terça-feira, 19 de junho de 2012

Sobre as eleições gregas

O governo que a direita (ND) e os socialistas (PASOK) vão formar na Grécia assenta em 42% de votos em ambos os partidos nas eleições de domingo.
Por outro lado os partidos que se opunham  ao pacto de estabilidade assinado pelo PASOK com a troika há 2 anos, recolheram nestas eleições 45% dos votos (excluídos os nazis, com 7% e 18 deputados).
Em termos de deputados isto corresponderia a 112 para os primeiros e 120 para os segundos. Porque passará na Assembleia um governo que corresponde a uma minoria? Porque o sistema eleitoral grego atribui  mais 50 deputados "de borla" ao partido mais votado e a ND que elegeu 79 passa a ter 129 deputados!...

O resultado é negativo para o movimento popular na medida em que a ND, com o seu carácter anti-social, irá aprofundar as negativas políticas seguidas pelo PASOK. O Syriza com a posição dogmática de se manter no Euro e na UE desfoca as perspectivas de saída crise. O combativo Partido Comunista (KKE) perdeu apoio eleitoral  com as ilusões no Syriza. Os nazis ostentam força apesar de terem diminuído ligeiramente em relação à eleição de Maio
.
Não devem estar "aliviados", como os media têm referido, os causadores e beneficiários da crise, os dirigentes da UE, os banqueiros e tutti quanti dos que querem aprofundar a austeridade, o empobrecimento das populações, a perda de salários e outros direitos dos trabalhadores, e continuar a afastar o crescimento e o emprego.
Comparando esta eleição com a de Maio passado, a ND passou de 18,9 para 29,7 %, o que reflecte deslocações de votos derivadas da brutal campanha nacional e internacional contra os gregos, com ameaças e chantagens violentas. O Syriza passou de 16,8 para 26,9 %, como reflexo de deslocações baseadas à esquerda na "utilidade" do voto para retirar a ND de partido mais votado. O Partido Comunista sofreu, como outros, essa deslocação.
O PASOK que, em Maio, perdera a maior parte do seu eleitorado para o Syriza, devido à elevada responsabilidade da política de austeridade que foi contestada em embates sociais frequentes e de grande envergadura. A sua presença neste novo governo completa a descaracterização "socialista" do PASOK.

Portanto, o que destas eleições sai será um governo com apoio parlamentar maioritário mas com apoio social minoritário.

2 comentários:

Augusto disse...

O Syriza é dogmático, ( segundo o que escreveu), porque não propõe a saída do Euro, e da União Europeia.

Como em Portugal, ( que eu saiba), o PCP também não propõem a saída do Euro e da UE, parto do principio, que o PCP é dogmático.

António Abreu disse...

Não se trata do mesmo, tanto quanto julgo saber. O Syriza tem nessa atitude uma posição que não parece estar dependente da evolução desta UE e deste euro. E ser mais, como agora se diz, uma atitude "estruturante" em matéria de integração europeia. O PCP opôs-se aos termos concretos em que se deu a adesão à CEE e à criação do euro e aos vários tratados complementares. E nunca fechou a porta à saída de ambos. Há certamente questões de oportunidade política, de confronto cada vez mais agudo entre esses vínculos e a nossa perda de soberania e de autodeterminação produtiva e de criação de emprego, de manutenção do nosso quadro constitucional de direitos liberdades e garantias que poderão levar a uma actualização de posição. O próximo congresso no final do ano irá certamente discutir e deliberar sobre este tipo de matérias.