Naquela noite dormi no Mar
Num 1 de Janeiro em Vila Nova de Milfontes (Odemira, Portugal) recordei-me de um leitão que comi no Cuando Cubango em 1982 em Angola. Era um leitão preto selvagem. Tivemos todos de correr para apanhar o porco. Corria como um cabrito selvagem .A guerra contra os sul-africanos fez uma estranha pausa. Os FAPLA foram passar o Natal a Casa , Os UNITA foram passar o Natal a Casa , Os racistas sul-africanos tinham ido passar o Natal a CASA . O VILAVERDE foi passar o Natal a Casa. Parecia o Natal da "Guerra do Solnado ".
Tinha ficado com os médicos e militares cubanos ,com dois engenheiros polacos que reparavam tanques em Menongue .
E de repente seria o 1 de Janeiro e os cooperantes cubanos queriam fazer a sua festa. Então corremos todos atrás dum porco preto. . Selvagem que não se deixava apanhar. Passava debaixo das minhas pernas ,de todas as pernas ,corria como um cabrito selvagem. Mas os cubanos riam como no basebol e tentavam apanhar o porco como uma bola em movimento. E de repente uma médica cubana como se fosse uma campeã de cem metros ,uma mulher belíssima de pernas longas e mãos largas mas suaves pareceu voar e conquistou o porco preto para o seu colo.
Era a pausa da Guerra ,havia uma cascata de gargalhadas.
No dia seguinte fomos assar o porco e fizemos a festa de Cuba com a alegria de Cuba ,com cantos e danças revolucionárias. Comemos um imenso bolo que era a Ilha de Cuba. Rimos .Chorámos. Naquela noite dormi no colo daquela belíssima médica de mãos de seda ,ternas. Naquela noite dormi no Mar.
Todos os dias morriam dos dois lados.. Angolanos dos dois lados .Muitos heróis cubanos. Sul Africanos dos dois Lados .
No dia seguinte fomos para Vissati . Centenas de pessoas saíram das matas para se entregarem ás FAPLAS . Enganadas por Savimbi queriam regressar .Não eram humanos eram esculturas de Giacometti , pinturas de Portinari , OSSOS de Pedro Costa ,esguias ,longas, riscos , SOMBRAS.
Os médicos cubanos amparavam as crianças com medo que morressem. Alguns morriam só com as papas de milho que os FAPLA lhes davam. Como se viver fosse demais..
A bela médica agora chorava. Lágrimas corriam-lhe pelos olhos. Os médicos cubanos todos choravam.
São como nós pensei. Loucos no Amor , Boémios na Festa. .E choram na guerra.
Lembrei-me disto em Milfontes em 1 de Janeiro. Juntei os patacos que me sobraram da reforma e fui comprar um Leitão para oferecer aos 2 médicos cubanos da Vila, Lembras-te Humberto Lopes ?. Para a sua Festa de 1 de Janeiro.
Depois corri para o Mar com o BE. Um Mar Azul me acariciava terno.
José João Louro
Num 1 de Janeiro em Vila Nova de Milfontes (Odemira, Portugal) recordei-me de um leitão que comi no Cuando Cubango em 1982 em Angola. Era um leitão preto selvagem. Tivemos todos de correr para apanhar o porco. Corria como um cabrito selvagem .A guerra contra os sul-africanos fez uma estranha pausa. Os FAPLA foram passar o Natal a Casa , Os UNITA foram passar o Natal a Casa , Os racistas sul-africanos tinham ido passar o Natal a CASA . O VILAVERDE foi passar o Natal a Casa. Parecia o Natal da "Guerra do Solnado ".
Tinha ficado com os médicos e militares cubanos ,com dois engenheiros polacos que reparavam tanques em Menongue .
E de repente seria o 1 de Janeiro e os cooperantes cubanos queriam fazer a sua festa. Então corremos todos atrás dum porco preto. . Selvagem que não se deixava apanhar. Passava debaixo das minhas pernas ,de todas as pernas ,corria como um cabrito selvagem. Mas os cubanos riam como no basebol e tentavam apanhar o porco como uma bola em movimento. E de repente uma médica cubana como se fosse uma campeã de cem metros ,uma mulher belíssima de pernas longas e mãos largas mas suaves pareceu voar e conquistou o porco preto para o seu colo.
Era a pausa da Guerra ,havia uma cascata de gargalhadas.
No dia seguinte fomos assar o porco e fizemos a festa de Cuba com a alegria de Cuba ,com cantos e danças revolucionárias. Comemos um imenso bolo que era a Ilha de Cuba. Rimos .Chorámos. Naquela noite dormi no colo daquela belíssima médica de mãos de seda ,ternas. Naquela noite dormi no Mar.
Todos os dias morriam dos dois lados.. Angolanos dos dois lados .Muitos heróis cubanos. Sul Africanos dos dois Lados .
No dia seguinte fomos para Vissati . Centenas de pessoas saíram das matas para se entregarem ás FAPLAS . Enganadas por Savimbi queriam regressar .Não eram humanos eram esculturas de Giacometti , pinturas de Portinari , OSSOS de Pedro Costa ,esguias ,longas, riscos , SOMBRAS.
Os médicos cubanos amparavam as crianças com medo que morressem. Alguns morriam só com as papas de milho que os FAPLA lhes davam. Como se viver fosse demais..
A bela médica agora chorava. Lágrimas corriam-lhe pelos olhos. Os médicos cubanos todos choravam.
São como nós pensei. Loucos no Amor , Boémios na Festa. .E choram na guerra.
Lembrei-me disto em Milfontes em 1 de Janeiro. Juntei os patacos que me sobraram da reforma e fui comprar um Leitão para oferecer aos 2 médicos cubanos da Vila, Lembras-te Humberto Lopes ?. Para a sua Festa de 1 de Janeiro.
Depois corri para o Mar com o BE. Um Mar Azul me acariciava terno.
José João Louro