quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A surpresa Khenin

Na semana passada, o deputado comunista Dov Khenin, candidato a presidente da Câmara de Tel-Aviv, criou uma surpresa ao obter 32% dos votos. Para a maioria dos israelitas, Dov Khenin era um estranho. Era conhecido como advogado, com idade de cerca de 50, e pelas suas posições iconoclastas. Dov Khenin tem protestado contra a opressão do povo palestiniano e pelo seu direito de inalienável de organizar um Estado independente. Também defendeu os refuseniks, os soldados que se recusam a prestar serviço nos territórios ocupados, o que lhe valeu uma condenação a prisão.
Membro do Partido Comunista de Israel, um dos poucas organizações que não pratica a segregação entre judeus e árabes, Dov Khenin foi eleito em 2006 para o Knesset. Tem-se distinguido por ter conseguido fazer passar várias iniciativas legislativas nos domínios do ambiente e do bem-estar.

Nas eleições municipais em Tel Aviv, Dov Khenin liderou a lista "Uma cidade para todos" que incluía militantes de esquerda, sindicalistas, ambientalistas, dirigentes de associações de moradores, e até mesmo adeptos de clubes de futebol. A lista fez campanha, nomeadamente pelo direito à plena cidadania dos árabes e para a defesa das condições sociais e ambientais. Começando com sondagens de 2% dos votos, a lista subiu nas sondagens, semana após semana, lançando a preocupação nos dirigentes políticos de outros partidos.

A campanha municipal transformou-se, assim, num debate nacional. Acusado por sectores de "esquerda" e da direita religiosa de ser um traidor à Pátria - ou seja, por se opor a uma certa concepção do sionismo - Dov Khenin sofreu duros ataques. Mas também tem recebido amplo apoio, como o de estrelas da televisão, cinema e do Espectáculo, que se empenharam no apoio à candidatura, nomeadamente através de um spot televisivo. No final, a lista ganhou um terço da votação. Ron Hulda, o prefeito cessante, foi reeleito à tangente com 50,6% dos votos.

Este sucesso é um importante acontecimento político em Israel. Ele mostra que existe uma franja de eleitores que se opôs à política de ocupação dos territórios palestinianos praticado por todos os governos e coligações desde a independência. Com prováveis reflexos nas eleições legislativas de 10 de Fevereiro próximo.

De facto há importantes questões a enfrentar. A primeira é a de levantar o bloqueio que Gaza sofre.

As condições sanitárias continuam a deteriorar-se na faixa costeira, como foi verificado por treze deputados no local há duas semanas. "As palavras falham-me para descrever esta prisão aberta", escreveu no seu blog Josef Zisyadis, que esteve nessa viagem. " Nos meus sonhos vejo desfilar os rostos desta catástrofe humana" Para este conselheiro nacional, o bloqueio israelita não deve esquecer o que é realizado pelas autoridades egípcias,também ele criminoso. Para se reabastecerem, as pessoas são obrigadas a escavar para o Egito túneis perigoso, instáveis, que ameaçam colapso a qualquer momento, e por vezes são gaseadas por militares egípciios...

Com o sucesso político do Dov Khenin e dos seus, uma pequena luz de esperança, surgiu no final do túnel. Mas a paz ainda está longe.

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