A recontagem de votos que o Conselho dos Guardiães acaba de decidir não vai alterar significativamente os resultados eleitorais. Não existem hoje no Irão forças capazes de interferir à escala nacional nessa recontagem porque o regime levou muito a sério as medidas não só para não perder as eleições mas para as ganhar de uma forma rotunda.
E fê-lo por uma política social de aplicação muito vasta de vantagens sociais para agricultores e operários mas também alargando muito o número de secções de voto, das urnas circulantes (cerca de um terço do total) e reforçando a presença no terreno e nas secções do Corpo Revolucionário, das milícias Basij e de outras forças repressivas sob o comando directo do grande líder.
Nem o povo tem ainda uma capacidade organizativa autónoma dos ayatollahs nem os EUA conseguem só com o investimento feito em Teerão entre as camadas médias e altas atraídas pelo cosmopolitismo ocidental inverter a situação “a seu favor”.
A mão da CIA na atribuição a este protesto pós-eleitoral, com a patetice de a caracterizar também como uma revolução de uma cor qualquer (uma imagem de marca sua nos últimos vinte anos) e nos cartazes de requintadas manifestantes, em inglês para CNN ler, vai criar alguma situação de facto, negociada talvez, mas não vai alterar os dados da situação.
A esquerda, essa, ciente das suas limitadas possibilidades vê-se por um lado arredada de ter candidaturas próprias pelo regime da Lei do Supremo Líder Religioso (Velayat-e-Faqih) que só permitiu a concorrência de dois candidatos reformadores (Mousavi e Karrubi), e consciente do passado cúmplice da repressão por parte de ambos, aconselhou o voto, nomeadamente em Mousavi, não por ele mas contra Ahmadi-Nejad, o presidente em exercício protegido do Supremo Líder, Khamenei.
Neste quadro, Mousavi nunca teria tido possibilidades. Mas também ele cometeu o erro de se aproximar excessivamente de Washington e ir ao encontro do abraço de Obama no Cairo.
Quem quer conhecer o que se passa no Irão não pode ignorar o efeito que perdura em novas gerações do golpe contra o patriota e nacionalista Mossadegh. De ter levado ao poder o Xá Reza Pahlevi, sanguinário, genocida de nacionalistas e comunistas. Do apoio inicial aos ayatollahs que ,com a organização religiosa intocada, detinham a única estrutura em que podia assentar a mudança. Que começaram o seu reinado com nova razia anticomunista. Da guerra Irão-Iraque, não da responsabilidade de Khomeini mas dos EUA, que para isso instigaram Saddam Hussein, também ele um feroz anticomunista. Os iranianos não vão esquecer as dezenas de milhões de mortos que sofreram nesta guerra.
Que seja esta revolução islâmica, tais ayatollahs e personagens como o actual e reeleito presidente a assumirem, para garantirem o seu poder e o das classes dominantes, um discurso anti-imperialista, não admira e tem mesmo algo de trágico.
Por isso o discurso ao mundo islâmico de Obama no Cairo não poderia ser entendido por esse mundo.
Com mais ou menos correcção dos resultados das eleições, os EUA têm que se habituar à ideia de que é com esta liderança (ou outra) que vai ter que lidar nos próximos anos e fazer jus à promessa feita no Cairo de que não está preso ao passado, quer dar um passo em frente para construir o futuro, sem condições prévias e com base no respeito mútuo, e não necessariamente nos seus interesses.
Têm que dar conteúdo a estas palavras e não acenar apenas com a retórica da mudança.
E fê-lo por uma política social de aplicação muito vasta de vantagens sociais para agricultores e operários mas também alargando muito o número de secções de voto, das urnas circulantes (cerca de um terço do total) e reforçando a presença no terreno e nas secções do Corpo Revolucionário, das milícias Basij e de outras forças repressivas sob o comando directo do grande líder.
Nem o povo tem ainda uma capacidade organizativa autónoma dos ayatollahs nem os EUA conseguem só com o investimento feito em Teerão entre as camadas médias e altas atraídas pelo cosmopolitismo ocidental inverter a situação “a seu favor”.
A mão da CIA na atribuição a este protesto pós-eleitoral, com a patetice de a caracterizar também como uma revolução de uma cor qualquer (uma imagem de marca sua nos últimos vinte anos) e nos cartazes de requintadas manifestantes, em inglês para CNN ler, vai criar alguma situação de facto, negociada talvez, mas não vai alterar os dados da situação.
A esquerda, essa, ciente das suas limitadas possibilidades vê-se por um lado arredada de ter candidaturas próprias pelo regime da Lei do Supremo Líder Religioso (Velayat-e-Faqih) que só permitiu a concorrência de dois candidatos reformadores (Mousavi e Karrubi), e consciente do passado cúmplice da repressão por parte de ambos, aconselhou o voto, nomeadamente em Mousavi, não por ele mas contra Ahmadi-Nejad, o presidente em exercício protegido do Supremo Líder, Khamenei.
Neste quadro, Mousavi nunca teria tido possibilidades. Mas também ele cometeu o erro de se aproximar excessivamente de Washington e ir ao encontro do abraço de Obama no Cairo.
Quem quer conhecer o que se passa no Irão não pode ignorar o efeito que perdura em novas gerações do golpe contra o patriota e nacionalista Mossadegh. De ter levado ao poder o Xá Reza Pahlevi, sanguinário, genocida de nacionalistas e comunistas. Do apoio inicial aos ayatollahs que ,com a organização religiosa intocada, detinham a única estrutura em que podia assentar a mudança. Que começaram o seu reinado com nova razia anticomunista. Da guerra Irão-Iraque, não da responsabilidade de Khomeini mas dos EUA, que para isso instigaram Saddam Hussein, também ele um feroz anticomunista. Os iranianos não vão esquecer as dezenas de milhões de mortos que sofreram nesta guerra.
Que seja esta revolução islâmica, tais ayatollahs e personagens como o actual e reeleito presidente a assumirem, para garantirem o seu poder e o das classes dominantes, um discurso anti-imperialista, não admira e tem mesmo algo de trágico.
Por isso o discurso ao mundo islâmico de Obama no Cairo não poderia ser entendido por esse mundo.
Com mais ou menos correcção dos resultados das eleições, os EUA têm que se habituar à ideia de que é com esta liderança (ou outra) que vai ter que lidar nos próximos anos e fazer jus à promessa feita no Cairo de que não está preso ao passado, quer dar um passo em frente para construir o futuro, sem condições prévias e com base no respeito mútuo, e não necessariamente nos seus interesses.
Têm que dar conteúdo a estas palavras e não acenar apenas com a retórica da mudança.
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