Do ghetto de Varsóvia ao ghetto de Gaza
Numa peça publicada hoje no Global Research (*), Michel Chossudovsky refere os grandes objectivos da agenda militar de Israel nesta década. O autor avança com interpretações, que não subscreveremos totalmente mas que são coerentes com a história do conflito que Israel tem conduzido nestes sessenta anos com os palestinianos.
Segundo ele “É importante concentrarmo-nos numa série de acontecimentos-chave que levaram até à actual matança em Gaza resultante da operação “Chumbo endurecido”. E enuncia-os.
1. O assassinato em Novembro de 2004 de Yasser Arafat.
Este assassinato tinha sido esboçado em 1996 sob o título “Operação Campos de Espinhos”. De acordo com um documento de Outubro 2000, preparado pelos serviços de segurança, a pedido do então primeiro-ministro Ehud Barak, «Arafat, a pessoa, é uma grave ameaça para a segurança do estado [de Israel], e os danos resultantes do seu desaparecimento é menor que os danos causados pela sua existência” (citado no Ma’ariv de 6 de Julho de 2001).
O assassinato de Yasser Arafat foi decidido em 2003 pelo governo israelita. E isso obteve o acordo dos EUA que vetaram no Conselho de Segurança das Nações Unidas uma resolução condenando essa decisão do governo israelita. Reagindo aos ataques crescentes dos palestinianos, em Agosto de 2003, o então ministro da defesa israelita Shaul Mofaz declarou “guerra total” aos militantes “marcados para morrer”.
Em meados de Setembro, o governo de Israel aprovou uma lei para se livrar de Arafat. O gabinete de assuntos políticos de segurança de Israel anunciou a decisão de eliminar Arafat por ser um obstáculo à paz. Mofaz ameaçou então “ vamos escolher a maneira adequada e o momento certo para matar Arafat”. O ministro palestiniano Saeb Erekat disse à CNN que pensava que Arafat seria o próximo alvo. A CNN perguntou ao porta-voz de Sharon, Ra’anan Gissan, se a decisão significava a expulsão de Arafat. Gissan esclareceu que não significava isso. E clarificou “O que o governo hoje decidiu foi remover este obstáculo. O tempo, o método, as maneiras pelas quais isso se fará será decidido em separado, e os serviços de segurança vão acompanhar a situação e fazer a proposta sobre a acção adequada” (ver de Trish Shuh, “Roteiro para um Plano de Morte”, www.mehrnews.com, de 9 Novembro 2005).
O assassinato de Arafat fazia parte do Plano Dagan de 2001. Com toda a probabilidade, foi realizado pelos serviços secretos israelitas. Visou destruir a Autoridade Palestiniana, fomentando divisões dentro Fatah, bem como entre a Fatah e o Hamas. Mahmoud Abbas é um traidor palestiniano. Ele foi guindado a líder da Fatah, com a aprovação de Israel e dos EUA, que financiam os paramilitares e as forças de segurança da Autoridade Palestiniana.
2. A remoção, sob as ordens do primeiro-ministro Ariel Sharon, em 2005, de todos os colonatos judaicos na Faixa de Gaza.
A população judaica de mais de 7 mil pessoas foi então deslocada.
“É minha intenção [Sharon] para efectuar uma evacuação – desculpem, uma mudança – de colonatos que nos causam problemas e de lugares que não iremos de qualquer maneira querer numa solução definitiva, como acontece com os colonatos de Gaza.... estou a trabalhar no pressuposto de que no futuro não haverá judeus na Faixa de Gaza”, afirmou Sharon à CBC, em Março 2004). A saída dos colonatos da Faixa de Gaza foi apresentada como parte do “Roteiro para a Paz”, celebrada pelos palestinianos como uma vitória mas esta medida não foi dirigida contra os colonos judaicos. Muito pelo contrário, fazia parte do conjunto da operação, que consistiu em transformar Gaza num campo de concentração. Enquanto os colonos judaicos viviam em Gaza, o objectivo de manter um território-prisão altamente barricado, não era possível realizar. A implementação da presente Operação Chumbo Endurecido exigia que não existissem judeus em Gaza.
3. A construção do infame Muro Apartheid foi decidida no início do governo Sharon. A fase seguinte foi vitória eleitoral do Hamas em Janeiro de 2006. Sem Arafat, os arquitectos dos serviços secretos militares israelita sabiam que com Mahmoud Abbas a Fatah não ganharia as eleições. Isso fazia parte do cenário que havia sido previsto e analisado com bastante antecedência.
Com o Hamas no comando da Autoridade Palestiniana, usando o pretexto de que o Hamas é uma organização terrorista, Israel poderia realizar o processo de acantonamento tal como formulado no âmbito do plano de Dagan. A Fatah de Mahmoud Abbas permaneceria formalmente no comando da Cisjordânia. O Hamas, eleito legitimamente para o governo, ficaria confinado a Faixa de Gaza.
O presente ataque terrestre
Em 3 de Janeiro a infantaria e tanques israelitas entraram em Gaza numa ofensiva terrestre de larga escala: a operação terrestre foi precedida por vários ataques de artilharia pesada ao escurecer, que incendiaram o céu no turno. O fogo das armas automáticas brilhante marcou rastos tracejantes iluminados na noite. (AP, 3 de Janeiro).
Fontes israelitas têm apontado para uma longa operação militar. “Ela não vai ser fácil e não será curta”, disse o ministro da Defesa, Ehud Barak, em declarações à televisão. Israel não pretende obrigar o Hamas a colaborar numa solução. O que estamos a assistir é à implementação do Plano Dagan, tal como inicialmente foi formulado em 2001, que previa uma invasão do território palestino, assegurada por cerca 30 mil soldados israelitas, com a missão claramente definida de destruir as infra-estruturas da liderança palestiniana e de recolher armas actualmente na posse das diversas forças palestinianas, e expulsar ou matar a sua liderança militar. (Ellis Shulman, op. cit., com particular enfase).
A questão mais ampla é saber se Israel, em consultas com Washington, tratou da intenção de desencadear uma guerra mais ampla.
A expulsão em massa dos palestinianos poderia ocorrer numa fase posterior à invasão terrestre, com os israelitas a abrir as fronteiras da Gaza para permitir um êxodo da população. A expulsão foi referida por Ariel Sharon como uma solução do género da de 1948. Para Sharon é apenas necessário “encontrar outro estado para os palestinos e a Jordânia é a Palestina” foi a frase que Sharon (Tanya Reinhart, op. cit.).”
(*) http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=11606
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