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3. A maioria parlamentar e o eleitoralismo
Desde a sua fundação em 1999, o BE artilhou sempre as suas baterias políticas para os actos eleitorais, sempre com a maior abertura possível. Os congressos, que tomam na sua terminologia original a designação de «convenções», antecedem quase sempre os actos eleitorais. No manifesto inaugural, «Começar de Novo» (1999), este propósito é claramente formulado: «O desafio que colocamos à sociedade portuguesa é o da emergência de uma nova iniciativa política. Formalmente, ela será um partido para se poder apresentar às eleições.»
Na primeira «Convenção» (29/30.01.00), o lema é «Novos tempos/Nova esquerda», um slogan claramente propagandístico, que visa o terreno eleitoral. O seu cartão de identidade (Debates, n.º 3, p. 31), definido no ponto 5.1.2 sintetiza-se assim: «O Bloco de Esquerda quer ser um novo movimento e não mais um partido.»
Esta «lógica de movimento» visa claramente atrair pela inovação, procurando um consumidor para o novíssimo «produto», nunca visto, up to date, coisa do século XXI, empacotado com belas palavras, no que de modo muito geral poderemos chamar o mercado eleitoral, neste mundo em que tudo se vende. Aliás a própria informalidade é um chamariz: «(…)a experiência deste ano indica que o Bloco se pode continuar a desenvolver como movimento desde que todos e todas nele actuem em base individual, com igualdade de direitos e deveres.» (idem, p.31). Aqui encontramos o modelo nítido da clientela, em que a pessoa é chamada como «indivíduo», guindada de modo fictício a uma posição nivelada pelos líderes, que, de tão democráticos, comungam com as bases, tanto como os «aderentes» se «apresentam» ao vivo às cúpulas. A supressão simulada da distinção entre dirigentes e dirigidos, promessa sui generis do movimento, tem como modelo a condição formalmente reconhecida de um voto a cada cidadão. Como o Bloco é fundamentalmente uma formação eleitoralista, em que o fim principal é aumentar sempre os votos, está decifrado o seu verdadeiro código
O eleitoralismo é a imagem de marca do Bloco. A publicidade e a propaganda eleitoral os traços mais salientes no seu modus operandi. O estilo psicológico dos seus líderes pauta-se pela
desenvoltura autoconvencida e o auto-elogio engraçado e pedante. É como se estivessem sempre a repetir até à saciedade, «nós é que somos os bons», «nós os inteligentes». O toque professoral e o tique de predicador inscrevem-se neste esquema. Veja-se o estilo do comentador do BE, Daniel de Oliveira, no Expresso, onde não perde pitada para zurzir no PCP, do alto do seu posto na imprensa burguesa.
As grandes palavras, as frases bombásticas, têm por destinatário o eleitor, clamando para o voto. Na III Convenção do Bloco, pré-eleitoral como sempre, o lema sublime é a frase, «Da política da crise à política do socialismo». As «propostas» (ao eleitor!) são o «pleno emprego», a «modernização democrática» (por oposição à chamada «modernização conservadora (!), a «reforma fiscal» («referência fundadora» do Bloco) e a «globalização alternativa» (resposta verbal à «globalização neoliberal»). Vê-se muito bem que os dirigentes escolheram o menu para satisfazer gostos diversificados, para pescar votos em várias classes, gerações e outras condições como o género e minorias.
Não admira que, com a embalagem obtida em algum sucesso eleitoral, o cartaz se tenha aprimorado, com slogans triunfalistas, vertidos em enunciados como «Tempo de viragem», «Novo ciclo de política», «Uma esquerda de confiança», «Dez prioridades para cem dias de mudança». Este último «programa», para as eleições parlamentares de 2005, calendariza-se, pasme-se, «para os primeiros cem dias do novo parlamento», como se fosse uma agenda de governo pré-formado. Independentemente da justeza de algumas propostas, como a alteração da lei do aborto, é óbvio que o cardápio do «contrato parlamentar» faz parte, no essencial, de um propósito eleitoralista, baseado em temas concretos para aliciar votos.
A partir da V Convenção (2007), o Bloco parece querer dar um grande salto
Num documento publicado pela Mesa Nacional do BE (Março de 2006), intitulado «O rumo estratégico do Bloco», diz-se, sem rebuços: «A nossa resposta é, por isso, que o campo de crescimento do Bloco é muito grande, precisamente porque quer representar a maioria.»
O Partido que se chama «bloco» atingiu a maioridade, quer ser maior, quer ser o maior. Basta-lhe a propaganda mimética «socialista», na caça ao voto.
Daí a lenga-lenga: «O Bloco quer transformar-se num grande partido político» (Louçã, JN, 9.05.03), «O Bloco quer destruir o actual mapa político português» (DN - Louçã, 16.08.07), «Quero conquistar a maioria» (Louçã, Expresso, 07.06), «Representamos uma alternativa ao governo socialista» (Louçã, Público, 21.07.05). Como se define o BE, pergunta o jornalista (Público, idem): «Socialista, socialista no século XXI», diz FL.
Num momento de grande lucidez, o porta-voz do BE (Focus, 2007), diz querer ir ao fundo dos (seus) objectivos, de «criar uma nova esquerda social e uma nova política para o país». E acrescenta: «E isso não se faz com palavras, faz-se com a resposta à grande exigência que é a criação de novas redes sociais.» Que são, diz: «Redes que faltam na imigração, nos mais explorados, nos call-centers, nos trabalhadores precários, jovens licenciados desprezados; temos que ter um movimento sindical que seja representativo e unitário.»
A «rede» do Bloco, que pesca à rede, e que tem uma grande dor de cotovelo por não ter na sociedade civil e no movimento sindical e nas classes trabalhadoras a almejada equiparação ao PCP. Por isso alimenta as suas ideias de grandeza na promoção parlamentarista, no eleitoralismo e na conversa de jornal.
1 comentário:
Parabéns ao Jara pela abordagem do tema e a ti pela publicação nos blogs.
Um abraço
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