A
foto que aqui se reproduz foi publicada pelo site da BBC como
ilustrando o massacre de Houla cometido alegadamente pelo exército
sírio. No entanto foi captada em 27 de Março de 2003 no sul do
Iraque pelo fotógrafo Marco di Lauro. Dá que pensar…
O
massacre de Houla, atribuído sem reservas pela comunicação social
de grande dimensão e pelos governos dos países ocidentais ao
exército sírio, parece ainda ter muito por explicar, como sabem
diplomatas da ONU conhecedores dos meandros em que se movem alguns
observadores enviados pelos serviços do secretário geral das Nações
Unidas.
A BBC, com todo o prestígio que lhe é atribuído, também
sem reservas, publicou no seu site esta foto das vítimas do massacre
de Houla com a legenda de que teria sido facultada por “um
activista” mas cuja autenticidade não poderia ser verificada.
O
fotógrafo italiano Marco de Lauro teve menos dúvidas sobre a
autenticidade da foto e do “activista”: a foto é de sua autoria
e foi tirada em 27 de Março de 2003 no Iraque, ao sul de Bagdad,
poucos dias depois de iniciada a invasão norte-americana do país.
Foi o que Di Lauro, fotógrafo da agência Getty Images, explicou ao
diário britânico The Telegraph
Com base nas informações que
têm vindo a lume sobre sucessivos “massacres” alegadamente
cometidos pelas autoridades sírias os governos dos países da união
Europeia, entre os quais Portugal, estão a expulsar ou a retirar
credenciais aos embaixadores da Síria, considerando assim o regime
como único responsável pela violência – que o próprio
secretário geral da ONU já qualifica como “guerra civil”. A
Administração Obama afirma, na sequência destes acontecimentos,
que o passo que se segue tem que ser a substituição do regime de
Damasco – embora sem expor a metodologia para concretizar o
objectivo.
Meios de comunicação com menor dimensão, menor
penetração, ou simplesmente abafados, têm dado informações mais
completas. Explicam que esquadrões da morte treinados na Turquia e
no Kosovo com apoio norte-americano, constituído por mercenários
fundamentalistas islâmicos, estão a ser infiltrados em zonas sírias
através das fronteiras turcas e libanesa para manterem a
desestabilização no país e impedirem o funcionamento do cessar
fogo.
Os massacres de cidadãos inocentes, entre os quais dezenas
de crianças, estão a ser cometidos em coincidência com a visita
dos observadores da ONU com a missão de analisarem a concretização
do chamado Plano Annan. Coincidem também com a data prevista para
iniciar a aplicação da segunda fase do plano, as negociações
políticas entre Damasco e a oposição, na qual o regime se tem
mostrado muito mais interessado do que a oposição, pelo menos os
grupos de índole islamita apoiados pela Turquia, Qatar, Arábia
Saudita, Estados Unidos e União Europeia.
O mundo não tem
dúvidas sobre a realidade que é o carácter violento e autoritário
do regime da família Assad; o recurso a fotos como esta levanta,
porém, outras questões, como a da manipulação e a falsificação
da informação em torno da realidade que se vive na Síria. E também
sobre o carácter das “fontes” privilegiadas, sejam elas
“activistas”, blogues patrocinados por serviços secretos
ocidentais e organizações ditas de direitos humanos surgidas de um
momento para o outro.
Este não é o primeiro caso de manipulação
de fotos e vídeos. Nos últimos tempos da guerra contra a Líbia, a
mesma BBC publicou imagens de manifestações anti-Khaddafi em
Tripoli que correspondiam a uma manifestação muito anterior
realizada na Índia e que tinha a ver com assuntos indianos; e foi
demonstrado que o primeiro vídeo divulgado pela Al-Jazeera sobre os
festejos resultantes da queda de Khaddafi foram anteriores à própria
realidade e fabricados numa encenação montada no Qatar em que foi
simulada (com erros crassos) uma praça de Tripoli.
A pergunta de
fundo é: se a realidade é a que se diz e se explica com tanta
convicção que razão leva a que se fabriquem as supostas provas do
que se afirma?
Nota
de AA
1.
O que os media nos têm transmitido sobre o ataque à Síria:
-
Omite a versão do governo sírio, remetendo-a para curtas e
insignificantes citações off. Pelo
contrário
a "oposição" tem sempre porta-vozes, bem vestidinhos
produzindo declarações ao
vivo
algures em países da NATO;
-
As imagens confusas, como tivessem sido colhidas por repórteres em
fuga, de "massacres"
não
são identificáveis e não podem constituir suporte para quaisquer
declarações;
-
As chamadas forças de oposição, como é sabido, estão a actuar na
Síria com mercenários e
material
militar de países da NATO e com apoio em serviços secretos - únicos
capazes de
realizar
alguns dos atentados que mais vítimas produzem, mas nas "notícias"
tudo aparece
embrulhado
como se a responsabilidade fosse do regime.
2.
A posição de Putin de estar de acordo com o afastamento de Assad
irá facilitar, na minha opinião, uma sucessão de acontecimentos
que poderá desembocar numa tragédia semelhante à da Líbia.
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