segunda-feira, 13 de abril de 2009

Origem histórica dos acontecimentos na Tailândia? (1)


Os últimos dias





É difícil compreender o que se passa na Tailândia (antigo Sião). Importa recorrer à história, aos interesses em jogo e às profundas desigualdades existentes no país.
Uma coisa é evidente: desde que em 2006 um golpe militar derrubou o governo de Thaksin Shinawatra que a situação tem estado instável, com a sucessiva substituição de governos, e hoje na rua muitos milhares de pessoas, também designados por “camisas vermelhas”, a que, claramente se têm juntado muitos militares, reclamam o seu regresso e a demissão do actual primeiro-ministro, Abhisit Vejjagira, um homem considerado de extrema-direita, num país que criou um sistema eleitoral representativo mas onde os titulares das forças armadas, sectores monárquicos de direita e a grande burguesia de Banguecoque têm assegurado as rédeas do poder, decidindo em última análise como distribuir as peças do complexo xadrez político.
Gostariam de ter o apoio do rei, Bhumibol Adulyadej, para consolidar esta situação, argumentando com o alegado desempenho corrupto de Thaksin e a sempre negada vontade deste em pôr fim à monarquia constitucional, depois da sua popularidade ter equilibrado o prestígio do velho rei.
Ontem, o ex-primeiro-ministro, que desde o golpe de 2006 tomou a iniciativa de se exilar na Inglaterra, convocou o povo a derrubar o governo depois de este ter imposto o estado de emergência em Banguecoque, no meio protestos generalizados. Quando fez o apelo, há dois dias que militares armados ocupavam toda a capital tailandesa, depois de os protestos do movimento dos “camisas vermelhas”, oposicionista, terem forçado o cancelamento de uma reunião de cúpula de líderes asiáticos no grande a praia de Pattaya.
A Thaksin estiveram associadas medidas de apoio aos agricultores, a grande massa da população, com a criação de um sistema nacional de saúde de acesso universal, baixas taxas de juro no crédito à produção agrícola, ou outras como a mão pesada contra os narcotraficantes, poderosos e com elevada capacidade de corrupção de civis e militares.
Estando a esquerda há décadas desfeita, e descontando a aparente dependência de um milionáro que inspira os seus correligionários, podemos afirmar sem grande rigôr que a UDD de Thaksin apresenta uma base sociológica e perpectivas que a identificam como um movimento de esquerda.

Recordo a propósito que, quando da investida norte-americana nos anos cinquenta contra a grande influência dos comunistas em vários países do sudeste asiático, estes se aliaram a militares corruptos com o apoio dos narcotraficantes para atingirem esse objectivo, afastando dessas forças armadas militares patriotas e de esquerda, muitos comunistas, que eram um obstáculo poderoso à corrupção do aparelho militar pelos barões da droga. A administração norte-americana tornou-se, por isso, então o principal apoio à enorme expansão do narcotráfico nestes países.

Compreender o que se passa, passa também por conhecer a força política associada aos sectores mais retrógrados que estão a ser postos em causa nas actuais manifestações: o PAD (Aliança do Povo para a Democracia), criado e dirigido pelo grande magnata da comunicação social, Sondhi Limthongkul, principal artífice da queda de Thaksin, e o Partido Democrático do actual Primeiro-Ministro a que nos referiremos no post seguinte.

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