segunda-feira, 17 de novembro de 2008

José Barata-Moura, sobre Marx


No último dia do Colóquio Internacional Karl Marx, que terminou ontem na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, José Barata-Moura elogiou a iniciativa que reuniu 150 investigadores nacionais e estrangeiros ao longo de três dias, notando que ela permitiu ler, debater e analisar o pensamento de Marx, "que continua a não ser bem conhecido ou a ser apenas conhecido por clichés que o deitam abaixo ou que o louvam". "Espero que a prática do estudo se enraíze e se desenvolva", disse ao PÚBLICO o ex-reitor da Universidade de Lisboa, no final da sua comunicação sobre "materialismo e dialéctica".Na concorrida "lição" de Barata-Moura, professor da Faculdade de Letras, o orador lembrou uma frase de Marx, confidenciada a um amigo em 1843, na qual o filósofo alemão explicava que não era a sua intenção "antecipar dogmaticamente o mundo". "Queremos encontrar, a partir da crítica do mundo velho, o mundo novo", citou. Ao longo de 30 minutos, Barata-Moura "esmagou" a assistência com uma intervenção que sustentou o contraste entre Marx e o idealismo hegeliano. "Os campeões da ideologia, contra os quais Marx e Engels investem, não se convertem em objecto de reparo por serem os produtores de representações da consciência social. São atacados por considerarem o mundo dominado por ideias e por encararem as ideias como princípios determinantes, susceptíveis de revelar o mistério do mundo." Marx rejeita esta "autonomização das ideias em relação à materialidade do viver", uma vez que, explicou, "a consciência é o ser consciente" e "o ser dos homens é o seu processo de vida real".A elevada afluência de público nos três dias do colóquio acabou por exceder as expectativas dos organizadores, notou o historiador Fernando Rosas, membro da comissão organizadora. Esta adesão reflectiu, afinal, aquilo que se pode encontrar na imprensa mundial, onde a análise das teorias marxistas está na ordem do dia. Mesmo em publicações insuspeitas como o jornal The Financial Times e as revistas Standpoint e The Spectator - foi nesta última, aliás, que o arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, escreveu, em Setembro último, um artigo de opinião no qual defendeu que Marx tinha razão, ainda que "parcial", sobre o capitalismo. Numa altura em que os livreiros alemães afirmam ter vendido mais obras de Marx nos últimos dois meses do que nos últimos dois anos.

(extraído da notícia de hoje do Publico)

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