sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A triste condição de uma imprensa acorrentada

Confesso que não sou masoquista por ler diariamente jornais. Convivo, como vós, com a subserviência que nega o jornalismo. Raros são hoje os jornais que não são propagandistas e litigantes por parte do governo com terceiros. Ou que não alinham nos fretes dos centros de propaganda internacional de 3ª classe que lhes são servidos empacotados e de chave na mão, ou seja, de fácil copypaste estimulado pelas evidentes cumplicidades dos accionistas com este ou aquele centro de interesses.
O Conselho de Redacção da Lusa, talvez mais imune às pressões hierárquicas que noutros casos sonde é mais fácil o rápido despedimento, denunciou fretes ao governo e a perda de credibilidade que isso pode trazer para o trabalho da agência...


Leio o Público e que me sai hoje?


Manchete "Ministra recua Professores não". Vai-se ao texto e não se vislumbra, a não ser de passagem, e com a folha distribuída pelo ME e reproduzida na página 3, que se trata de uma "simplificação" e não da "suspensão" do modelo de avaliação que levou o Conselho de Ministros a reunir-se solidariamente com a Ministra extraordinàriamente.

Aproveitaram a folha distribuída pelo ME (hoje qualquer lobbie tem tudo pronto de chave na mão para dar lastro à notícia) mas a declaração do PCP de ontem não é referida...


As duas páginas dedicadas à visita relâmpago de Medvedev a Portugal (p. 20/21) são um insulto a um visitante ilustre de um país que está a importar mais de Portugal numa altura em que precisamos de consolidar as alternativas ao efeito da recessão na queda das nossas exportações para os principais parceiros europeus. Ou será que Medvedev vem jantar com Cavaco e Sócrates para alimentar a cegada das alterações dos mandatos presidenciais e das supostas rivalidades Putin/Medvedev? E depois com aquela inteligente analista de serviço de nome Teresa de Sousa a "pôr a Rússia na ordem", em jeito de sabotagem comercial...Com aquela sentença machartyana requentada, digna de credibilidade de off-shore: "Há duas questões essenciais para uma nova relação de confiança com a Rússia: o alargamento da NATO à Geórgia e à Ucrânia(...) e a questão do escudo antimíssil norte-americano". Pois claro!


Fugimos desta e tropeçamos logo noutra na p. 23: "Bispos colocaram a Nicarágua sob a protecção da Mãe Santíssima"...Lá se vai o laicismo e se cai na adoração daquela que será das parcelas da Igreja Católica mais reaccionária de todo o mundo!...Depois lá no meio diz-se que a Frente Sandinista ganhou as eleições (os leitores do Público sabiam?) mas com resultados contestados pelos conservadores derrotados que andam, santificados pelos bispos, na rua à porrada (os leitores do Público sabem o que aconteceu neste período eleitoral e acto eleitoral, as pressões e ingerências deste tipo da Igreja e dos EUA?).


Sob a maldição dos bispos fujo de novo e na p. 43 começo por ler as declarações das associações de produtores de leite a falarem em derrota no acordo de ontem relativo ao leite, integrado na mini-reforma da PAC. Os olhos descansam sobem um pouco e lá está a manchete "Sector leiteiro recebe 100 milhões para apoiar competitividade"...Ora toma, afinal o Jaime Silva é herói por estar a preparar tão bem a nossa produção para que esta possa enfrentar a liberalização total na UE em 2015...Nessa altura um outro Ministro da Agricultura estará a comentar negativamente o desempenho deste mas o jornal fez o serviço na altura própria para, depois, talvez fazer outro se necessário mais adiante...

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