mais crível que o US dólar? 
Ou como se rmodifica com o  método de Coué  ; que consiste em apegar-se a todos os dados de ordem psicológica. Estas informações de curto prazo antes escondem os males profundos da economia do que influem realmente sobre a realidade como pretendem, particularmente neste período de grande crise.  

Quanto às verdades estatísticas, o modo de cálculo destes números por vezes não reflecte inteiramente a verdadeira paisagem económica: assim acontece, por exemplo, com os números do desemprego e da inflação, dois critérios bem ancorados na realidade e que desempenham um papel importante. Mas, como diz a expressão popular: "Como não pôde baixar a febre, partiu o termómetro". E toda a questão é então decifrar as estatísticas para obter uma visão mais precisa, como fazemos mais abaixo para os Estados Unidos.

Além das estatísticas que descrevem a economia real (emprego, consumo, volume de comércio internacional, consumo de energia, etc) e a parte de virtualização da economia (desindustrialização, endividamento), é igualmente interessante considerar a realidade social e políticas por indicadores que reflectem a pobreza, a demografia, os conflitos, o bloqueio político, etc.

Finalmente, certos indicadores gerais como o Produto Interno Bruto (PIB) ou a cotação das moedas são, evidente de seguir – mas mantende em mente que o primeiro pode ser artificialmente dopado pela parte "virtual" da economia (activos apodrecidos dos bancos, por exemplo, ou acções dos bancos centrais), e a segundo temporariamente perturbada pela especulação, se bem que a longo prazo ainda reflicta bem o estado relativo das economias dos diferentes países.

Em resumo, trata-se de conservar um olhar crítico sobre as estatísticas quotidianas que nos são servidas. Na parte seguinte aplicaremos este preceito sobretudo ao caso dos Estados Unidos, pois a distorção ali é a mais caricatural e porque para a Europa este exercício é efectuado a cada dia pelos media anglo-saxónicos.

É mais importante encontrar as boas referências e eliminar as ilusões uma vez que assistimos a uma verdadeira mudança de paradigma estabelecido pelos Estados Unidos ou, por outras palavras, ao afundamento do mundo que eles criaram. Desde há algumas décadas eles de facto mantinham sua categoria unicamente porque se situavam acima das regras do jogo mundial graça à proeminência e ao carácter incontornável da sua moeda: o dólar. A colocação em causa desta vantagem constrange-os a tornarem-se uma potência como as outras. Isso necessita um ajustamento considerável que reflicta, por exemplo, o défice comercial abissal, a desindustrialização ou o endividamento do país, com consequências imensas sobre a sua capacidade de influência e sobre o nível de vida dos americanos.

Os países da órbita dos EUA, principalmente Reino Unido e Japão, totalmente alinhados sobre os princípios do modelo económico americano e que se aproveitavam da situação privilegiada do patrão, sofrem igualmente. A Europa, próxima do modelo económico estado-unidense, em particular desde a queda do muro de Berlim, mas cujo projecto de integração tinha por objectivo aumentar a independência em relação aos Estados Unidos, é em parte arrastada no turbilhão, mas dispõe de características estruturais que lhe dão ferramentas para poder desenredar-se. Dito isso, em 2013, não só as potências ocidentais como o mundo inteiro será sacudido, incluindo as novas potências representadas pelos BRICs nos quais começam a surgir bolhas, provocadas pela utilização das injecções de dinheiro fácil do Fed na economia estado-unidense e a seguir na mundial  (1)
 .  

A situação europeia está longe de ser perfeita, com um desemprego elevado, um crescimento fraco (ou negativo) e, agora, uma crise política que mina o arranque da confiança dos mercados no euro. Contudo, os países europeus não têm de praticar um ajustamento tão doloroso quanto os Estados Unidos. No caso da Eurolândia, a adaptação necessária, longe de estar terminada, ainda assim está encetada. Recordemos que segundo a nossa equipe, a UE não tem futuro sob a sua forma actual, constantemente bloqueada pelos adiamentos britânicos, minada por uma ampliação descontrolada em grande parte pilotada por Washington, paralisada por instituições esclerosadas de Bruxelas e a sofrer além disso de um défice democrático cruel. Uma Eurolândia poderosa, integrada naturalmente pela moeda comum, flexível e desembaraçada dos pesos mortos, constitui o novo motor capaz de insuflar as dinâmicas necessárias para resolver os problemas europeus quer sejam de ordem financeira, económica, social ou política – neste sentido, ela é a única solução com futuro neste continente. Como analisamos mais adiante, estas dinâmicas, antecipadas pelo LEAP e que permitiram vencer a tempestade que sobre ela se abateu em 2010-2012, vão agora, no momento em que a crise do euro se torna uma crise política, permitir enfrentar o grande desafio político da integração europeia: sua democratização (uma democratização sem a qual ela não teria, apesar de todos os seus trunfos, qualquer futuro).

Finalmente, antes de apresentar nossas recomendações e o GlobalEuromètre, proporemos uma análise da situação geopolítica na Coreia, novo campo de batalha entre a China e os Estados Unidos. 
Mercados financeiros: um indicador a ler ao contrário  

Começamos pelo símbolo da retomada americana, a bolsa, que mostra resultados insolentes: os índices Dow Jones, S&P500 e Nasdaq bateram os seus recordes de 2008, ou estão muitos próximos disso  (2)
  . A única razão desta alta é clara e é mesmo reconhecida oficialmente  (3)  : as bolsas devem a sua saúde unicamente ao Fed cujas injecções de liquidez vêm inchar artificialmente as cotações. Trata-se portanto de um indicador manipulado e certamente não reflectindo a economia real, sendo o objectivo recuperar confiança pela alta das cotações e assim relançar o consumo. Não é seguro que este objectivo seja atingido um dia no momento em que a confiança dos consumidores permanece inferior às mais baixas do período 1995-2007 (sem contar que o índice de confiança a seis meses no futuro ainda está 7 pontos mais baixo  (4) .

Rejubilar com os desempenhos da bolsa quando os volumes estão 40 a 50% mais fracos que antes da crise e tão fracos que só o casino da especulação faz evoluir as cotações? 

Como se vê, a cotação das bolsas está completamente desligada da economia real e portanto não é mais um indicador pertinente. É esclarecedor ver que a distorção é maior nos Estados Unidos, ao passo que na Europa o índice Euro Stoxx 50 estagnou desde 2009 assim como numerosos outros índice nacionais europeu (CAC40 por exemplo) e que o índice de Shangai baixa desde há mais de dois anos (!) apesar do dinamismo chinês. A ausência de pertinência deste indicador também é ilustrada pela ascensão súbita do Nikkei (+40% em menos de quatro meses) no momento em que o Japão está muito mal com dívidas insustentáveis e um défice comercial elevado desde há quatro anos. A cotação de bolsa, se é um índice de alguma coisa, é a do grau de virtualização da economia, da importância do fenómeno especulativo e do grau de endividamento de um país. A equipe do LEAP nunca deu grande importância aos movimentos de bolsa. Contudo, de certa maneira, poderíamos com legitimidade ler os seus movimentos em sentido inverso do que se supõe que digam: que quanto mais altos estão os mercados bolsistas, mais a situação económica real é catastrófica – e o inverso.  

Os números assim dissecados no resto do artigo são: o emprego, as moedas, o imobiliário, a balança comercial e o consumo. 
15/Março/2013
Notas 
(1) Fonte: 
Asia Times  , 25/02/2013 
(2) O que não é forçosamente uma boa notícia quando se sabe o que se passou da última vez que as bolsas atingiram estes níveis... 
(3) Fonte: 
The Examiner  , 21/02/2013. 
(4) Fonte: 
Bloomberg  , 01/03/2013. 

Sócrates por detrás dos arbustos

"Não sou responsável, os outros é que são, se eu cá estivesse teria havido uma contra-narrativa que o PS não praticou" poderia ser a síntese da entrevista que os contratadores do ex-primeiro ministro lhe fizeram.
Nem uma palavra sobre o povo português, sobre os seus sofrimentos, sobre a necessidade de colocar essas questões no centro de políticas alternativas.
Como comentador (pro bono, como fez questão de referir como se isso fosse necessário fazere ou ser relevante) será mais um ex-primeiro-ministro que se junta a outros que desde 76 construíram este nacional-centrismo para, naturalmente, manterem o pensamento único que o tem guiado.
Mas o tempo é outro.

segunda-feira, 25 de março de 2013

A paixão, de Pablo Neruda

















    Na minha pátria há um monte.
    Corre em minha pátria um rio.
    Vem comigo.
    ...A noite sobe ao monte.

    A fome desce o rio.
    Vem comigo.
    Quem são os que padecem?
    Não sei, sei que são meus:
    Vem comigo.
    Não sei, porém me chamam 

    e me dizem: "Sofremos".
    Vem comigo.

    E me dizem: "Teu povo, 
    teu povo deserdado, 
    entre o monte e o                                    
    
rio,com fome e com dores, 
    não quer lutar sozinho,
    te está esperando, amigo."

    Oh tu, a que amo,... 

    grão vermelho de trigo,
    A luta será dura,
    A vida será dura,
    Mas tu virás comigo



Um imenso adeus


Durante algumas semanas não estive convosco. Vou regressar lentamente a esse contacto

quarta-feira, 6 de março de 2013

Chavez: um homem do povo que contribuiu para a unidade da América Latina

Há uns anos Eduardo Galeano incluía uma referência a Chavez no seu mais marcante livro que transcrevemos

"A demonização de Chávez "
por Eduardo Galeano, no livro “As veias abertas da América Latina
Hugo Chavez é um demónio. Porquê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever, mesmo vivendo num país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo.
Eu morei nesse país alguns anos e conheci muito bem o que ele era. O chamavam de “Venezuela Saudita” por causa do petróleo. Havia 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos… Então, chegou um governo, esse governo diabólico, demoníaco, que faz coisas elementares, como dizer: “As crianças devem ser aceites nas escolas com ou sem documentos”.
Aí, caiu o mundo: isso é a prova de que Chavez é um malvado, malvadíssimo. Já que ele detém essa riqueza, e com a subida do preço do petróleo graças à guerra do Iraque, ele quer usá-la para a solidariedade. Quer ajudar os países sul-americanos, e especialmente Cuba.
Cuba envia médicos, ele paga com petróleo. Mas esses médicos também foram fonte de escândalo. Dizem que os médicos venezuelanos estavam furiosos com a presença desses intrusos trabalhando nos bairros mais pobres. Na época que eu morava lá como correspondente da Prensa Latina, nunca vi um médico.
Agora sim há médicos. A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chavez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao inferno. Então, quando for ler uma notícia, você deve traduzir tudo.
O demonismo tem essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte.



Também transcrevemos a posição que o Partido Comunista Português tomou sobre a morte do Presidente Chavez

Em declarações à agência Lusa, Ângelo Alves, da comissão política nacional  do Partido Comunista Português (PCP), disse que foi com "profunda consternação"  que o partido recebeu "a notícia do falecimento do presidente Hugo Chávez",  expressando "os sentimentos de profundo pesar ao povo venezuelano". 
"Aquilo que os comunistas portugueses podem expressar é a sua confiança  de que o povo venezuelano, honrando a memória de Hugo Chávez, saberá defender  as conquistas históricas alcançadas, saberá defender a soberania e a legalidade  constitucional da Venezuela e, com isso, dar continuidade à revolução bolivariana,  que marcou, de forma indelével, mais de uma década de história daquele país  até agora", afirmou. 
Ângelo Alves sublinhou a "personalidade muito vincada, muito forte"  e a "determinação inabalável" de Chávez, considerando que "foi o artífice  da unidade dos trabalhadores e do povo venezuelano em torno de um projeto  que, iniciando o seu trajeto pela afirmação da soberania daquele povo, conseguiu  mudar a realidade de grande parte daquela população". 
"Um artífice tão importante que, neste momento, a nossa palavra é de  profunda confiança nessa unidade e que, por isso, de profunda confiança  no prosseguimento da revolução bolivariana", enfatizou. 
O PCP transmite ao povo venezuelano "e às suas forças progressistas  e revolucionárias as sentidas condolências e os sentimentos de fraternal  solidariedade perante tão dolorosa perda do mais alto dirigente da pátria  e da revolução bolivarianas". 

segunda-feira, 4 de março de 2013

E estivemos muitos, muitos, num mar de exigência e de poesia


RESISTÊNCIA

Como dizer deste país
mais do que na rua
soube dizer o canto?

O cântico
de quem resiste

Por trás do lanho do sonho
que em Portugal persiste
de si mesmo um outro tanto

Maria Teresa Horta

Lisboa, 2 de Março de 2013