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Com
muito gosto aceitei o convite que me dirigiram para integrar a
Comissão Promotora e estive presente na Aula Magna onde, entre
muitas vantagens, beneficiei da oportunidade de ouvir mais um
magnífico discurso do reitor da Universidade, professor Sampaio da
Nóvoa. Guardo de Álvaro Cunhal, do cidadão, do resistente e
precursor do 25 de Abril, do político, do estadista, do intelectual
multifacetado, um profundo respeito. Particularmente agora, quando as
figuras menores que têm passado pelo poder sem honra e sem dignidade
vêm aviltando a imagem dos políticos e da democracia – e este é
dos pecados maiores que lhes devem ser cobrados –, é justo e é
pedagógico, evocar alguém que se empenhou profundamente na política
sem mácula, sem cedências susceptíveis de violarem os princípios,
os valores, os compromissos. Álvaro Cunhal era uma referência para
quantos, independentemente dos sectores ideológicos e partidários
em que se situassem, cultivavam o rigor na gestão da polis, na
política, porque era de uma enorme exigência. Mas começava por ser
exigente consigo próprio. Concordasse-se ou discordasse-se dele,
confiava-se nele.
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Há
um aspecto que não posso deixar de registar. Hoje, quando a União
Europeia navega em águas agitadas sem rumo perceptível e em que os
chamados países periféricos sofrem as consequências de decisões
que parecem tudo menos inocentes, é oportuno recordara voz lúcida
de Álvaro Cunhal que na altura muitos acusaram de “velho do
Restelo”. Quando os responsáveis políticos embandeiravam em arco
com a adesão à Comunidade Económica Europeia e a entrada no “clube
dos ricos”, quando a maioria do povo português embarcava na
euforia da festa das remessas dos fundos estruturais e se
empanturrava em betão a troco do abandono da agricultura, da
extinção da frota pesqueira, do esvaziamento da marinha mercante,
do encerramento de indústrias de base, Álvaro Cunhal alertava e
repetia: os portugueses irão pagar isto. Era ouvido com cepticismo.
Não me excluo, a palavra de Álvaro Cunhal levava-me a reflectir,
mas deixava-me dúvidas.
Álvaro
Cunhal tinha razão. Os portugueses estão a pagar isso.
1 comentário:
MUITO BOM. Que pena ler-se tão mal...
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