quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ferreira de Macedo, um mestre da Matemática que o fascismo afastou do IST

A recente homenagem a Mira Fernandes suscitou-me a memória de um outro mestre de meu pai de quem viria a ser assistente.
Refiro-me a António Augusto Ferreira de Macedo.
Natural de Mesão Frio, onde nasceu em 1887, Ferreira de Macedo viria a ser, em 1919, um dos Fundadores da Universidade Popular Portuguesa e, em 1921, da Seara Nova. A Matemática tem em homens como ele e outros dos seus amigos como Bento de Jesus Caraça, Mira Fernandes e Ruy Luis Gomes uma geração de grande valor científico e humanista, com ideias amplas sobre a educação.
A partir de 1927 foi assistente do Instituto Superior Técnico e mais tarde, já como professor catedrático, regeu as cadeiras de Matemáticas Gerais e Geometria Descritiva. Depois do seu afastamento compulsivo do IST em 1947 dedicou-se a organizar explicações colectivas para poder sobreviver. O meu pai afastado na mesma altura viria durante mais de vinte anos a sobreviver da mesma forma.
Publicou trabalhos, de entre os quais: “Educação Popular”, “A Educação do Povo, o que é e o que devia ser”, “O que é a Educação?”, “As Grandes Descobertas Cientificas”, “As tarefas actuais dos educadores”, “Curiosidades Matemáticas”, “Paradoxos Matemáticos” ou de colaboração com outros o “Compêndio sobre Geometria Analítica Plana – para o 3º ciclo liceal”.
Reproduzimos ao lado uma comunicação sua "A crise actual da civilização e o problema da educação popular".
O seu espólio foi doado à Biblioteca Nacional, quando do centenário do seu nascimento, em 1987, pela viúva, Dra. Gabriela Matias. Neste espólio (29 cx.: 780 docs.) encontram-se vários trabalhos seus enquanto matemático e pedagogo, além da correspondência que travou com companheiros de geração. Para uma bibliografia mais vasta consultar “No centenário de António Augusto Ferreira de Macedo (1887-1987). Subsídios para uma bibliografia” (Separata da Revista da Biblioteca Nacional, 2ª Série, Volume 2 (1), 1987, p. 109-136).
Da geração de António Sérgio, Jaime Cortesão e Raul Proença, integrou, também, o célebre "Grupo da Biblioteca Nacional" entre os anos de 1921 e 1927, desempenhando na casa as funções de Chefe dos Serviços Administrativos. Distinguiu-se pela sua intervenção política no Movimento da Unidade Democrática, onde acompanhou de perto a militância de Bento de Jesus Caraça.
Faleceu em Lisboa em 1959.

Sem comentários: