domingo, 26 de abril de 2009

Pare e escute a música...


Um tipo entra numa estação de metro de Nova Iorque vestindo jeans, t-shirt e boné.

Encosta-se próximo da entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que por ali passa a com pressa, pela manhã.
Durante os 45 minutos que tocou o instrumento, foi praticamente ignorado.
Ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, que executava peças consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.
Alguns dias antes Bell tocara no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a “bagatela” de 1000 dólares.
A experiência, que poderá encontrar gravada em video,na net, mostra que homens e mulheres de andar rápido, copo de café na mão, telemóvel ao ouvido, ficam indiferentes ao som do violino. Só uma mulher o reconheceu...A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post tinha como intenção lançar um debate sobre valor, contexto e arte.

Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefacto de luxo sem etiqueta com glamour.

Conclusão do jornal: Compramos a forma e o marketing da apresentação e não o conteúdo. Só estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão no contexto convencionado.
E eu acrescentaria: não há uma educação musical, não há capacidade de distinguir sons nem a qualidade ao produzi-los, o show-bizz acantonou o espectáculo em espaços remunerados e a rua foi deixada para uma animação turística de qualidade duvidosa (mas melhor que nada) ou para a publicidade tantas vezes demencial, as pessoas correm com pressa e com as cabeças ocupadas pelos seus problemas e circulam insensíveis ao belo, ao prazer e aos outros a que a rua dá uma outra dimensão porque a fruição pública também contribui para acabar com os nichos estanques de mercado, os gostos únicos que ajudam a rentabilizar os investimentos das editoras de forma inversamente proporcional à cultura musical que é, depois, remetida para os salões a preços absurdos para contribuir para o afastamento dos gostos e a sua consagração como mercadoria de luxo que dê estatuto e como adorno em cuja sensibilidade não quer descobrir a inquietação da existência.

sábado, 25 de abril de 2009

Tapeçarias de Allina Ndebeli (África do Sul)










José Saramago sobre Eduardo Galeano


Grande alvoroço nas redações dos jornais, rádios e televisões de todo o mundo. Chávez aproxima-se de Obama com um livro na mão, é evidente que qualquer pessoa de bom senso achará que a ocasião para pedir um autógrafo ao presidente dos Estados Unidos é muito mal escolhida, ali, em plena reunião da cúpula, mas, afinal, não, trata-se antes de uma delicada oferta de chefe de Estado a chefe de Estado, nada menos que "As veias abertas da América Latina de Eduardo Galeano".

Claro que o gesto leva água no bico. Chávez terá pensado: "Este Obama não sabe nada de nós, quase que ainda não tinha nascido, Galeano lhe ensinará".
Esperemos que assim seja. O mais interessante, porém, além de se terem esgotado "As veias" na Amazon, as quais passaram num instante de um modestíssimo lugar na tabela de vendas à glória comercial do "best-seller", de cinquenta e tal mil a segundo na classificação, foi o rápido e parecia que concertado aparecimento de comentários negativos, sobretudo na imprensa, tratando de desqualificar, embora num caso ou noutro com certos matizes benevolentes, o livro de Eduardo Galeano, insistindo em que a obra, além de se exceder em análises mal fundamentadas e em marcados preconceitos ideológicos, estava desatualizada em relação à realidade presente.
Ora, As veias abertas da América Latina foi publicada em 1971, há quase quarenta anos, portanto, a não ser que o seu autor fosse uma espécie de Nostradamus, só com um hercúleo esforço imaginativo seria capaz de adiantar a realidade de 2009, tão diferente já dos anos imediatamente anteriores.
A denúncia dos apressados comentadores, além de mal intencionada, é bastante ridícula, tanto como o seria a acusação de que a História verdadeira da conquista da Nova Espanha, por exemplo, escrita no século 17 por Bernal Díaz del Castillo, abunda, também ela, em análises mal fundamentadas e em marcadíssimos preconceitos ideológicos.
A verdade é que quem pretender ser informado sobre o que se passou na América, naquela América, desde o século 15, só ganhará em ler o livro de Eduardo Galeano. O mal daqueles e outros comentadores que enxameiam por aí é saberem pouco de História. Agora só nos falta ver como aproveitará Barack Obama da leitura de "As veias abertas". Bom aluno parece ser.

Fonte: O Caderno de Saramago, blog de José Saramago.

Passado, presente, futuro

Mãos dadas, de Carlos Drummond de Andrade


Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos,
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.


Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Exército do Sri Lanka mata cerca de 6500 civis na região tamil

Cerca de 6500 civis mortos e muitos mais milhares feridos terá sido o resultado do ataque brutal das forças armadas do Sri Lanka contra o povo tamil nestes últimos dias.


O bispo de Jaffna tinha proposto ao exército e aos rebeldes tamiles um plano de emergência para a evacuação dos civis, o acesso imediato naquela área do Programa Mundial de Alimentos (PMA), agência humanitária das Nações Unidas, e o envolvimento da ONU nessa crise a fim de proclamar um cessar-fogo que permitisse aos enviados da organização verificar as reais condições da população civil.

Por muitas dúvidas e discordâncias que tenhamos em relação a métodos utilizados pelos Tigres Tamil, importa denunciar esta situação, exigir inquéritos e a punição dos responsáveis por este genocídio.

A atitude da ONU já nos últimos dias foi o apelo aos Tigres Tamil para se renderem, o que terá acontecido com muitos, como se fossem estes os responsáveis pela artilharia do Sri Lanka que continuava a atacar os improvisados hospitais Tamil.
A situação no terreno para as pessoas na região de Tamil prolonga-se há vários dias sem alimentação nem medicamentos.
A Associated Press citava hoje um trabalhador ONU “Eu vi crianças com disenteria, crianças desnutridas e mulheres feridas, e as pessoas vestidas com as roupas esfarrapadas que vestiam há meses”.

A ilha do Sri Lanka está dividida entre uma maioria cingalesa e principalmente budista e a minoria tamil. As divisões que foram semeadas pelo Império Britânico cresceram a partir das lutas pelo poder após a partida das tropas britânicas.
A guerrilha dos Tigres Tamil, que nasceu na década de 1970, luta há 25 anos contra o exército para obter um Estado independente no norte e no leste da ilha, áreas do país onde a etnia tamil tem maior presença. Desde então, quase 100 mil pessoas morreram no país vítimas do conflito.
Mas também os cingaleses pobres se levantaram contra os seus governantes racistas, em várias ocasiões. Um delas, a mais dramática na década de 1970, após o qual o movimento foi esmagado e desviado pela retórica anti-tamil. O governo do Sri Lanka está prestes a contratar um grande empréstimo com o FMI, que virá com a exigência de novas reduções do bem-estar das populações, mais privatizações. E procura desviar os protestos contra o povo tamil.

Há alguns meses, o presidente cingalês Mahinda Rajapakse fez uma promessa a seu povo - seu exército iria derrotar os Tigres do Tâmil antes do final do ano. Embora batalhas violentas tenham continuado até as últimas semanas de 2008, a vitória veio com dois dias de atraso, no segundo dia de 2009. Tropas cingalesas retomaram a cidade de Kilinochi, no norte do país, considerada por muitos anos a capital não-oficial da região tamil.
Nos últimos dias houve protestos em todo o mundo, nomeadamente em cidades inglesas e francesas em que desfilaram cerca de 200 mil pessoas, protestando contra a não aceitação por parte do governo de uma trégua.

Frase de fim-de-semana, por Jorge


"Se queres que os teus sonhos se tornem realidade, não te deixes adormecer."


Provérbio ídiche

Abril. De novo...



Na véspera do 25 de Abril o exercício, por parte de quem os viveu, de comparar os períodos anterior e posterior ao acto revolucionário, acontece quase de forma involuntária.
Para alguns isso é saudosismo, são coisas passadas. Esquecem que cada ser humano não o é fruto apenas do presente. Cada um assume a sua história, tendo-a ou não vivido. Cada um de nós é memória. E a memória é tanto mais vida quanto o futuro não é claro, muitos lutam pela sobrevivência e não se sentem a construir um futuro.
E mesmo quando esses alguns pensam que o podem tirar da memória, o acto de censura, evidente ou só mais tarde entendido, só dá mais força ao interesse em recuperar da memória.
Outros, ou os mesmos, sentem um temor nos dias de hoje. Não um temor pela fome, pelo desemprego, pela desagregação de relações familiares e sociais que elas provocam, mas tão só o temor das convulsões sociais que poderão provocar.
Outros, ou os mesmos, temem que essas convulsões sejam descontroladas, isto é, que eles não possam controlar. Porém os portugueses souberam reagir às privações, à sucessão de falsas promessas, dando sempre novas forças aos movimentos sociais e políticos que os representam especialmente nessas circunstâncias. Sem perda de espontaneidade mas dando ouvidos aos que interpretam as reivindicações imediatas e contribuam para que as lutas tenham sentidos, aos que decidiram assumir tais responsabilidades rejeitando as mordomias que lhes acenaram para mudarem de campo.
O período revolucionário permitiu a beleza e a alegria, soltou a poesia e a palavra. Mas teve, frequentemente, quer no plano militar quer no civil, organizações preparadas para que esse amor à liberdade não sofresse com os resultados de correlações de forças, frequentemente viciadas por contingências internas e externas.
Não interpretamos todos esse período da mesma maneira mas é sintomático que para uns o desejo de soltar a alegria e a combatividade permaneça e que para outros a comemoração popular seja um incómodo, um estorvo, um déja-vu a exigir outras formas de evocação como o acumular a poeira nas gavetas e nas orações de sapiência se para lá a deixássemos remeter.
Meus amigos, olhem para os portugueses e caminhem com eles. Não receiem a revolta.
Diz a História que é por aí que as coisas melhoram quando quem governa já não consegue ver.
E em que melhor Avenida expressar a Alegria e a Luta do que nessa que tem o nome da Liberdade.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Guernica, de Picasso




Ora digam lá então...

No início desta pré-campanha eleitoral levantaram-se vozes, que parecem já se ter calado, a defender que nela se tratassem de questões europeias e não nacionais.
Passe a incongruência do argumento, não deixarei de sugerir aos que assim pensam e sejam candidatos, a começar pelo professor de Coimbra, que dissertem sobre um tema:

Estamos ou não, através dos Barrosos, Solanas e demais operacionais e think-thankers, que têm circulado entre os meios da NATO, da UE e a Casa Branca, a construir uma aliança estratégica de carácter duradoiro da “supremacia” ocidental que, visa recuperar com o natural aggiornamento histórico, contra os “selvagens” além Cáucaso e Anatólia, os domínios coloniais de antanho.

E para, não nos embalarem com a retórica, que digam se estão ou não de acordo com esta sequência de declarações, produzidas no mandato que cessa do Parlamento Europeu, às quais se poderiam somar dezenas de vezes outras mais…

“A NATO e a EU trabalham hoje para melhorar missões fora das suas fronteiras para se adaptar aos desafios da segurança em constante mutação” (Nicholas Burns, então Secretário de Estado Norte americano, na Deutsche Welle, 13/04/2005);

“A colaboração multilateral ao nível europeu deve…colocar o acento tónico nas questões da defesa para ela se tornar credível. É necessário aceitar a constituição de unidades de combate no seio da EU, compatíveis com as forças da NATO, para formar a base de uma força anti-insurrecional europeia capaz de intervir nos estados a braços com guerras civis ou em contexto pós conflito” (G. Robertson e P. Ashdown, ideólogos de Blair e Brown, no Times, 12/06/2008);

“ (sobre uma operação naval no Golfo de Aden e Corno de África) Foi uma grande estreia para a EU porque se desenrolou fora do continente europeu…A operação Atalanta é um projecto ambicioso. A zona marítima a controlar é enorme” (porta-voz da NATO, à Rádio Netherlands, 21/11/2008);

“É necessária uma nova forma de governo em que a NATO, a EU e outras grandes organizações internacionais tenham um papel a desempenhar” (G. Di Paola, presidente do Comité Militar da NATO, no ADN Kronos International, Itália, 13/02/2009);

“É tempo de deixarmos de perguntar o que é que a NATO pode fazer pela EU para nos interrogarmos o que a EU pode trazer à NATO. E o Afeganistão é o local indicado para isso. Os melhores resultados só se poderão obter numa discussão tripartida que envolva a NATO, a EU e os EUA” (James Dobbins, primeiro embaixador americano depois da invasão de 2001, International Herald Tribune, 30/09/2005);

“As novas unidades da EU devem ser reforçadas por treinos regulares, de preferência de acordo com os padrões da NATO”
“Os dois organismos vão alargar a sua cooperação estratégica, para além dos Balcãs e do Afeganistão (…) como a Ucrânia ou a Moldávia”(Klaus Naumann, Defense News, 10/11/2005);

“A NATO já não é uma aliança estática…É uma aliança expedicionária que projecta as suas forças sobre todo o mundo…A Europa devia ultrapassar a herança amarga de Ialta, e apagar as fronteiras artificiais que dividiram o continente por tempo demasiado”# (George Bush, USA Today, 01/04/2008);

“ Cada país membro da NATO e cada Estado membro da EU estão interligados. Esse é o preço da abertura e da nova cooperação transatlântica” (Der Spiegel, 09/02/2009)

Cartoon de Monginho

in Avante!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Yes we can but... who said we want it?


Obama: esperança que se vai esvaindo...Nunca tive ilusões. Mas a longa preparação para a sua eleição em confronto com o legado de Bush criou-as em muitos.

Só referirei quatro casos entre muitos outros que vocês conhecem.

Cuba: o embargo de décadas feito pelos EUA vai continuar e se portas ficam abertas isso fica a dever-se à vontade da América Latina que faz dessa questão um ponto de honra, naturalmente com uns governos a serem nisso mais consequentes que outros que também sentem a pressão popular nesses sentido.

Mar Negro: os EUA projectam novas bases ofensivas na Geórgia e Ucrânia, depois das que instalou na Hungria e na Roménia, viradas contra a Rússia e o mundo árabe, animados pela vontade de dominarem novos territórios, gás e petróleo e as rotas do narcotráfico para financar essa expansão.

Direitos Humanos: não valem para os presos porque não se deve tocar, em nome da América, em torturadores, mesmo abrindo os dossiers das suas torturas.

Europa: sim senhor, desde que aceitem que as suas bases cheguem ao Cáucaso com o "incentivo" de novas adesões à UE, e esqueçam que a crise lhe saiu das entranhas e agravou ainda mais as consequências da política neo-liberal dos dirigentes europeus, e que a França se comprometa militarmente com a NATO, e nessa matérias andem todos alinhadinhos...
Racismo: claro desde que ninguém possa falar do caso israelita nos foruns em que participam.

Então o que quer Obama?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Homenagem a Miguel Serrano


Se ainda estivesse entre nós, Miguel Serrano completaria no mês que vem 87 anos.
Iniciou a profissão de jornalista no Jornal de Moura e aos trinta anos criou A Planície com outros jornalistas.
Trabalhou depois no Diário Ilustrado, na Cidade, no República, no Diário de Notícias e Vida Rural.
Foi chefe de redacção em o diário, onde o conheci no final dos anos setenta. Era um homem bom, empenhado, comprometido que deixou muitas saudades entre os que o conheceram.
Escreveu ainda quatro livros e peças de teatro para adultos e crianças.
A Câmara Municipal de Moura e o Sindicato dos Jornalistas promovem, a 23 de Abril, pelas 21 horas, uma homenagem ao jornalista Miguel Serrano, durante a qual será lançado o livro “Seara Resgatada”, uma colectânea de textos publicados pelo homenageado na década de 1950, no jornal “A Planície”.
A homenagem insere-se na Feira do Livro de Moura, coincide com o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor e é próxima do 25 de Abril, o que permitirá homenagear também todos os homens e mulheres ligados à cultura que nos tempos da ditadura remavam contra a corrente, bem como todos os que agora escrevem em liberdade

Pintura da Amadeo Souza Cardoso




domingo, 19 de abril de 2009

O fim do segredo bancário não chega...


Como já tem sido referido por alguns analistas, o fim do segredo bancário, só por si, pode ser importante para facilitar a observação de como se movimentam dinheiros de um lado para o outro no sentido de melhor identificar situações de corrupção e de branqueamento de capitais provenientes de actividades ilegais como o narcotráfico ou tráfico de armas, mas é insuficiente. Mas não é suficiente para chegar a todos os suspeitos que já foram beneficiando da engenharis financeira que recorre a outros meios.


O fim do sigilo bancário já tinha, aliás, sido consagrado na reunião do G-20, onde, entre outras coisas aí discutido e apresentado como meio privilegiado de evasão fiscal. Na sua declaração final, refere-se que "a era do segredo bancário terminou".
No entanto, hoje, metade do mercado offshore está concentrado em trusts, criações jurídicas anglo-saxónicas, que não precisam do sigilo bancário para se livrarem de impostos. Já não estamos perante um mercado de discrição bancária mas perante o das técnicas jurídicas de engenharia fiscal. Assim, a evasão fiscal tem-se transferido gradualmente para estas estruturas jurídicas legais. Os trusts tornaram-se o principal instrumento de evasão fiscal, a alternativa mais eficaz do sigilo bancário.

O trust é um veículo de direito anglo-saxónico, que permite a uma pessoa rica alienar os seus activos a fim de não aparecer como seu dono aos olhos do fisco. Se é "discricionário e irrevogável”, o banco que abre a conta pode não exigir a identidade do beneficiário. A pessoa que criou uma tal trust no estrangeiro não é tributado, pois já não é considerada como o proprietário dos seus bens. Quanto ao beneficiário do trust, que é em princípio tributável, a sua identidade não é exigida quando da abertura da conta.


As ilhas de Jersey e Guernsey, ambas territórios britânicos, são jurisdições especializadas na constituição de trusts. O mesmo acontece no caso de Delaware e das Caraíbas, que servem como um refúgio para o dinheiro "cinzento" dos Estados Unidos, bem como de Miami, que recolhe os capitais da América Latina que querem escapar aos impostos nos seus países. Singapura, que lida com fortunas asiáticas e europeias, tem aí a mesma função.Os principais bancos suíços também se lançaram no mercado dos trusts. Exigem pouca informação sobre os beneficiários dos trusts "discricionários e irrevogáveis", mas conservam a identidade da outorgante do trust.

Os bancos anglo-saxónicos tem constrangimentos bem menores, ao optar por apenas por informações sobre o contratante, o administrador, a sociedade de gestão e administração do trust. Permitindo-lhes, na verdade, obter uma completa falta de transparência das pessoas que pretendem fugir do imposto. Conseguem desta formauma ainda maior privacidade, sem qualquer segredo bancário no sentido formal desse termo. Mesmo que em investigações, as leis exijam a estas praças financeiras informações sobre os seus clientes, elas não podem fornecer informações que não têm...

Assim, as jurisdições anglo-saxónicas têm uma vantagem substancial sobre a Suíça, em caso de perda do sigilo bancário: a falta de transparência dos seus trusts é mais abrangente.

sábado, 18 de abril de 2009

Será que esta é a mulher que tem o melhor físico do mundo?

Não sabemos, não apurámos. Mas disponibilizou-se para um próximo casting...

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Frase de fim-de-semana, por Jorge



“As eleições são ocasiões em que grupos de investidores se juntam para investir no controlo do Estado"

Noam Chomsky

quinta-feira, 16 de abril de 2009

As eleições que hoje se iniciam na Índia

O processo eleitoral que hoje começa na Índia demorará cerca de um mês, ao qual se deverá somar o período de negociações para obter uma maioria que garanta um governo com alguma estabilidade já que poucos sãos que vaticinam que ou o Partido do Congresso, do actual Primeiro-Ministro Singh ou o Partido Bharatya Janata, de Advani obtenham maioria absoluta.
Pelo que se conhece das rampas de lançamento de qualquer um destes dois partidos, é quase certo que não irão tratar dos problemas do povo ou dopais, com consequências dramáticas resultantes da recessão à escala global. O Partido Comunista (Marxista) propõe uma alternativa política que ultrapasse esses silêncios dos dois maiores partidos, de pois de ter abandonado o apoio ao governo há meses devido ao acordo nuclear com os EUA.

Prakash Karat, secretário-geral dos comunistas, admite que das eleições possa sair uma terceira força ganhadora se os partidos regionais, em vez de continuarem a fazerem acordos com o Congresso ou o BJP, fizerem acordos entre si, beneficiando da sua experiência de governação e de quadros ao nível dos estados. Pela sua parte o PCI (M) tem experiências de entendimentos com outros três partidos de esquerda nacionais e seis outros regionais. Por isso defende uma Terceira Frente baseada em objectivos políticos comuns: políticas económicas para o bem-estar do povo, apoio firme ao secularismo, política externa independente abandonando o apoio à política norte-americana e a verdadeira implantação do federalismo.
Nas fotos, Prakash Karat e um comício do PCI(M) no mês passado.

Cartoon de Monginho

in Avante!

A origem histórica dos acontecimentos na Tailândia (3)

A monarquia, as forças armadas e os comunistas

Os manifestantes das camisas vermelhas dispersaram e regressaram aos seus locais de origem. Dezenas deles têm mandatos de captura e três dos seus dirigentes estão a enfrentar o tribunal militar.
Está em curso um revisionismo histórico sobre o passado recente da Tailândia que dê cobertura à criminalização e repressão contra os rebeldes que se renderam.
Nestes acontecimentos há coisas que têm que ser avaliadas com outro rigor incompatível com a aceitação dos pontos de vista da imprensa dominante na Tailândia, afecta ao Rei e à elite militar e económica da capital. Factos como se a manifestação só por si, e de acordo com a atitude dos manifestantes, ainda por cima com a passividade da segurança, justificaria a suspensão da reunião da ASEAN, qual o papel de um outro grupo colorido – os “camisas azuis” – tiveram nos confrontos iniciais, terão que ser avaliados.
A instituição monárquica e a regressão no regime democrático que está em curso há meses pelo governo que se manteve em funções saem abaladas.
A monarquia que deixara de ser absoluta em 1932, num golpe sem sangue, momento alto de arranque para uma democratização do país, tem tentado recuperar com um apoio das lideranças militares e uma fábula histórica massiva e omnipresente sobre o rei, as suas virtudes e qualidades, tem-se realizado há muitos anos.
Sem dúvida, tem um grande apoio popular e sectores de direita usam a sua imagem e procuram o seu apoio no combate político, acusando Thaksin de querer afastar o Rei, vista a fazer pesar mais no quadro jurídico o papel dos crimes de lesa majestade, verdadeiro garrote sobre a liberdade política de organizações, pessoas, a liberdade de imprensa. No imaginário de muita gente persiste o assassinato nunca esclarecido do seu irmão Ananda que sucedeu como Rei a seu pai que então abdicou. E é aceite a tese de que, evitando “o perigo comunista” queria impedir também a ditadura militar de direita. Mais tarde cimentada num “puxão de orelhas” aos autores do massacre de 1992.
É certo que o Rei Bhumibol pende para um dos lados mas tem tido algum distanciamento em relação a algumas confrontações políticas. O próprio Thaksin pediu hoje a sua intervenção para a confrontação não ir longe demais…
A monarquia enfrenta, por outro lado, um outro problema: o rei não viverá muito mais e o seu filho não tem carisma nem apoio popular. Desde 2001, com a eleição de Thaksin Shinawatra e a sua política de apoio ao campesinato, a imagem deste competiu com o rei à escala nacional. O golpe de 2006 que o depôs teve o apoio do rei que indicou um dos seus conselheiros, dirigente militar reformado, para primeiro-ministro – Surayud Chulanont. Este com uma curiosidade: era filho de um outro militar, Phayom Churadont, expulso das forças armadas por denunciar corrupção interna, que viria a passar à clandestinidade e tornar-se secretário-geral do Partido Comunista. E, no entanto, o filho, apesar de tratar o seu pai como um herói e um homem justo foi um dos principais perseguidores dos comunistas nos anos 70.
As questões agora surgidas ressurgirão, talvez com mais força. Os próprios “camisas vermelhas” parece que terão que ter uma direcção mais efectiva do movimento. O desaparecimento, na prática, do Partido Comunista da Tailândia nos anos 80/90, depois de cisões internas e, depois, da sua ilegalização, não foi total. As zonas de grande apoio da UDD e de Thaksin coincidem com as regiões libertadas durante os anos 60 e 70 pela guerrilha (guerra do povo) conduzida pelo PCT e as frentes populares que criou, que, como aconteceu com outros partidos comunistas da zona, seguiram as teses maoístas da evolução a partir do campo e relações internacionais equivalentes. As mudanças operadas nas posições da China, as bases americanas no território em apoio à agressão dos EUA ao Vietname, a solidariedade do governo com os khmers vermelhos, provocaram, por um lado, a identificação para os comunistas dos EUA como inimigo a combater mas também a realinhamentos políticos complexos. O investimento da monarquia e das chefias militares no combate anticomunista teve episódios dramáticos, como o já referido dos massacres da Universidade de Thammasat, de cujo movimento estudantil sairiam centenas de jovens quadros políticos, muitos deles do Partido Socialista que passaram depois a ter papel muito importante no campo e combateram as teses maoístas, enquanto outros dirigentes do PCT se envolveram na negociação do fim da guerrilha e no seu desarmamento e “perdão” pelo governo que foram os grandes factores de divisão e silenciamento do partido.
Não há dados para saber se as estruturas do PCT se mantiveram. Mas tudo indica que, mesmo informalmente terão persistido.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

O antepasssado do MP3...

" A Orquestra", de Raja Ravi Varma




Xutos e Pontapés animam a cena política


"Sem eira nem beira": aí está uma música, dirigida a um tal "senhor engenheiro", que vai marcar este período político. A não ser que me engane...
Ora, se não acreditam, ouçam lá...

terça-feira, 14 de abril de 2009

Arquitectura e escultura em Wat Phra Kaew, na Tailândia




Origem histórica dos acontecimentos na Tailândia (2)


os partidos de direita

Ontem e hoje a situação em Banguecoque e noutros pontos do país regressou, aparentemente, à normalidade. Os dirigentes dos camisas vermelhas (UDD) que estavam no palácio do governo renderam-se, depois de a polícia ter passado a uma fase de intervenção superior, em que terão ocorrido as primeiras mortes.
A situação vai continuar a ser tensa. As chefias militares e da polícia não são tão benevolentes com os camisas vermelhas como o foram com os camisas amarelas que interromperam a governação próxima da UDD, maioritária no país, e conseguiram o actual primeiro-ministro da sua côr. A gerneralidade da imprensa, afecta à direita, fez propaganda do catastrofismo para o país destas novas manifestações e o líder por quem os camisas vermelhas se batem está ausente e entendeu não regressar ao país no período em que os seus partidários cresciam de influência.

Mas retomaremos agora o fio à meada dos antecedentes dos acontecimentos que ontem iniciámos aqui.

Ao contrário dos actuais manifestantes que agora dispersaram e que usam camisa vermelha, e integram a Frente Unida pela Democracia contra a Ditadura (UDD, sigla correspondente ao nome em inglês), os activistas do PAD (também sigla em Inglês), usam camisas amarelas e tiveram papel destacado quando nos anos anteriores pressionaram com manifestações muito mais violentas que as actuais a queda de dois primeiro ministros que sucederam a Thaksin e que apontavam como seus apoiantes: Samak Sundarajev e Somchai Wongsawatt, ambos propostos pelo PPP que sempre tem ganho as eleições desde 2001, ao contrário do partido do actual primeiro-ministro
Nessas movimentações ocuparam o palácio do governo durante três meses e mantiveram o aeroporto de Banguecoque encerrado, o que provocou grandes prejuízos para o turismo, uma das principais fontes de receitas do país.
Na altura, em Dezembro do ano passado, o PAD só conseguiu que fosse nomeado um outro primeiro-ministro consigo alinhado, depois de ter conseguido alterar a composição do parlamento, obtendo a “transferência” de alguns deputados e alterando a composição política da maioria sem novas eleições. Foi assim que o actual Primeiro-ministro Abhisit, líder do Partido Democrata que também se batera pela queda de Thaksin.
O PAD é formado por monárquicos de direita, empresários e pessoas da classe média urbana. Foi criado, como dissemos no post anterior por um patrão dos média, Sondhi Limthongkul e é hoje dirigido por este e pelo ex-general Chamlong Srimuang, com influência entre alguns conselheiros do rei.
O PAD também já tinha liderado a movimentação contra Thaksin que terminou no golpe militar de 2006. Também aqui a violência nas ruas superou em muito a actual. Nessa altura, os militares indicaram como primeiro-ministro um militar conciliador e muito respeitado pelo Rei e pela população.
O PAD, expressão da elite do país, quer alterar o sistema eleitoral, com o fim do princípio “uma pessoa, um voto” em troca de uma representação por corporações profissionais e classes sociais, deixando transparecer que os camponeses – a grande maioria da população – não teriam maturidade para votar…
Quanto ao Partido Democrático, do actual primeiro-ministro, foi criado em 1946 e sempre foi um corpo conservador e anti-comunista, particularmente no período de grande influência comunista, que passou pelo massacre por militares afectos ao Partido Democrático, de dezenas de dirigentes estudantis e sindicais, em termos horríveis e de grande desumanidade, na Universidade de Thammasat, com a conivência do rei.
Depois do golpe militar de 2006, o carácter democrático retrocedeu na letra da 17ª Constituição que o país conheceu no ano seguinte. Esse foi um dos grandes objectivos das chefias militares.
Num país onde ainda tem grande peso o crime de “lesa-majestade”, afirmar-se republicano ou comunista é entendido como confrontação a monarquia que não pode ser questionada. Os jornalistas acatam essa imposição. O PAD e o Partido Democrático são os partidos que a querem fazer impor contra a vontade expressa da maioria dos tailandeses.
No próximo e último post desta série iremos referir-nos ao Rei, às Forças Armadas e ao extinto Partido Comunista da Tailândia.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Enfianço da cabeça na areia ou intempestivo defensismo?


A Ministra da Educação, que acompanhou José Sócrates a visitas em escolas sem alunos para sentar a comitiva e gravar para as televisões a antecipação (seguramente não determinada pelo calendário eleitoral...) de obras prometidas para algumas escolas que há anos as reivindicavam, não se limitou ao show-off.
Confrontada com várias notícias (não rumores...) de entidades responsáveis sobre casos de fome em escolas, reagiu prontamente classificando as notícias de alarmistas. A ministra não sabe nem conhece mas podia, ao menos, fazer o compasso de espera para se informar. E como foi nomeada ministra se não conhece esta realidade que tem tantos anos?
Sim, é verdade. Muitas crianças que comem nas escolas não têm outra refeição quente (ou fria) durante o dia. Porque os pais não têm recursos ou, tendo-os, têm uma inversão de prioridades de consumos. Quando durante anos acompanhei esta realidade em Lisboa, conheci pais que davam consolas e outro equipamento electrónico aos filhos mas que lhes não davam comida. Mas o que era frequente era a falta de recursos dos pais, desempregados ou com empregos precários, que impedia uma alimentação mìnimamente adequada. As crianças chegavam com fome à escola por não terem tomado o pequeno-almoço.

Que a Ministra não conheça isto, não admira. Os seus antecessores também não. Quando as autarquias, que enfrentavam a questão, reivindicavam mais apoios, sacudiam a água do capote...

Mas também é verdade que a Ministra, além de não saber, já sósabe envinagrar-se quando nem tudo se revela o paraíso em que ela vive...