sábado, 21 de março de 2009

Sobre os acontecimentos em Madagáscar (1)

Os acontecimentos dos últimos dias em Madagáscar, segundo o Le Monde de hoje, terão tido como uma das origens, para além de outras que têm sido referidas, a cedência de centenas de milhar de hectares terras já cultivadas por agricultores malgaches e outras do Estado que o presidente deposto pretendia fazer, por 50 anos, à multinacional Varun Internacional, através da sua filial sul-coreana Daewoo, para aí fazer a plantação intensiva de arroz (em 80% da terra), milho e lentilhas, um agro-negócio de 1,5 mil milhões de euros para dez anos.
A operação faz parte da procura da Índia, através de uma outra empresa indiana, em aumentar as exportações de arroz do Madagáscar para a Índia dos 20% da produção actual para 60% da produção daqui a dez anos.
A terra seria arrendada pela empresa aos agricultores devendo estes entregarem 30% das respectivas safras, realizadas com uma produtividade muito mais elevada (passando no que respeita ao arroz de 3 para 12 toneladas por hectare).
Naturalmente que o negócio tinha contra-partidas, entretanto aceites pelo anterior presidente de modernização de métodos, de modernização de equipamentos agrícolas e criação de infra-estruturas como a electrificação, escolas e centros de saúde, fornecimento de água potável.
O Estado recolheria benefícios mas os principais interessados – os agricultores – não estavam a par do negócio.
O novo presidente, Andry Rajoelina, anunciou que iria anular a cedência destes 1,3 milhões de hectares. E agora a Varun procura demarcar-se da Daewoo dizendo que, ao contrário dela, não quer despedir mas sim contratar os camponeses dessas terras.
Até agora os camponeses estavam esmagados pelas taxas de juro da banca e de intermediários credores para produzirem mas tinham já criado cerca de 2500 caixas de poupança (bancos locais de arroz) que tinham retirado parte dessa pressão a cerca de 45 mil famílias dedicadas a esta produção.
O golpe de Estado, apesar de rejeitado, compreensivelmente, por muitos países (nenhum esteve na tomada de posse de hoje do novo presidente), teve um imenso apoio popular e das forças armadas que apoiaram o jovem Andry Rajoelima a protagonizar a mudanças desejadas.
Esta é uma questão a acompanhar, com procura de informação que não seja apenas a dos clichés das agências internacionais.

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