Após
confrontos da polícia contra camponeses, de que resultaram 17 mortos
(6 polícias e 11 camponeses),os comunistas paraguaios exigem a
Reforma Agrária e denunciam o golpe em curso contra Fernando Lugo,
presidente eleito directamente pelo povo.
Confrontos
violentos pela posse de terras são comuns no Paraguai, onde a maior
parte das áreas produtivas está nas mãos de uma pequena parte da
população.
Reagindo
ao desfecho trágico do confronto, Lugo demitiu imediatamente o
responsável governamental pela segurança interna, Carlos Filizzola,
e o comandante da Polícia Nacional, Paulino Rojas.
O Congresso, maioritariamente da oposição, na sequência destes acontecimentos, aprovou um processo de impeachment (destituição) do presidente.
«Basta
de criminalizar as lutas dos camponeses. Está na hora de terminar
com o latifúndio e com a impunidade dos usurpadores e senhores da
terra no nosso país, como Riquelme e as transnacionais produtoras de
soja», diz o Partido Comunista do Paraguai, para quem «os culpados
desta crise sangrenta são os que recusam acatar medidas de elementar
justiça como a reforma agrária», a qual, defende ainda o Partido,
deve avançar «mediante a recuperação das terras roubadas e a
expropriação das parcelas improdutivas e a sua distribuição pelos
trabalhadores rurais e comunidades indígenas».
O
juízo político, como é denominada a medida votada no
Congresso paraguaio, foi proposto pelos dois tradicionais Partidos de
direita deste país, o Colorado e o Liberal Radical Autentico –
este, Partido do vice-presidente da República –, com base num rito
sumário, sem direito ao contraditório, a partir da comoção gerada
pelo massacre, durante a desocupação de uma fazenda em Curuguaty,
250 km a nordeste de Assunção. A fazenda em questão é propriedade
que foi sacada ao Estado por um ex-senador do Partido Colorado, Riquelme.
Há fortes indícios de que as mortes foram provocadas a partir da infiltração de provocadores entre os camponeses, visando desestabilizar o cenário político paraguaio, num momento em que já se discute a sucessão do presidente Lugo, cujas eleições ocorrerão em Abril de 2013. O alvo é claro: impedir a continuidade de um governo progressista a frente do Palacio de los Lopez.
Há fortes indícios de que as mortes foram provocadas a partir da infiltração de provocadores entre os camponeses, visando desestabilizar o cenário político paraguaio, num momento em que já se discute a sucessão do presidente Lugo, cujas eleições ocorrerão em Abril de 2013. O alvo é claro: impedir a continuidade de um governo progressista a frente do Palacio de los Lopez.
"Não vou renunciar" |
“Não
vou renunciar”, disse Lugo em conferência de imprensa transmitida
pela televisão ontem.
Na
manhã desta quinta, a Câmara dos Deputados aprovou, por 73 votos contra
um, o impeachment do presidente. Os
manifestantes pró-governo tomaram o local após a saída de
partidários do impeachment do presidente, enquanto as forças
policiais assumiam posições estratégicas em torno do Congresso,
incluindo atiradores de elite.
"Estamos
aqui para protestar contra este julgamento do nosso presidente, um
representante genuíno do povo", gritava Manuel Martinez, um
manifestante que dizia ser um dos coordenadores da manifestação.
Apoiantes do Presidente manifestam-se diante do Congresso |
A proposta seguiu hoje para o Senado
O Congresso apresentou ainda ontem a “acusação” contra
Lugo ao Senado., controlado pela oposição.
Na conferência de imprensa, Lugo declarou: "As nossas conquistas, particularmente na área social, geraram reacções de sectores insensíveis e egoístas que sempre viveram com privilégios e nunca quiseram compartilhar os benefícios da prosperidade com o povo.
Na
tarde de hoje, ocorrerão a “defesa”do presidente, a
avaliação das provas, as alegações finais das partes e a sessão
que definirá o "veredicto".
Lugo,
ex-bispo católico, chegou à presidência com a promessa de fazer
uma reforma agrária. Mas a iniciativa foi bloqueada pelo Congresso,
dominado pela oposição. O presidente, de 61 anos, não pode segundo
a Constituição paraguaia tentar um segundo mandato. A oposição,que
determinou essa medida constitucional, depois da eleição de Lugo, tem
explorado uma série de “escândalos” de paternidade. No início
do mês, Lugo afirmou que reconheceria a paternidade de um segundo
filho, um menino de 10 anos. Desde a eleição de Lugo quatro outras mulheres disseram serem mães de
filhos do presidente.
Os
principais opositores do presidente são os grandes proprietários
com particular destaque para os agrários mas também a hierarquia da
Igreja. Esta, aliás, encontrou-se com Lugo ontem para lhe exigir que
renunciasse. Da delegação da Igreja fazia significativamente parte
o bispo das forças armadas...forças armadas em que alguns estão a
tentar criar atitudes golpistas com apoio dos EUA.
Numa reunião de emergência realizada paralelamente à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, os presidentes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) aprovaram o envio de uma missão de chanceleres para acompanhar o julgamento. A missão será integrada pelo chanceler brasileiro, Antonio Patriota, e pelo secretário-geral da Unasul, o venezuelano Alí Rodríguez, que acaba de assumir o posto.
O
presidente Lugo tornou-se em 2008 o primeiro presidente a quebrar a
hegemonia de seis décadas do Partido Colorado no poder, incluindo os
35 anos do regime militar comandado por Alfredo Stroessner
(1954-1989).
O
Paraguai é o quarto fornecedor mundial de sementes de soja. As
disputas de terra aumentaram nos últimos anos quando os produtores
procuraram mais áreas para o cultivo do produto, que lidera as
exportações do país. Lugo prometeu terras para 87 mil famílias
sem-terra, mas fracassou nesse objectivo devido ao Congresso.
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