domingo, 28 de setembro de 2008

As razões para não salvar a Wall Street e as alternativas, por James Petras


Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street

1 – Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os lucros e passar as perdas para os contribuintes. Têm de assumir a responsabilidade das suas más decisões.

2- Grande parte das dívidas “tóxicas” (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com activos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice.

3- O Tesouro dos EUA comprará papéis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer activos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs.

4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes ficarão com papéis sem compradores.

5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras.

6- O dólar desvalorizará quando o poder de atracção da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores.

7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para nos retirar desta recessão profunda.

8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo o director do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o facto de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais "activos tóxicos" e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes.

9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas se o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes.

10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão.


Alternativas ao salvamento da Wall Street

A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados. De facto, investir US$700 mil milhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de défices orçamentais e comerciais. Fundos públicos investidos na manufactura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro. O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.

James Petras é professor emérito de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova Iorque, e alguns dos seus trabalhos estão publicados na Global Research


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