sexta-feira, 13 de março de 2009

Passaram 90 anos sobre o assassinato de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht


Polaca, nascida em 5 de Março de 1871, Rosa Luxemburgo envolveu-se desde muito jovem em actividades estudantis, lutando contra o sistema repressivo então vigente nos colégios da Polónia. Militante activa do movimento socialista, teve que deixar o seu país em 1889 para não ser presa. Em Zurique fez seus estudos de Economia, concluindo essa fase de aprendizagem com uma tese de doutoramento sobre "O Desenvolvimento Industrial na Polónia".
A partir de 1894, juntamente com Leo Jogiches, Rosa Luxemburgo teve período de luta contra a visão nacionalista do Partido Socialista Polaco, assumindo a liderança na criação da Social-democracia do Reino Unido da Polónia.
Mas é a partir de 1898, com sua transferência para a Alemanha, que Rosa Luxemburgo se torna personagem destacada entre os socialistas europeus. Nesse período participa numa das principais polémicas do movimento operário internacional, na medida que se contrapõe aos artigos de Eduard Bernstein, produzindo um competente e actual material contra o revisionismo e o reformismo, transcrito na obra "Reforma ou Revolução". Durante o período da polémica, Rosa afirma que o movimento dos trabalhadores deveria lutar por reformas, mas que isso não bastaria para abolir as relações capitalistas de produção – o movimento operário jamais poderia perder de vista a conquista do poder pela revolução.
Outro momento importante na vida da militante Rosa Luxemburgo deu-se durante os primeiros anos no início do século, quando da discussão sobre a organização dos socialistas. Naquela oportunidade polemiza com Lenine sobre a organização do Partido Social-Democrata dos Trabalhadores Russos. Há historiadores que afirmam que é a partir da revolução de 1905 na Rússia que Rosa Luxemburgo desenvolve sua teoria revolucionária. O certo é que sua publicação de 1906, “Greve de Massas, Partido e Sindicato", ainda hoje é uma das principais peças teóricas sobre partido e movimento de massas – "A revolução russa ensina-nos assim uma coisa: é que a greve de massas nem é “fabricada” artificialmente nem “decidida” ou “difundida” no éter imaterial e abstracto, é tão-somente um fenómeno histórico, resultante, num certo momento, de uma situação social a partir de uma necessidade histórica". A sua preocupação residia em desenvolver uma ideia estratégica, sem se afastar do compromisso com a revolução socialista, contra a inércia burocrática do Partido Social-Democrata, procurando vincular a greve às exigências transformadoras da sociedade, num desafio global contra a ordem capitalista. "A “revolução” e a “greve de massas” são conceitos que não representam mais do que a forma exterior da luta de classes e só têm sentido e conteúdo quando referidas a situações políticas bem determinadas".
É durante esse período (1903 a 1906) que Rosa desenvolve a sua teoria sobre democracia operária, movimento de massa, sempre preocupada em dar respostas concretas às necessidades da luta de classes e fundamentalmente da organização revolucionária do operariado. Também é nesse período que os seus adversários recolhem informações para caracterizá-la como expontaneísta quando Rosa, ao longo de toda a vida, foi uma pessoa organizada. Mas isso não a impediu de afirmar que: "a massa não é apenas objecto da acção revolucionária; é sobretudo sujeito".
Durante sua militância, Rosa Luxemburgo dedicou também tempo ao estudo académico, em particular ao desenvolvimento do capitalismo. Segundo alguns pensadores socialistas é nesse período que produz sua mais importante contribuição teórica, em particular à teoria económica, "A Acumulação do Capital", datada de 1912, onde desenvolve as suas ideias sobre as origens e crescimento do capital, relacionando-as com o desenvolvimento histórico do sistema capitalista. É nessa obra que Rosa, não só disseca o fenómeno da reprodução do capital, mas também desenvolve a sua compreensão e posição sobre a fase imperialista do capital. Em tese desenvolve um amplo combate as posições revisionistas e adaptadas de teóricos ditos de esquerda, mas que empurravam a classe operária para os braços da burguesia.
Durante a primeira guerra mundial, Rosa Luxemburgo liderou as posições contrárias ao envolvimento da classe trabalhadora nesse conflito, esclarecendo seu carácter imperialista e portanto, negando qualquer participação operária nessa guerra do capital. Quando em 4 de Agosto de 1914 a bancada do Partido Social-Democrata (o seu partido) votou a favor dos créditos de guerra e Rosa Luxemburgo disparou uma série de ataques à direcção do partido que culminou com a publicação do texto "A Crise da Social-Democracia", também conhecido como "O Folheto Junius", publicado em 1915, no qual faz a seguinte afirmação sobre a guerra: "A demência não terá fim, o sangrento pesadelo do inferno não vai parar até que os operários da Alemanha, da França, da Rússia e da Inglaterra despertem de sua embriaguez, apertem fraternalmente as mãos e afoguem o coro brutal dos agitadores belicistas e o grito das hienas capitalistas no poderoso grito do trabalho – “Proletários de todo o mundo, uni-vos!"
No período em que esteve presa, Rosa Luxemburgo escreveu, entre outros textos, o importante documento sobre a Revolução Russa de 1917. Além de esclarecer, de uma vez por todas, as convergências e divergências com as posições de Lenine, "A Revolução Russa", redigida no verão de 1918, é uma das principais obras sobre o socialismo no mundo. Enaltece a iniciativa revolucionária dos bolcheviques e destaca a importância da Revolução Russa no cenário internacional, mantendo, porém, a sua concepção crítica sobre a violência revolucionária e a defesa da democracia proletária.
Mesmo presa, Rosa Luxemburgo não deixou da fazer política, com o seu núcleo de esquerda, no qual participavam, entre outros, Karl Liebknecht. Que continuou dentro do Partido Social-democrata, até ser expulso. Actuava com programa próprio (redigido por Rosa, em Janeiro de 1916) conhecido como "Princípios Directores" ou "Directivas". Esse núcleo foi historicamente conhecido como a "Liga Spartacus". Em 1917 o Partido Social-democrata expulsou não só os espartaquistas como também um grande grupo de oposição. Esse grupo, do qual participa a Liga Spartacus, dá origem ao "Partido Social-Democrata Independente". Registe-se que a Liga se manteve organizada no novo PSDI, conservando a sua organização e a sua política. Os espartaquistas permaneceram no PSDI até que este decidiu participar do governo. Em 29 de Dezembro de 1918 a Liga decide fundar o Partido Comunista Alemão. A Alemanha vivia um autêntico período revolucionário (particularmente em Novembro e Dezembro de 1918 e Janeiro de 1919), com amplas greves, motins na marinha de guerra, soldados confraternizando com o Exército Russo, com insurreições operárias. As autoridades mostravam-se impotentes para enfrentar as rebeliões; os conselhos de operários e soldados cresciam e fortaleciam-se. Pelo contrário, o Partido Social-Democrata defendia desesperadamente a convocação da Assembleia Constituinte, numa clara posição a favor da ordem capitalista.
Por força do movimento social, que a cada momento "ganhava" as ruas, Rosa Luxemburgo é posta em liberdade em Novembro de 1918 e vai reforçar a luta pela revolução socialista. Ao lado de Karl Liebknecht, aposta cada vez mais no movimento de massas, na greve de massas, dirigindo todas acções do então criado Partido Comunista Alemão. Colocou-se claramente em defesa dos conselhos operários e soldados, fortalecendo-os e dotando-os de destacado papel político na construção do poder revolucionário dos trabalhadores. Enquanto socialista, Rosa Luxemburgo sabia mais do que ninguém que o futuro nos reservaria o "socialismo ou a barbárie".
Em 15 de Janeiro de 1919 Rosa Luxemburgo foi brutalmente retirada, juntamente com o companheiro Karl Liebknecht, do "aparelho" em que se mantinha clandestina e assassinada, cobardemente por paramilitares ao serviço do governo social-democrata alemão. Um tiro levou sua vida, sumiram com seu corpo, mas nunca conseguiram ofuscar a grandeza de suas ideias.
(Texto apoiado no Bandeira vermelha)

Epitáfio de Rosa Luxemburgo

Aqui jaz
Rosa Luxemburgo,
judia da Polónia,
vanguarda dos operários alemães,
morta por ordem dos opressores.
Oprimidos,
enterrai as vossas desavenças!
Bertolt Brecht

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