terça-feira, 8 de julho de 2008

Shalimar o Palhaço, de Salman Rushdie

Não foi fácil abstrair-me do papel que desempenharam Os Versículos Satânicos num combate multifacetado contra o mundo islâmico, independentemente da vontade do seu autor, quando Bush e os seus mais directos aliados já estavam nessa campanha bem isolados das opiniões públicas.
Rushdie, hoje com sessenta e um anos é inglês, nascido em Bombaim, de uma família abastada muçulmana mas com forte influência britânica. A sua atitude perante os conflitos em Cachemira leva-o a uma distribuição de responsabilidades entre India e Paquistão, como se a Inglaterra e os Estados Unidos não tivessem criado o caldo de cultura para o fundamentalismo e a divisão étnica. A sua atitude, a que simplistamente se poderia chamar pró-ocidental, está evidente na assimilação de factos históricos desses sessenta anos.


Neste belo romance, publicado anos depois da apostasia dos Versículos, o cenário recorrente de diferentes períodos de seis décadas, da 2ª guerra mundial até aos dias de hoje, é a região da Cachemira, num contexto de divisão da India impulsionada pelo Paquistão.

No centro da ficção encontra-se Shalimar, equilibrista de uma trupe de circo da aldeia de Pachigam dirigida por Abdulah, seu pai, que se viria a entregar às delícias da cozinha e fornecimento de banquetes. Em aldeia próxima, de maioria hindu, Shirmal, o pandita, cria Boonyi, uma dançarina de delicada sensualidade, orfã de uma força da natureza, Pamposh, que, como outros mortos vão acompanhando os personagens. Boonyi e Shalimar apaixonam-se e tornam-se amantes. Contra eles se levantam fanáticos e o comandante militar da região, que também se enamorara de Boonyi. Mas as duas aldeias, dando continuidade a uma relação que ultrapassara quizílias religiosas, defendem o casal. Shalimar jura a Boonyie que se ela o trocar por outro homem, matará ambos e os filhos que resultarem dessa união.

O "mullah de ferro", Bulbal Fakh, faz crescer a sua influência em Shirmal e, contra o pandita, vai corroendo a coexistência entre as duas aldeias até ser expulso para se vir a encontrar mais tarde a liderar um dos grupos guerrilheiros que antes e depois da guerra indo-paquistanesa, afronta a

Índia com o apoio do Paquistão.

Um enviado da administração americana, Maximilian Ophuls, com missões anti-terroristas na qualidade de embaixador na India, nomeado pelo presidente Johnson, vem da Resistência

Francesa, passa pela espionagem inglesa e norte-americana e ascende com sua mulher na consideração junto da comunidade indiana. Mas cai em desgraça quando se apaixona por Boonyi a bailarina, que, não o amando, o aproveita para subir na vida.

Desta relação nasce India Ophuls, que é retirada à mãe pela mulher de Max e tem uma juventude problemática que tenderá a estabilizar quando Max assume a função de pai.

A profecia de Shalimar não é porém de cumprimento linear...


Trata-se de um belo romance, por alguns tratado como de realismo mágico, de facto uma fábula mágica em moldes clássicos,onde perpassam paixões e violências.
É um livro a lêr.
Shalimar o Palhaço
Salmon Rushdie
2006
Publicações D. Quixote
Ficção Universal
22,50 euros

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