terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sabemos que terminou uma era mas não sabemos o que vem aí, diz Eric Hobsbowm


Tal como temos feito noutros casos deixamos uma posição que consideramos relevante embora susceptível de muitas apreciações críticas nomeadamente a generalização de que a esquerda não tem capacidade para enquadrar o que vem aí, , uma implícita aceitação da evolução dos acontecimentos necessàriamemte no quadro do capitalismo.

O académico inglês Eric Hobsbawm é referido como um dos mais influentes historiadores vivos pela revista New York Review. Marxista, é autor de uma brilhante produção académica ao longo dos últimos três séculos de história ocidental. Nos seus 91 anos, diz que o descalabro financeiro é equivalente do colapso da URSS e do fim de uma era. "Sabemos que terminou uma época, mas não sabemos o que vem aí", disse ele há dias, numa longa entrevista concedida à BBC, em Londres, onde reside. Este é um trecho desse diálogo.

- Será que o estatismo vai regressar?

- É sem dúvida a mais grave crise do capitalismo desde os anos 30. Penso que esta crise é mais dramática para os mais de 30 anos de uma certa ideologia teológica, a do mercado livre. Para tal como Marx, Engels e Schumpeter tinham previsto, a globalização, que é inerente ao capitalismo, não só destrói um legado histórico, como também é incrivelmente instável: opera através de uma série de crises. E esta está a ser reconhecida como o fim de uma época específica. Sem dúvida, vai passar-se a falar mais de John Keynes e menos de Milton Friedman. Todos concordam que haverá um maior papel para o Estado. Já vimos o estado como prestamista de último recurso. Talvez regressar à ideia do Estado como o empregador de último recurso, que é o que foi o que aconteceu nos EUA com o New Deal. De qualquer forma será uma aventura de intervenção pública e de iniciativa, que irão orientar, organizar e dirigir também a economia privada. Será uma economia muito mais mista do que tem sido.

- E em relação ao Estado como um redistribuidor?

- Acho que vai ser pragmático como dantes. O que tem acontecido é que, nos últimos 30 anos, o capitalismo global tem operado de uma maneira volátil, excepto, por diversas razões, em países desenvolvidos. Eles têm sido mantidos até um certo ponto, à margem, e, por conseguinte, isso tem sido minimizado. No Brasil nos anos 80, no México nos anos 90, no sudeste da Ásia e na Rússia na década de 90, na Argentina em 2000.Todos sabiam mundo que estas coisas podiam trazer catástrofes no curto prazo. E para nós isso significaria enorme quedas na Bolsa de Londres, mas de seguida, seis meses mais tarde, recomeçamos de novo. Agora, temos os mesmos incentivos que tinhamos nos anos 30: se nada for feito, o perigo político e social é profundo.

- Você estava na Alemanha quando Hitler chegou ao poder. Pode acontecerer qualquer coisa remotamente similar?

- Nos anos 30 o efeito líquido político a curto prazo da Grande Depressão foi o fortalecimento da direita, com duas excepções. Uma deles foi Escandinávia e,curiosamente, os Estados Unidos, onde as reacções foram equivalentes às que B ush teve. Para a esquerda as coisas não correram bem até que chegou a guerra. Por isso, eu acho que este é o principal perigo. A esquerda é praticamente inexistente. Então, parece-me que o principal beneficiário deste descontentamento, novamente, com a possível excepção, de pelo menos, assim o espero, os Estados Unidos, vai ser a direita.

- O que vemos agora é o equivalente à queda da URSS para a direita?

- Sim, eu acho que isto é o equivalente ao dramático colapso da União Soviética. Agora sabemos que ele terminou uma era. Não sabemos o que virá. Temos um problema intelectual: nós achava que eles tinham duas alternativas, ou uma ou outra: ou o mercado livre ou socialismo. Penso que temos de parar de pensar em uma ou outra, e temos de pensar sobre a natureza da mistura.

- Acredita que regressaremos à linguagem do marxismo?

- Em certa medida, é isso que tem sido feito. É bastante estranho que a redescoberta de Marx tenha sido feita por empresários, uma vez que não existe esquerda. Desde a crise dos anos 90, são os empresários que começaram a falar em termos de dizer: "Bem, Marx previu esta globalização do capitalismo e podemos pensar que o capitalismo está confrontado com uma série de crises. Não creio que a linguagem marxista seja predominantemente política, mas intelectualmente, a natureza da análise marxista sobre a forma como opera o capitalismo será realmente importante.

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