Quanto à primeira, estaremos de acordo. A crise é caldo de cultura que potencia a violência que, sob diversas formas, existe na sociedade. Isso exige que estado e outras instituições em vez de ensaiarem grandes desarrincanços de pendor mediático que provoquem o aumento da perigosidade, apresentem as questões, desautorizem os especuladores de audiências, definam prioridades de medidas preventivas ou operacionais imediatas, contribuindo para a serenidade, compreensão do fenómeno e do que se faz para lidar com ele e alertado para apelos que favoreçam derivas securitárias do Estado e das comunidades.
Quanto à segunda questão, há realojamentos e realojamentos. Há diferentes etnias com diferentes modos de habitar. Há mediações que se têm que estabelecer entre as comunidades e as entidades públicas que promovem, com objectivos positivos (que deverão resultar das próprias opiniões dos interessados e do saldo positivo em termos de qualidade de vida), os realojamentos.
A disponibilização de terrenos de barracas e casas abarracadas para negócios imobiliários não podem ser o único factor a ter em conta quando se procura a sua sustentabilidade.
Estes processos envolvem também maior periferização de camadas realojadas, correndo-se o risco de criação de guetos se os realojamentos forem neste sentido e culturalmente homogéneos.
O convívio inter-cultural é um interessante termo para mostrar que se é politicamente correcto mas escamoteia a complexidade dos processos de que as entidades públicas se não podem alhear.
As experiências de realojamentos, com os estudos já feitos e a fazer, com a preocupação de identificar que melhores práticas se seguirão são essenciais. Não há juízos definitivos que se possam tirar já.
Quanto à terceira questão. É verdade que o governo anda alheado de muita coisa e que prefere estar presente em cenários programados de acordo com a sua agenda. A abordagem destas matérias, como se infere do que disse a propósito da primeira e da segunda questões, tem que ser encarada com serenidade o que não significa ausência. O governo mandou a governadora civil aos primeiros embates. Esperamos que o silêncio signifique que se está a fazer alguma coisa, em discussão com as “partes”. Ou será que o governo só vai esperar “eficácia” da intervenção policial, como ontem declarou Vitalino Canas?
Bom senso e falar verdade têm andado arredados da prática governativa como o provam as alterações previstas para o Código do Trabalho, a relação com os agriculturas ou as perspectivas da economia portuguesa.
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