sábado, 13 de setembro de 2008

O olhar do "Público" sobre a Bolívia


O "Publico" de hoje manifesta uma aparente simpatia pelo golpe que está em curso no chamado território da Meia Lua, na Bolívia, com a direcção e apoio de governadores de extrema direita.

Os territórios mais ricos do país deram na recente votação de Agosto a vitória a Evo Morales mas também confirmaram parte desses governadores.

Descrentes de uma reversão no país pela via democrática, decidiram passar a outrras formas de ataque. Um deles, Raul Costas, de Santa Cruz, dirige o golpe, procedendo a espancamentos de apoiantes de Evo Morales (uma componente deste "movimento, para além de usar como tropa de choque dilinquentes que se estão a organizar como milícias, é o seu profundo racismo anti-indigena), havendo já 14 mortos. Os mortos são camponeses e colonos - e não estão contabilizados todas as vítimas do massacre que o governador de Pando conduziu. Saqueiam e paralizam os organismos do Estado provinciais, fizeram explodir 2 gasodutos e inviabilizaram o fornecimento de gás natural ao Brasil. Ao mesmo tempo que se reclamam de autonomia (que fizeram referendar sem ter associada uma perspectiva insurrecional), querem privilégios de repartição de impostos cobrados à escala nacional que passaram a ser entregues ao apoio aos idosos, recusam a reforma agrária que permita aos indígenas, e não só, cultivarem a terra, e querem impedir a aprovação popular de uma nova constituição.

O "Publico" ouviu um dirigente do grupo insurrecto, Sérgio Antelo, recolhendo sem comentário a declaração de que "vamos ter autonomia, pelo diálogo ou pelas armas". Mas refere que 4 dos 5 governadores se recusaram a dialogar com Evo Morales a pedido deste, não referindo, porém, que as forças armadas bolivianas têm recebido orientações presidenciais para não intervir contra o vandalismo...Apesar de no referendo revocatório de Agosto Morales ter aumentado o seu apoio nessas províncias. O jornal aceitou que o mesmo personagem contestasse as estatísticas oficiais sobre a pobreza reinante nos 80% da população constituída por indígenas e mestiços.

O "Publico" no sobe e desce da última página, faz acompanhar Morales (a descer, claro!) de considerações que levariam a concluir que a crise de relação com os EUA decorre da expulsão do embaixador e não deste estrar intimamente ligado à sublevação, que se apoia nos interesses dos grandes proprietários de terra e de industriais do sector agro-alimentar, responsáveis por estas assimetrias socio-económicas.

Esta aparente simpatia não é acompanhada pela maioria dos países da América Latina que, como o Brasil, já declararam que intervirão para evitar a guerra civil e que não aceitarão golpes que queiram substituir o governo constitucional de La Paz.

Talvez não tivesse sido mau que o correspondente do Publico, despachasse da Bolívia e não de S. Paulo...E que não tivesse aproveitado a situação para mais umas frechadas em Hugo Chavez, como se sabe a braços com tentativas golpistas na Venezuela que incluem o seu assassinato.

E talvez não tivesse sido mau que tivesse evocado aquele 11 de Setembro em Santiago do Chile, há 35 anos atrás...

Sem comentários: