Os acontecimentos dos últimos dias em Madagáscar, segundo o Le Monde de hoje, terão tido como uma das origens, para além de outras que têm sido referidas, a cedência de centenas de milhar de hectares terras já cultivadas por agricultores malgaches e outras do Estado que o presidente deposto pretendia fazer, por 50 anos, à multinacional Varun Internacional, através da sua filial sul-coreana Daewoo, para aí fazer a plantação intensiva de arroz (em 80% da terra), milho e lentilhas, um agro-negócio de 1,5 mil milhões de euros para dez anos.A operação faz parte da procura da Índia, através de uma outra empresa indiana, em aumentar as exportações de arroz do Madagáscar para a Índia dos 20% da produção actual para 60% da produção daqui a dez anos.
A terra seria arrendada pela empresa aos agricultores devendo estes entregarem 30% das respectivas safras, realizadas com uma produtividade muito mais elevada (passando no que respeita ao arroz de 3 para 12 toneladas por hectare).

Naturalmente que o negócio tinha contra-partidas, entretanto aceites pelo anterior presidente de modernização de métodos, de modernização de equipamentos agrícolas e criação de infra-estruturas como a electrificação, escolas e centros de saúde, fornecimento de água potável.
O Estado recolheria benefícios mas os principais interessados – os agricultores – não estavam a par do negócio.
O novo presidente, Andry Rajoelina, anunciou que iria anular a cedência destes 1,3 milhões de
hectares. E agora a Varun procura demarcar-se da Daewoo dizendo que, ao contrário dela, não quer despedir mas sim contratar os camponeses dessas terras.Até agora os camponeses estavam esmagados pelas taxas de juro da banca e de intermediários credores para produzirem mas tinham já criado cerca de 2500 caixas de poupança (bancos locais de arroz) que tinham retirado parte dessa pressão a cerca de 45 mil famílias dedicadas a esta produção.
O golpe de Estado, apesar de rejeitado, compreensivelmente, por muitos países (nenhum esteve na tomada de posse de hoje do novo presidente), teve um imenso apoio popular e das forças armadas que apoiaram o jovem Andry Rajoelima a protagonizar a mudanças desejadas.
Esta é uma questão a acompanhar, com procura de informação que não seja apenas a dos clichés das agências internacionais.
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