domingo, 31 de julho de 2011

Lembrando Mário Castrim - no dia em que faria 91 anos, por Alice Vieira




Do "LIVRO DOS SALMOS" SALMO 16 Multiplicaram os poderosos os seus deuses. Nem seus nomes direi porque em mim estás e não tem preço a herança que me coube. De alegria serão as minhas preces a ti que para sempre me colocate na terra dos homen...s. Dos outros nem o nome. ------------------------------​--------------- ------------------------------​----------------------- SALMO 37-- II Fui novo. Envelheci e guardei a memória da justiça. À beira do caminho o soberbo esperou para matar-me. Alastrou sua árvore frondosa. Porém segui. Quando por lá voltei já nada havia. ------------------------------​----- ------------------------------​ SALMO 82 Dos deuses é missão os oprimidos defender, bem assim os órfãos e os humildes. Arrancá-los às maõs dos predadores. Que não fazendo assim, os deuses morrem como morrem os homens. ----------------------------- ----------------------------- SALMO 90 Não valem mais mil anos que um só dia ou uma noite de insónia Passamos como um sonho da manhã erva que, mal nascida, já está seca Pela atribulação, pela miséria de que a nossa grandeza derivou nós aprendemos a contar os dias. A gratidão por isso te devemos ------------------------------​- ------------------------------​----- SALMO 97 Odiar, odiemos a perfídia. Saudemos as ilhas numerosas que brilham na lonjura enevoada. Maus tempos se aproximam para os deuses do nada. ---------------------------- ----------------------------- SALMO 101 Encontrar-me contigo não me basta mas sim que me conheças. Eis aqui a minha casa. Entra. Vê como se está nela e, nela, como somos. Aqui nenhum irmão se calunia nem a mentira manda. O homem falso não se sente aqui bem. Cada manhã fazemos da Nação o julgamento. Tu saberás depois, ao encontrar-me, de que metal meu coração é feito ------------------------------​------ ------------------------------​--------------- SALMO 105 Foi o tempo das águas convertidas em sangue. Tempo dos peixes mortos. Râs invadindo tudo.Tudo. Até os palácios dos reis. E vieram os insectos videiras destroçadas destroçadas as árvores Foi o tempo dos jovens que morreram morrendo a esperança da virilidade. Mas nós, com o teu manto sobre os ombros, atravessando as noites, escapámos. E herdámos a riqueza dos vencidos. ------------------------------​--- ------------------------------​-------------------------- SALMO 106-- II De novo desprezei as tuas terras e desacreditei tua palavra. Organizei a desobediência dentro de cada tenda. E tu juraste de mão eguida, que ias destruir-me dispersar meus parentes pelo mundo. Resisti. Conheci os meus parentes outros povos e usos. Adorei seus ídolos. Caí nas armadilhas dia a dia me fui prostituindo. Mandaste que de novo me oprimissem e com raiva feroz me castigassem. Voltas a perdoar-me, a libertar-me. Voltarei a ofender-te e tu mil vezes voltas a libertar-me, e eu a ofender-te. Assim vamos os dois. Aleluia! ---------------------------- ------------------------------​----- SALMO 112. Feliz será a geração dos justos pos haverá abundãncia em sua casa Feliz a luz clemente e generosa Feliz o homem que se compadece e do que é seu empresta a seus irmãos e distribui o pão da sua boca. Feliz o coração que não vacila. Pois não se sabe ainda outra maneira de ser eterno ---------------------------- ------------------------------​----------------- SALMO 127 Não foi em vão que levantei a casa Não foi em vão que defendi a cidade E que fiz serão alta noite e que me levantei de madrugada. Frutos de mim levo os meus filhos pela mão Por eles, sem receio ou sem vergonha enfrentarei aquele que chegar às portas da cidade. Os filhos são as setas que o guerreiro manda longe. Nada, pois, foi em vão. Aqui estamos às portas da cidade. ------------------------------​--------------------------- ------------------------------​------------------------------​--------- SALMO 143 A minha alma é como a terra árida e como os que já estão há muito tempo mortos Mas os dias de outrora mas estender meus braços para ti dizem-me que afinal é um caminho Estou a ponto de desfalecer mas irei. Mas irei. -------------------------- ------------------------------​----------- SALMO 146 Conheço as tuas obras sei do que és capaz sei que estás sempre ao lado do lado mais difícil de estarmos neste mundo. Mas sei principalmente que contigo não perco nunca a ideia de mim ------------------------------​------------ ------------------------------​----------- MÁRIO CASTRIM, "Do Livro dos Salmos", ed. Campo das Letras, 2007.

3 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Lembro Castrim com saudade e admiração. Tive oportunidade de o conhecer e de receber dele palavras de estímulo quando, jovem poeta, colaborei entusiásticamente no saudoso "Juvenil" do Diário de Lisboa. A acção dele a esse nível foi notável.

Pedro da Silva Gernano disse...

Muitas vezes tenho pensado no vazio em que a sua "partida" deixou a defesa da nossa língua: a sua crónica diária era de leitura obrigatória no saudoso "Diário de Lisbôa". Agora já sabemos "bem sabidos" das razões pretensamente só económicas que estiveram por detrás da sua substituição pelo "Público" e quejandos. Desabafo: Quem nos defende agora da enxurrada de banalidades, da falta de idoneidade para defender a cultura a todo o custo? Estamos mil vezes pior do que na antiga "apagada e vil tristeza", alterados que estão os valores da honestidade política e mesmo intelectual.
Pedro Germano, antigo professor e doutorado em Estudos Portugueses pela Sorbonne, Paris IV

Anónimo disse...

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