sexta-feira, 22 de junho de 2012

No Paraguai prepara-se golpe contra o Presidente eleito pelo povo


Após confrontos da polícia contra camponeses, de que resultaram 17 mortos (6 polícias e 11 camponeses),os comunistas paraguaios exigem a Reforma Agrária e denunciam o golpe em curso contra Fernando Lugo, presidente eleito directamente pelo povo.
Confrontos violentos pela posse de terras são comuns no Paraguai, onde a maior parte das áreas produtivas está nas mãos de uma pequena parte da população.

Reagindo ao desfecho trágico do confronto, Lugo demitiu imediatamente o responsável governamental pela segurança interna, Carlos Filizzola, e o comandante da Polícia Nacional, Paulino Rojas.

O Congresso, maioritariamente da oposição, na sequência destes acontecimentos, aprovou um processo de impeachment (destituição) do presidente.

«Basta de criminalizar as lutas dos camponeses. Está na hora de terminar com o latifúndio e com a impunidade dos usurpadores e senhores da terra no nosso país, como Riquelme e as transnacionais produtoras de soja», diz o Partido Comunista do Paraguai, para quem «os culpados desta crise sangrenta são os que recusam acatar medidas de elementar justiça como a reforma agrária», a qual, defende ainda o Partido, deve avançar «mediante a recuperação das terras roubadas e a expropriação das parcelas improdutivas e a sua distribuição pelos trabalhadores rurais e comunidades indígenas».

O juízo político, como é denominada a medida votada no Congresso paraguaio, foi proposto pelos dois tradicionais Partidos de direita deste país, o Colorado e o Liberal Radical Autentico – este, Partido do vice-presidente da República –, com base num rito sumário, sem direito ao contraditório, a partir da comoção gerada pelo massacre, durante a desocupação de uma fazenda em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção. A fazenda em questão é propriedade que foi sacada ao Estado por um ex-senador do Partido Colorado, Riquelme.
Há fortes indícios de que as mortes foram provocadas a partir da infiltração de provocadores entre os camponeses, visando desestabilizar o cenário político paraguaio, num momento em que já se discute a sucessão do presidente Lugo, cujas eleições ocorrerão em Abril de 2013. O alvo é claro: impedir a continuidade de um governo progressista a frente do Palacio de los Lopez.
"Não vou renunciar"

Não vou renunciar”, disse Lugo em conferência de imprensa transmitida pela televisão ontem.

Na manhã desta quinta, a Câmara dos Deputados aprovou, por 73 votos contra um, o impeachment do presidente. Os manifestantes pró-governo tomaram o local após a saída de partidários do impeachment do presidente, enquanto as forças policiais assumiam posições estratégicas em torno do Congresso, incluindo atiradores de elite.
"Estamos aqui para protestar contra este julgamento do nosso presidente, um representante genuíno do povo", gritava Manuel Martinez, um manifestante que dizia ser um dos coordenadores da manifestação.

Apoiantes do Presidente manifestam-se diante do Congresso


A proposta seguiu hoje para o Senado

O Congresso apresentou ainda ontem a “acusação” contra Lugo ao Senado., controlado pela oposição.

Na conferência de imprensa, Lugo declarou: "As nossas conquistas, particularmente na área social, geraram reacções de sectores insensíveis e egoístas que sempre viveram com privilégios e nunca quiseram compartilhar os benefícios da prosperidade com o povo.

Na tarde de hoje, ocorrerão a “defesa”do presidente, a avaliação das provas, as alegações finais das partes e a sessão que definirá o "veredicto".

Lugo, ex-bispo católico, chegou à presidência com a promessa de fazer uma reforma agrária. Mas a iniciativa foi bloqueada pelo Congresso, dominado pela oposição. O presidente, de 61 anos, não pode segundo a Constituição paraguaia tentar um segundo mandato. A oposição,que determinou essa medida constitucional, depois da eleição de Lugo, tem explorado uma série de “escândalos” de paternidade. No início do mês, Lugo afirmou que reconheceria a paternidade de um segundo filho, um menino de 10 anos. Desde a eleição de Lugo quatro outras mulheres disseram serem mães de filhos do presidente. 

Os principais opositores do presidente são os grandes proprietários com particular destaque para os agrários mas também a hierarquia da Igreja. Esta, aliás, encontrou-se com Lugo ontem para lhe exigir que renunciasse. Da delegação da Igreja fazia significativamente parte o bispo das forças armadas...forças armadas em que alguns estão a tentar criar atitudes golpistas com apoio dos EUA.

Numa reunião de emergência realizada paralelamente à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, os presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) aprovaram o envio de uma missão de chanceleres para acompanhar o julgamento. A missão será integrada pelo chanceler brasileiro, Antonio Patriota, e pelo secretário-geral da Unasul, o venezuelano Alí Rodríguez, que acaba de assumir o posto.

O presidente Lugo tornou-se em 2008 o primeiro presidente a quebrar a hegemonia de seis décadas do Partido Colorado no poder, incluindo os 35 anos do regime militar comandado por Alfredo Stroessner (1954-1989).
O Paraguai é o quarto fornecedor mundial de sementes de soja. As disputas de terra aumentaram nos últimos anos quando os produtores procuraram mais áreas para o cultivo do produto, que lidera as exportações do país. Lugo prometeu terras para 87 mil famílias sem-terra, mas fracassou nesse objectivo devido ao Congresso.

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