A monarquia, as forças armadas e os comunistas
Os manifestantes das camisas vermelhas dispersaram e regressaram aos seus locais de origem. Dezenas deles têm mandatos de captura e três dos seus dirigentes estão a enfrentar o tribunal militar.
Está em curso um revisionismo histórico sobre o passado recente da Tailândia que dê cobertura à criminalização e repressão contra os rebeldes que se renderam.
Nestes acontecimentos há coisas que têm que ser avaliadas com outro rigor incompatível com a aceitação dos pontos de vista da imprensa dominante na Tailândia, afecta ao Rei e à elite militar e económica da capital. Factos como se a manifestação só por si, e de acordo com a atitude dos manifestantes, ainda por cima com a passividade da segurança, justificaria a suspensão da reunião da ASEAN, qual o papel de um outro grupo colorido – os “camisas azuis” – tiveram nos confrontos iniciais, terão que ser avaliados.
A instituição monárquica e a regressão no regime democrático que está em curso há meses pelo governo que se manteve em funções saem abaladas.
A monarquia que deixara de ser absoluta em 1932, num golpe sem sangue, momento alto de arranque para uma democratização do país, tem tentado recuperar com um apoio das lideranças militares e uma fábula histórica massiva e omnipresente sobre o rei, as suas virtudes e qualidades, tem-se realizado há muitos anos.
Sem dúvida, tem um grande apoio popular e sectores de direita usam a sua imagem e procuram o seu apoio no combate político, acusando Thaksin de querer afastar o Rei, vista a fazer pesar mais no quadro jurídico o papel dos crimes de lesa majestade, verdadeiro garrote sobre a liberdade política de organizações, pessoas, a liberdade de imprensa. No imaginário de muita gente persiste o assassinato nunca esclarecido do seu irmão Ananda que sucedeu como Rei a seu pai que então abdicou. E é aceite a tese de que, evitando “o perigo comunista” queria impedir também a ditadura militar de direita. Mais tarde cimentada num “puxão de orelhas” aos autores do massacre de 1992.
É certo que o Rei Bhumibol pende para um dos lados mas tem tido algum distanciamento em relação a algumas confrontações políticas. O próprio Thaksin pediu hoje a sua intervenção para a confrontação não ir longe demais…
A monarquia enfrenta, por outro lado, um outro problema: o rei não viverá muito mais e o seu filho não tem carisma nem apoio popular. Desde 2001, com a eleição de Thaksin Shinawatra e a sua política de apoio ao campesinato, a imagem deste competiu com o rei à escala nacional. O golpe de 2006 que o depôs teve o apoio do rei que indicou um dos seus conselheiros, dirigente militar reformado, para primeiro-ministro – Surayud Chulanont. Este com uma curiosidade: era filho de um outro militar, Phayom Churadont, expulso das forças armadas por denunciar corrupção interna, que viria a passar à clandestinidade e tornar-se secretário-geral do Partido Comunista. E, no entanto, o filho, apesar de tratar o seu pai como um herói e um homem justo foi um dos principais perseguidores dos comunistas nos anos 70.
As questões agora surgidas ressurgirão, talvez com mais força. Os próprios “camisas vermelhas” parece que terão que ter uma direcção mais efectiva do movimento. O desaparecimento, na prática, do Partido Comunista da Tailândia nos anos 80/90, depois de cisões internas e, depois, da sua ilegalização, não foi total. As zonas de grande apoio da UDD e de Thaksin coincidem com as regiões libertadas durante os anos 60 e 70 pela guerrilha (guerra do povo) conduzida pelo PCT e as frentes populares que criou, que, como aconteceu com outros partidos comunistas da zona, seguiram as teses maoístas da evolução a partir do campo e relações internacionais equivalentes. As mudanças operadas nas posições da China, as bases americanas no território em apoio à agressão dos EUA ao Vietname, a solidariedade do governo com os khmers vermelhos, provocaram, por um lado, a identificação para os comunistas dos EUA como inimigo a combater mas também a realinhamentos políticos complexos. O investimento da monarquia e das chefias militares no combate anticomunista teve episódios dramáticos, como o já referido dos massacres da Universidade de Thammasat, de cujo movimento estudantil sairiam centenas de jovens quadros políticos, muitos deles do Partido Socialista que passaram depois a ter papel muito importante no campo e combateram as teses maoístas, enquanto outros dirigentes do PCT se envolveram na negociação do fim da guerrilha e no seu desarmamento e “perdão” pelo governo que foram os grandes factores de divisão e silenciamento do partido.
Não há dados para saber se as estruturas do PCT se mantiveram. Mas tudo indica que, mesmo informalmente terão persistido.
Os manifestantes das camisas vermelhas dispersaram e regressaram aos seus locais de origem. Dezenas deles têm mandatos de captura e três dos seus dirigentes estão a enfrentar o tribunal militar.
Está em curso um revisionismo histórico sobre o passado recente da Tailândia que dê cobertura à criminalização e repressão contra os rebeldes que se renderam.
Nestes acontecimentos há coisas que têm que ser avaliadas com outro rigor incompatível com a aceitação dos pontos de vista da imprensa dominante na Tailândia, afecta ao Rei e à elite militar e económica da capital. Factos como se a manifestação só por si, e de acordo com a atitude dos manifestantes, ainda por cima com a passividade da segurança, justificaria a suspensão da reunião da ASEAN, qual o papel de um outro grupo colorido – os “camisas azuis” – tiveram nos confrontos iniciais, terão que ser avaliados.
A instituição monárquica e a regressão no regime democrático que está em curso há meses pelo governo que se manteve em funções saem abaladas.
A monarquia que deixara de ser absoluta em 1932, num golpe sem sangue, momento alto de arranque para uma democratização do país, tem tentado recuperar com um apoio das lideranças militares e uma fábula histórica massiva e omnipresente sobre o rei, as suas virtudes e qualidades, tem-se realizado há muitos anos.
Sem dúvida, tem um grande apoio popular e sectores de direita usam a sua imagem e procuram o seu apoio no combate político, acusando Thaksin de querer afastar o Rei, vista a fazer pesar mais no quadro jurídico o papel dos crimes de lesa majestade, verdadeiro garrote sobre a liberdade política de organizações, pessoas, a liberdade de imprensa. No imaginário de muita gente persiste o assassinato nunca esclarecido do seu irmão Ananda que sucedeu como Rei a seu pai que então abdicou. E é aceite a tese de que, evitando “o perigo comunista” queria impedir também a ditadura militar de direita. Mais tarde cimentada num “puxão de orelhas” aos autores do massacre de 1992.
É certo que o Rei Bhumibol pende para um dos lados mas tem tido algum distanciamento em relação a algumas confrontações políticas. O próprio Thaksin pediu hoje a sua intervenção para a confrontação não ir longe demais…
A monarquia enfrenta, por outro lado, um outro problema: o rei não viverá muito mais e o seu filho não tem carisma nem apoio popular. Desde 2001, com a eleição de Thaksin Shinawatra e a sua política de apoio ao campesinato, a imagem deste competiu com o rei à escala nacional. O golpe de 2006 que o depôs teve o apoio do rei que indicou um dos seus conselheiros, dirigente militar reformado, para primeiro-ministro – Surayud Chulanont. Este com uma curiosidade: era filho de um outro militar, Phayom Churadont, expulso das forças armadas por denunciar corrupção interna, que viria a passar à clandestinidade e tornar-se secretário-geral do Partido Comunista. E, no entanto, o filho, apesar de tratar o seu pai como um herói e um homem justo foi um dos principais perseguidores dos comunistas nos anos 70.
As questões agora surgidas ressurgirão, talvez com mais força. Os próprios “camisas vermelhas” parece que terão que ter uma direcção mais efectiva do movimento. O desaparecimento, na prática, do Partido Comunista da Tailândia nos anos 80/90, depois de cisões internas e, depois, da sua ilegalização, não foi total. As zonas de grande apoio da UDD e de Thaksin coincidem com as regiões libertadas durante os anos 60 e 70 pela guerrilha (guerra do povo) conduzida pelo PCT e as frentes populares que criou, que, como aconteceu com outros partidos comunistas da zona, seguiram as teses maoístas da evolução a partir do campo e relações internacionais equivalentes. As mudanças operadas nas posições da China, as bases americanas no território em apoio à agressão dos EUA ao Vietname, a solidariedade do governo com os khmers vermelhos, provocaram, por um lado, a identificação para os comunistas dos EUA como inimigo a combater mas também a realinhamentos políticos complexos. O investimento da monarquia e das chefias militares no combate anticomunista teve episódios dramáticos, como o já referido dos massacres da Universidade de Thammasat, de cujo movimento estudantil sairiam centenas de jovens quadros políticos, muitos deles do Partido Socialista que passaram depois a ter papel muito importante no campo e combateram as teses maoístas, enquanto outros dirigentes do PCT se envolveram na negociação do fim da guerrilha e no seu desarmamento e “perdão” pelo governo que foram os grandes factores de divisão e silenciamento do partido.
Não há dados para saber se as estruturas do PCT se mantiveram. Mas tudo indica que, mesmo informalmente terão persistido.
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