domingo, 26 de abril de 2009

Pare e escute a música...


Um tipo entra numa estação de metro de Nova Iorque vestindo jeans, t-shirt e boné.

Encosta-se próximo da entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que por ali passa a com pressa, pela manhã.
Durante os 45 minutos que tocou o instrumento, foi praticamente ignorado.
Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, que executava peças consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Alguns dias antes Bell tocara no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a “bagatela” de 1000 dólares.
A experiência, que poderá encontrar gravada em video,na net, mostra que homens e mulheres de andar rápido, copo de café na mão, telemóvel ao ouvido, ficam indiferentes ao som do violino. Só uma mulher o reconheceu...A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post tinha como intenção lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefacto de luxo sem etiqueta com glamour.

Conclusão do jornal: Compramos a forma e o marketing da apresentação e não o conteúdo. Só estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão no contexto convencionado.
E eu acrescentaria: não há uma educação musical, não há capacidade de distinguir sons nem a qualidade ao produzi-los, o show-bizz acantonou o espectáculo em espaços remunerados e a rua foi deixada para uma animação turística de qualidade duvidosa (mas melhor que nada) ou para a publicidade tantas vezes demencial, as pessoas correm com pressa e com as cabeças ocupadas pelos seus problemas e circulam insensíveis ao belo, ao prazer e aos outros a que a rua dá uma outra dimensão porque a fruição pública também contribui para acabar com os nichos estanques de mercado, os gostos únicos que ajudam a rentabilizar os investimentos das editoras de forma inversamente proporcional à cultura musical que é, depois, remetida para os salões a preços absurdos para contribuir para o afastamento dos gostos e a sua consagração como mercadoria de luxo que dê estatuto e como adorno em cuja sensibilidade não quer descobrir a inquietação da existência.

2 comentários:

F. Penim Redondo disse...

uma bela história

aferreira disse...

Diria mais uma bela prova.