segunda-feira, 11 de junho de 2012

NATO está a preparar uma manipulação em larga escala para conquistar a Síria, por Thierry Meyssan





Em poucos dias, talvez já na sexta-feira, 15 de Junho ao meio dia, os sírios que quiserem assistir aos seus canais nacionais deixarão de o poder e verão nos seus ecrans programas de televisão criados pela CIA. Imagens de estúdio sobre massacres serão atribuídos ao governo, manifestações públicas, ministros e generais apresentando a sua demissão, o Presidente al-Assad fugindo de avião, e os rebeldes reunindo-se no coração das grandes cidades, e um novo governo a instalar-se no palácio presidencial.

Esta operação, conduzido directamente de Washington por Ben Rhodes, vice-Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, visa desmoralizar os sírios e permitir um golpe de Estado. A NATO, que torneará assim o veto duplo da Rússia e da China, para ter sucesso e conquistar a Síria sem ter de atacá-la “ilegalmente”. Seja qual for a opinião sobre os acontecimentos actuais na Síria, um golpe acabaria com toda a esperança de democratização.

A Liga Árabe deu indicações ao Arabsat e aos operadores de satélites Nilesat para pararem a retransmissão dos meios de comunicação sírios, públicas e privadas (Síria TV, Al-Ekbariya, Ad-Dunya, Ham TV etc.). Já houve um precedente, quando a Liga usou a censura da televisão líbia para impedir os líderes da Líbia de comunicarem com seu povo. Não existe rede hertziana na Síria, onde os televisores são exclusivamente de satélite. 
Mas este corte não vai deixar as telas pretas.
Na verdade, esta decisão é apenas a ponta de um iceberg. Consta que várias reuniões internacionais foram realizadas esta semana para coordenar a operação de intoxicação. As duas primeiros, técnicas, realizadas em Doha (Qatar), a terceira política, realizada em Riade (Arábia Saudita).

A primeira reunião teve a participação de oficiais de guerra psicológica "embedded" em alguns canais por satélite, incluindo a Al-Arabiya, Al Jazeera, BBC, CNN, Fox, France 24, TV Futura, MTV. Sabemos que desde 1998 os oficiais da "Unidade do Exército dos EUA de operações psicológicas” (PSYOP), foram incorporados na redacção da CNN, e que depois esta prática foi estendida pela NATO a outras estaçõesestratégicas. Prepararam com antecedência informações falsas, de acordo com o "story tellings” (contar histórias) desenvolvido pela equipe de Ben Rhodes na Casa Branca. Foi desenvolvido um procedimento de validação cruzada, devendo cada mídia publicar as mentiras dos outros para tornar credíveis. Os participantes também decidiram não só comandar as cadeias da CIA para a Síria e Líbano (Barada, Future TV, MTV, Notícias Médio, Síria Shaab, Síria Alghad), mas também cerca de quarenta canais de obediência wahhabita que que apelarão ao massacre sectário ao grito de "cristãos em Beirute, os alauítas para o túmulo! "

O segundo encontro reuniu engenheiros e realizadores para planear o fabrico de imagens de ficção, misturando uma parte de estúdio a céu abert e outra de imagens de sínteses no estúdio de computação gráfica. Foram construídos estúdios nas últimas semanas na Arábia Saudita para recriar os dois palácios sírios usados pela presidência da República e as principais praças de Damasco, Aleppo e Homs. Já existiam estúdios semelhantes em Doha, mas eram insuficientes.

A terceira reunião contou com a presença do general James B. Smith, o embaixador dos Estados Unidos, um representante do Reino Unido, e o príncipe Bandar Bin Sultan (como o presidente George W. Bush designou um filho adotivo, a tal ponto que a imprensa dos EUA o trata por "Bandar Bush" ).Nsta foram coordenados os meios de comunicação e deo"Exército sírio livre", cujo grosso da força de trabalho são mercenários do príncipe Bandar.

A operação preparada há meses foi precipitada pelo Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos depois de o presidente Putin ter avisado a Casa Branca que a Rússia que se iria opor pela força a qualquer intervenção militar ilegal da NATO na Síria.

Ela tem dois objectivos: Por um lado difundir falsas informações e, por outro, censurar qualquer tentativa de resposta.

O apagamento dos satélites para as televisões não é um facto novo. Sob a pressão de Israel, os EUA e a UE silenciaram sucessivamente canais libaneses, palestinianos, iraquianos, libaneses e iranianos.

A difusão de notícias falsas já foi feita noutras alturas. Mas na última década foram transpostos quatro passos fundamentais na arte da propaganda
  • Em 1944, um a estação de música pop, a Rádio Livre das Mil Colinas deu um sinal para o genocídio no Ruanda fazendo o apelo para "A morte de todos os cafards!".
  • Em 2001, a NATO utilizou os mídia para impôr uma interpretação dos atentados do 11 de Setembro e para justificar os ataques ao Iraque. Nessa época, foi Ben Rhodes quem foi indigitado pela administração Bush para redigir o relatório da comissão Kean/Hamilton sobre os atentados.
  • Em 2002, a CIA utilizou cinco canais, a Televen, a Globovision, a Medidiano a ValeTV, para fazer crer que grandiosas manifestações tinham obrigado o presidente eleito da Venezuela, Hugo Chavez, a se demitir, quando acabava de ser vítima de um golpe militar.
  • Em 2011, a França fazia de facto de gabinete do ministério da informação do Conselho Nacional Libanês. Na batalha de Tripoli, a NATO produziu em estúdio e difundiu através da Al-Jazeera e da Al-Arabiya, a imagem de rebeldes líbios a entrarem na praça central da capital, quando ainda estavam longe da cidade, de maneira a que os habitantes, convencidos que a guerra fora perdida, cessaram toda a resistência.
Mas, para além disto os media não se contentam já em apoiar a guerra. Fazem-na.
Esta atitude viola os princípios-base do direito internacional, a começar pelo Artº. 19 da Declaração Universal dos Direitos do homem, relativa ao facto "de receber e difundir, sem limites de fronteiras, as informações e as idéias por qualquer meio de expressão, seja ele qual fôr".
E, além disso, viola as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas, adoptadas depois da 2ª Guerra Mundial, para impedir as guerras. As resoluções 110, 381 e 819 proíbem "os obstáculos à livre troca de informações e de idéias" (no caso concreto o silenciamento das cadeias sírias) e "a propaganda  tendente a provocar ou encorajar qualquer ameaça à paz, acabar com a paz, ou qualquer outro acto de agressão". Em direito a propaganda da guerra.


3 comentários:

Anónimo disse...

É preciso ter muita informação para saber ir buscar a que é verdadeira. Não é fácil... obrigada pela partilha!!

Maria

Graciete Rietsch disse...

Que extraordinária imagem!!!!!

Um beijo.

Anónimo disse...

O que é preciso mesmo, é ter inteligência e capacidade para saber ler nas entrelinhas, saber filtrar a "informação". Técnica que ja soubemos usar, alguns de nós e que hoje volta a ser bem necessária.
MG