O acompanhamento de algumas emissões de TV de domingo e as trocas posteriores de impressões com alguns amigos, levam-me aqui a alinhar meia dúzia de pontos particulares.
1. O PS sai delas derrotado. É o pior resultado dos últimos 22 anos.Sendo certo que eram as eleições europeias e não legislativas é natural que se não possa fazer uma extrapolação pura e simples de resultados. Mas seria cegueira ignorar que a avaliação interna pesou decisivamente nos resultados. Não tirar ilacções para a correcção da política por parte do governo é um disparate como disparate é blindar-se na legitimidade de eleições de há 4 anos para continuar a fazer o que os portugueses, de forma tão categórica, acabam de rejeitar.
2. Já no que respeita à interpretação de resultados do PSD e do BE, os comentários não ajudaram e por alguma razão foram feitos.
O PSD foi o partido mais votado mas não tanto por mérito próprio. A queda do PS foi tão grande que a inversão de posições nos dois primeiros lugares só não seria inevitável se o PSD tivesse particulares razões para se afundar. É certo que a imagem do PSD tem andado afectada quer pelas poilíticas anteriormente realizadas quer pelos episódios pouco recomendáveis da sua vida interna mas isso não seria o fundamento, num "despique acalorado", para uma quebra.
PSD e CDS recuperaram de resultados de 2004 mas situam-se em valores semelhantes aos que já tinham tido nas europeias de 1999.
Houve quem, empolasse o significado deste resultado para apresentar o PSD como alternativa nas legislativas e para conjurar o perigo da "extrema-esquerda" (para vosso entendimento nas respectivas cabeças isto significa CDU+ BE).
3. Quanto ao BE, a progressão é assinalável desde as eleições de 1999 e de 2004. De 1,8% em 1999, passa a 4,9 % em 2004, atingindo agora os 11%, subindo cerca de 200 mil votos e passanmdo de 1 para 3 deputados.
Não querendo ignorar méritos próprios para isso, importa no entanto atender a que o BE é quem mais beneficia de opções eleitorais de pessoas que, conjunturalmente, se deslocaram do PS e não querem assumir a ruptura que só a CDU propõe. Outras optaram pela abstenção ou pelo voto nulo e branco. Até porque o BE pensa que consolidará espaço político e eleitoral se continuar a não apresentar um projecto político e contornos de uma sociedade que, não duvido, quererão diferente. Este estado esquisito não deixará, porém, de originar internamente opiniões entre ser um projecto autónomo do do PS, do essencial das concepções deste, aqui ou na Europa, ou ser uma futura corrente desse espaço equívoco do "socialismo democrático" que agora foi ao tapete. Adversáriop ou seguro de vida do PS? E por aqui fico porque não me sinto bem a especular sobre cenários, o que dispensa alguns amigos de me acusarem de futurólogo sectário.
4. Quanto à CDU, ela obtem o melhor resultado percentual dos últimos 15 anos e o maior valor absoluto dos últimos 20. Cresce mais de 70 mil votos, 1,6 pontos percentuais e mantem os dois deputados que, devido à redução dos deputados portugueses de 24 para 22, custaram agora mais a eleger que nas eleições anteriores. Sem essa redução passaria a 3 deputados.
Neste caso a relação entre o desempenho nos anos anteriores a esta eleição, particularmente nos anos mais recentes, e os resultados eleitorais verificados, são muito evidentes e isso é um capital inestimável com que os portugueses contam à partida para viabilizarem uma ruptura que permita uma vida melhor.
5. As sondagens foram o que se viram...O PS e o BE não se podem queixar com tanto virtuosismo. Quanto à CDU as insondáveis sondagens são o que têm sido.
6. Registo de um disparate dissonante: António Barreto a dizer que esta ultrapassagem do PCP pela "extrema-esquerda"(penso que seria o BE...) tinha sido a maior derrota de sempre dos comunistas!...Desejando que a moleirinha ainda não tenha ensandecido definitivamente, alivie-se o homem do comentário político se não os méritos das ciências sociais vão arrastados no caneiro...
7. Resumindo e concluindo: a coisa vai, meus amigos, vai mesmo!
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