Um político de centro-qualquer coisa, em debate televisivo há dias, falando dos resultados eleitorais de domingo passado, lamentou a dificuldade para a governabilidade de um espectro político disperso com um peso considerável do que considerou extrema-esquerda (para ele, PCP+BE).
O tema é também caro ao PS, que o glosou bastante no período antes das eleições, se bem que insista agora mais na legitimidade de governar como quer até às próximas legislativas de Outubro.
Mas, o que é a governabilidade?
E eu digo-vos: é uma disciplina da culinária, que trabalha condimentos enlatados para fazer fintas às frescuras dos que fizeram levantamento de rancho e querem provar outros manjares.
O primeiro toque é o glamour histriónico do termo que disfarça, melhor do que o alho, o ranço subjacente à receita. É coisa respeitável, com sentido de Estado, opiáceo necessário dos pobres dos aflitos a quem ensinaram a chamar encarnado ao vermelho e a tremer quando daquelas cenas da Cova da Iria.
O segundo toque, saracoteando-se com a cozinha tradicional do centro, é juntar massa, feijão e batata, esquecendo-se da chicha e das verduras, procedendo ao rassemblement das forças credíveis para governar, isentas de qualquer populismo…
O terceiro toque é o do conservadorismo culinário geneticamente instalado, em mesas outras, que não as suas: sempre comeste assim, vais continuar a comer assim porque nós temos os talentos dos chefs e dos nutricionistas, queremos o teu bem-estar e estamos aqui para zelar pela tua dieta. Toque este com variante: se não quiseres comer, prepararemos as condições para comeres pela medida grande.
Quarto e último toque: se não chegar juntamos-lhe os restos de outras refeições com jeitosas santanetes (na falta de isca, têmo-las a elas). Toque este que também tem uma variante: os brócolos da horta do Caldas.
E agora a toque de marcha, perante perspectivas tão pouco animadoras toca jantar num arraial de Alfama.
2 comentários:
Não podia estar melhor explicado! :-)))
Abraço.
excelente!!!
Enviar um comentário