quarta-feira, 30 de março de 2011

A crise portuguesa e a política de austeridade, por Paul Krugman

Não é a primeira vez que o Nobel da Economia exprime a sua discordância quanto a políticas de combate ao déficite que não resultem do relançamento da economia.
No jornal "i", do passado dia 26, volta à questão, referenciando o caso de Portugal. Aqui fica um pequeno excerto

"Cortar no défice com desemprego alto é um erro. Mas se os investidores desconfiam que estão perante uma república das bananas em que os políticos não enfrentam os problemas estruturais, deixam de comprar dívida e o défice dispara com os juros
O governo de Portugal caiu a pretexto de uma disputa relacionada com o programa de austeridade. Os juros da dívida pública irlandesa acabam de ultrapassar os 10% pela primeira vez. Já o governo do Reino Unido reviu em baixa as perspectivas económicas e em alta as previsões do défice.

Que têm em comum todos estes acontecimentos? Todos são provas de que a redução da despesa em períodos de desemprego elevado é um erro. Os defensores da austeridade prevêem que esta produza dividendos rápidos sob a forma de aumento da confiança económica, com poucos ou nenhuns efeitos negativos sobre o crescimento e o emprego; o problema é que não têm razão."

terça-feira, 29 de março de 2011

Passam agora 58 anos sobre a execução de Julius e Ethel Rosenberg nos EUA


"Um júri reunido em Nova Iorque, EUA, deu Ethel e Julius Rosenberg como culpados do crime despionagem a favor da União Soviética, a quem teriam passado informação sensível sobre a bomba atómica americana. A sentença de morte dos Rosenberg seria proferida a 5 de Abril do mesmo ano. Documentos provenientes dos arquivos russos indicam que Julius tinha, de facto, ligações aos comunistas, mas a dúvida subsiste até hoje relativamente a Ethel. Ambos negaram o seu envolvimento em operações de espionagem. Este caso foi o detonador de um período de grande intolerância nos EUA, nos anos 1950, liderado pelo senador Joseph McCarthy e a sua Comissão de Investigação das Actividades Antiamericanas, popularmente conhecido como “caça às bruxas”. O processo gerou uma onda de protestos e acusações internacionais de anti-semitismo (os réus eram judeus americanos), com tomadas de posição a favor do casal da parte de Jean-Paul Sartre, Albert Einstein, Dashiel Hammett, Jean Cocteau, Diego Rivera, Frida Kahlo, Pablo Picasso, Fritz Lang, Bertold Brecht e outros intelectuais e artistas. O Papa Pio XII apelou a Eisenhower para os poupar, mas o Presidente dos EUA recusou-se a exercer o seu direito de indulto. Os Rosenberg foram executados ao pôr do sol de 19 de Junho de 1953, na Prisão de Sing Sing, Nova Iorque. Foram os primeiros civis a serem executados por espionagem." [Público de hoje].

Os dois filhos de Rosenberg, Robert e Michael levaram anos a tentarem provar a inocência dos seus pais. Depois da execução dos pais foram colocados num orfanato e nenhum familiar teve coragem para os adoptar até que acabaram adoptados pelo músico Abel Meeropol e mulher. Do músico adoptaram o apelido. Foi ele quem escreveu o hino clássico contra o racismo e os linchamentos de negros, "Strange Fruit", popularizado pela cantora Billie Holiday (ver caixa ao lado).
Os filhos escreveram o livro "Somos os seus filhos: o legado de Ethel e Julius Rosenberg (1975) e Robert escreveu em 2003 um outro "Uma execução na família: um dia na vida de um filho". Robert fundou em 1990 uma instituição de apoio aos filhos de activistas políticos perseguidos. A filha de Robert, Ivy dirigiu em 2004 um documentário sobre os avós "Heir to an execution", apresentado no Sundance Film Festival.
Os filhos de Ethel e Julius acreditam que "fosse qual fosse a informação que os seus pais tivessem passado aos russos, ela seria no máximo no supérflua. O caso estava cheio de intuitos persecutórios num comportamento judicial impróprio. A mãe estava convencida da debilidade das provas para enculparem o marido. E não mereciam a pena de morte".

sexta-feira, 25 de março de 2011

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Quando se declara guerra,
a primeira baixa é a da verdade"


Arthur Ponsonby (político, escritor
 e activista social britânico, 1871-1946)

sábado, 19 de março de 2011

Sarkozy e Obama começam nova guerra de agressão

Os bombardeamentos franceses e norte americanos hoje realizados, segundo dizem contra alvos militares líbios são um acto ilegal que deveria continuar a ser banido nas relações internacionais.

A formidável capacidade de espionagem nesta zona por parte dos EUA e antigas potências coloniais europeias, bem como de Israel, do Egipto, Arábia Saudita e Emiratos, não conseguiram divulgar durante estas semanas informações e imagens validáveis sobre genocídios da parte governamental nem sobre a verdade das operações realizadas que tornaram Benghazi a zona rebelde por excelência.
Se a invasão do Iraque teve como pretexto uma enorme mentira, nada está a ficar diferente no ataque à Líbia.
Berlusconi já prometeu juntar-se aos agressores, o que arrastará ainda mais esta agressão pela lama da ignomínia.

Acabei agora de ouvir na SIC -Notícias o general Loureiro dos Santos justificar o injustificável.
Mentiu quando afirmou que esta intervenção estava a ocorrer de acordo com a recente resolução das Nações Unidas.
De facto a criação de um corredor aéreo livre da intervenção de aviões líbios não parece ter por estes sido violado. Os alvos dos ataques franceses e norte-americanos foram  objectivos militares que nada têm a vêr com isso.
Não consta também da resolução das Nações Unidas que os combates no âmbito da guerra civil entre líbios permitam atacar uma das partes com esses ataques ~mas permitam ao Qatar e Emiratos Árabes Unidos armar os revoltosos com novo equipamento militar e sabe-se lá com mais quê!...Onde estão esses fervorosos repórteres das causas justas???. E isto é tanto mais vergonhoso quanto os aliados dos EUA como a Arábia Saudita e esses emiratos estejam a intervir no Bahrein para esmagar a revolta ocorrida noutros países árabes, sem que ONU, NATO ou UE dediquem a isso qualquer atenção...

domingo, 13 de março de 2011

Geração à rasca e os "professores" comentaristas

Depois do êxito assinalável da manif de ontem, foi tempo de as estações de TV, e não só, recrutarem uma série de "professores universitários" para pôrem a leitura do acontecimento nos devidos sítios.
Para uns, o movimento tem agora de intermediar-se com o poder através dos partidos, deixando a rua. Para outros a criação de mais emprego jovem tem que resultar da maior facilitação de despedimentos dos mais velhos. Para outros ainda foi um anacronismo terem-se gritado slogans associados com o 25 de Abril.
Resumindo, tais professores não tiveram nas manifs de sábado o laboratório que confirmasse as suas teses, forjadas na ausência de qualquer investigação, cujos beneficiários são  o poder e a grande manjedoura que alimenta com a perda de condições de vida dos portugueses.

"Poesia" do cinema

Neste domingo cinzentão fizemos uma boa opção. Rumámos ao King e vimos "Poesia", filme sul-coreano de Lee Chang-dong, tendo como protagonista Yun Jung-hee , grande e bela actriz, que já não filmava há quinze anos.
O regresso do interesse de infância pela poesia leva-a a um curso de formação e a uma tertúlia de poetas iniciados, pouco antes de conhecer o diagnóstico da doença de Alzheimer. A relação disso com a angústia por um crime perpretado pelo neto e outros colegas de escola e os cuidados prestados a um doente acamado, sua forma de subsistência, constituem a trama do filme, onde o sentido de honra está presente.
Da perda da memória de palavras e de descobrir o lado belo das coisas vai registando sentimentos que a levam a construir uma poesia.
Lee Chang-dong disse numa entrevista "O que me atrai é o ser humano. Carrascos ou vítimas, nós nunca somos só uma coisa. A natureza humana é complexa e, como artista, tenho a impressão de que minha função é iluminá-la. Filmo para conhecer o outro e a mim mesmo."

O entrevistador insistiu na definição de ‘morte em vida’, a propósito da doença. Chang-dong disse-lhe que a ligação da personagem com as palavras - poesia - faz parte de um movimento íntimo. "Dando novo sentido às palavras, ela busca preservá-las, e o que representam, do esquecimento."
Dias depois de termos assistido à entrega dos óscares com critérios alheios a quaisquer considerações artísticas, é bom reconciliarmo-nos com o bom cinema.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Líbia: o que se segue?

1. A guerra civil iniciada na semana passada na região Cirenáica com a liquidação pelos revoltosos das forças pró-Kadhafi e a captura de grandes arsenais de armamento, tem logo desde o início este como traço distintivo dos processos ocorridos na Tunísia, no Egipto ou noutros países da região.
Destes acontecimentos a informação certificável é quase inexistente. Fala-se em centenas de mortos mas sem uma maior precisão.
A fuga de muitos milhares de pessoas destas regiões afectadas pelo combate para países vizinhos causa uma perigosa situação humanitária, nas fronteiras africanas mas também uma pressão sobre a Itália e a França que, com tonalidades diferentes, descobriram agora o carácter do regime anti-popular de Kadhafi...
Sarkozy é o mais belicoso e que veícula no teatro europeu a estratégia e os objectivos de Washington que, por sua vez tem Londres atrelada. Para ele, a Europa e a NATO deviam abrir o corredor aéreo para impedir Kadhafi de dar combate à progressão armada dos revoltosos, a Líbia deveria ser bombardeada, os revoltosos serem abastecidos de novos armamentos, e deveria haver uma intervenção da NATO imediata na Líbia bem como o reconhecimento do Conselho Nacional Líbio como única autoridade do país.

2. Michel Chossudovsky publicou nos últimos dias dois artigos na Global Research, que dirige e que o resistir.info publicou em português.
Neles o autor refere que "As implicações geopolíticas e económicas de uma intervenção militar EUA-NATO contra a Líbia são de grande alcance.

A Líbia está entre as maiores economia petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo, mais do dobro daquelas dos EUA.
A "Operação Líbia" faz parte de uma agenda militar mais vasta no Médio Oriente e na Ásia Central, a qual consiste e ganhar controle e propriedade corporativa sobre mais de 60 por cento da reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos.
Países muçulmanos incluindo a Arábia Saudita, Iraque, Irão, Kuwait, Emiratos Árabes Unidos, Qatar, Iémen, Líbia, Egipto, Nigéria, Argélia, Cazaquistão, Azerbaijão, Malásia, Indonésia, Brunei possuem de 66,2 a 75,9 por cento do total das reservas de petróleo, conforme a fonte a metodologia da estimativa". (Ver Michel Chossudovsky, The "Demonization" of Muslims and the Battle for Oil, Global Research, January 4, 2007) .

3. Não são os direitos humanos mas o petróleo que movem os EUA, Inglaterra e França. Nem é a democracia...Alguém sabe de onde surgiu este Conselho Nacional Líbio? Que métodos electivos o legitimam?
Hoje a UE irá debater as propostas da França e definir-se em relação à intervenção no território líbio.
Vejamos então até que ponto querem ou podem ir.

Japão: a catástrofe

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Uma rosa é uma rosa, é uma rosa"


Gertrud Stein
(poetisa americana, 1874-1946)

terça-feira, 8 de março de 2011

Propostas da CGTP-IN para uma ruptura que concretize a mudança necessária – crescimento económico e justiça social

A CGTP-IN publicou há dias um breve estudo sobre a degradação das condições económicas e sociais em Portugal, cuja leitura sugerimos como instrumento de esclarecimento na luta que travamos conmtra a política deste governo.

Portugal não pode continuar refém de um modelo assente em exclusivo nas exportações, que faz tábua rasa do peso das importações e do contributo da procura interna para a dinamização económica.

Para a CGTP-IN é essencial que as exportações sejam consideradas num quadro de complementaridades, que a substituição de importações por produção nacional seja uma realidade, com a procura interna a desempenhar um papel determinante no relançamento económico.

Para tal, para além de medidas que privilegiem e defendam, no quadro de excepcionalidade que vivemos, a produção nacional direccionada para o mercado externo, mas também interno, o aumento dos salários e das pensões, ou seja, o aumento do poder de compra da generalidade da população é fundamental do ponto de vista económico, com um alcance em termos de justiça social que se exige.

Para a CGTP-IN a promoção do emprego, o combate à precariedade e ao desemprego, à exclusão social e à redução de prestações sociais, têm de estar no centro das políticas implementadas e não pode ficar dependente de conjunturas, nem muito menos do comportamento da procura externa.

O aumento das receitas fiscais, por via do combate à fraude e evasão, o fim dos paraísos fiscais, uma maior justiça e progressividade dos impostos num quadro de colocar a pagar mais quem mais pode, no caso concreto os grandes grupos económicos e financeiros, são elementos que permitirão aliviar as famílias dos cortes salariais e do aumento de preços que se perspectivam para 2011.

domingo, 6 de março de 2011

Os 90 anos do PCP e a bílis do (a) editorialista do Público

O Publico é o jornal impresso que leio todos os dias.
Hoje na 1ª pagina, de forma pouco destacada, remetia-se o leitor para 2 páginas interiores onde um conjunto de jovens foi perguntado pela jornalista sobre as causas da sua atracção pelo PCP, no momento em que este partido completa 90 anos da sua existência.
A peça era oportuna pelo aniversário mas também pela indesmentível constatação que qualquer pessoa mìnimamente atenta fará sobre a grande componente juvenil, aguerrida e portadora de uma grande simpatia, que existe na vida do PCP.
Fiquei, naturalmente satisfeito.
Não é todos os dias que falar de forma objectiva sobre o PCP se pode encontrar na generalidade dos media. E é consabido que, de entre os partidos com assento parlamentar, o PCP é aquele que mais maltratado é pelo evitar dos factos e o optar por clichés rançosos.

Estava eu ainda nesta reflexão quando tropecei no editorial aparachik.
Retenho as seguintes expressões sobre o PCP: "Militar no PCP é uma questão de crença", " o PCP que Alvaro Cunhal preservou em embaciadas "paredes de vidro", "Jerónimo de Sousa mantém o (PCP) no rumo antigo sem o mínimo desvio, que lhe seria fatal", "O PCP chega aos 90 anos sem que seja possível atribuir-lhe uma idade real", "pertence a uma época que já quase desapareceu, "Milhares vão-no mantendo vivo contra todas asv evidências da história", "o comunismo que deu nome ao PCP no mundo real só produziu inomináveis tragédias" e "isso só ajuda a acentuar o seu anacronismo". Em matéria de citações por aqui me fico porque o textinho pràticamente se esgota nisto.

Alguma pessoa escreve isto sem estar a fazer o frete a alguém? Que compensação espera o (a) autor (a) desta prosa por tanta bilis derramada?

Seria bem mais interessante tentar compreender o que são as convicções e porque as têm aqueles que militam no PCP, arriscando emprego, carreiras, rejeitando mordomias e corrupção intelectual e económica. É desta massa que o país precisa para sair do buraco para o qual os "democratas" o mandaram. E não só no PCP - entendamo-nos - existem tais pessoas.
Seria interessante ler "O Partido com paredes de vidro" para discernir sobre onde andam os "embaciamentos".
Seria interessante reflectir sobre o destino que tiveram, ao longo destes quase quarenta anos, todas as invocadas fatalidades, anacronismos e mortes anunciadas do PCP. E porque é que isso decorreu de aqui estarem comunistas, com pés bem assentes nesta terra, a ombrear e a dar força aos que mais explorados são e potencialmente mais importantes serão na "ruptura" necessária com um estado de coisas que nos asfixia, nos subalterniza, nos faz a vida num inferno e o nos quer tirar o futuro.
Seria interessante reflectir sobre a leitura que o PCP (e não só) fez sobre a derrota de muitas experiências socialistas, como isso é coerente com a linha política e programática do PCP ao longo dos anos, como o PCP defende as liberdades e a democracia, aponta propostas não só ousadas como realistas e susceptíveis de serem aceites por muitos outros, incluindo filiados noutros partidos.
Seria interessante não esquecer que as tragédias em Portugal envolvendo comunistas são as que eles (e outros) sofreram nas prisões, no ceifar de vidas, nas perseguições e torturas.

A quem escreveu esta prosa, recomendo a utilização da bílis naquilo para que ela existe.
Sob o anonimato escapou à crítica directa mas francamente não sei se vale a pena falar mais de si, múmia borolenta que ainda faz ressoar palavras ininteligíveis neste tempo a que você deixou de pertencer.

Himalaias: os glaciares afectados por mudanças climáticas ou por coberturas de escombros?

Criou-se uma controvérsia sobre o estado actual e futuro da evolução dos glaciares do Himalaia após as declarações erradas no quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), consultor da ONU que ficou desacreditado com a manipulação de dados sobre os efeitos de alterações climáticas.
Três cientistas dão o seu contributo para esta discussão na edição deste mês da revista "Nature Geoscience Alert".

Diferentes taxas de recuo e a escassez de dados de balanço da massa glacial tornam difícil desenvolver um quadro coerente dos impactos regionais de mudanças climáticas. Neste artigo, os autores dão conta de alguns dados relativos a 2000-2008 nas maiores montanhas do Himalaia que indicam fortes variações espaciais no comportamento do glaciar que devidas à topografia e clima. Mais de 65% dos glaciares inflenciados pelas monções que observaram estão a recuar, mas os glaciares cobertos de escombros com estagnação de baixo gradiente de regiões terminais têm frentes estáveis. Os glaciares cobertos de detritos são comuns no robusto Himalaya central, mas estão quase ausentes nas paisagens suaves no planalto tibetano, onde as taxas de recuo são maiores. Em contrapartida, mais de 50% dos glaciares observados na região influenciada pelos ventos de Karakoram, no Himalaia do noroeste estão ou a avançar ou estáveis.

O estudo dos autores mostra que não há uma resposta uniforme dos glaciares do Himalaia às alterações climáticas e sublinha a importância das coberturas de detritos para a compreensão de recuo dos glaciares, um efeito que até agora tem sido negligenciado nas previsões futuras de disponibilidade da água availability e dos níveis globais do mar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

Líbia: EUA avançam

A sobrevivência da ditadura de Kadhafi poderá não durar muito.

Devido ao seu próprio isolamento e devido à acção coordenada de várias potências estrangeiras e da Al-Jazeera
O que daí irá resultar é mais problemático.

Não se vislumbra um enquadramento político da revolta popular por pessoas que se tenham mantido no país em vez de ir tratar da sua vidinha para o estrangeiro. Os revoltosos revelam alguma desorientação de objectivos. Se uns defendem a vitória com uma componente militar própria, outros reclamam a intervenção militar dos EUA e da UE, o que constituiria um desastre a somar ao desastre por enquanto humanitário e que envolve líbios e trabalhadores imigrantes e criam imigrações de difícil resolução no Egipto, Tunísia e Itália.

A guerra civil não está formalizada mas já decorre. Com meios mais modernos por parte de Kadhafi ou mais obsoletos como os dos revoltosos que os capturaram após a eliminação física dos militares apoiantes do regime, na sequência de acções não espontâneas mas planeadas e organizadas na região Cirenáica.

Das forças de Kadhafi já partiram propostas de negociações que não foram aceites pelos revoltosos que têm defendido que a eliminação física dos apoiantes de Kadhafi e do próprio é a única solução que encaram.

Não por acaso o agitar de uma eventual intervenção do Tribunal Penal Internacional já foi lançada e membros de ONGs andam no terreno a entrevistar pessoas para criar bases de dados para esse fim.

Entretanto, apesar de unanimidades no Conselho de Segurança das Nações Unidas, é cada vez mais nítida a linguagem de guerra de Obama/H. Clinton, com reservas tímidas de alguns países europeus que vão ser chamados, via NATO e UE, a afinar o alinhamento com Washington. Para alguns analistas, os EUA e a UE já terão chegado a acordo para garantir na Líbia um controlo militar com um governo e uma força militar que lhes sejam afectos e que colaborem com uma intervenção militar internacional.

A Liga Árabe, em que 13 dos seus 22 países já foram atingidos pelas ondas de choque originadas há uns meses no Egipto, excluiu a Líbia de seu membro. Nenhuma das outras ditaduras da região, em geral aliadas dos EUA, sofreram a mesma decisão.

A entrada de navios de guerra hoje no Mar Vermelho através do Canal do Suez é ilustrativo dos objectivos de Washington. O representante do Pentágono não poderia ter sido hoje mais esclarecedor: "Estamos a reposicionar as forças para facilitar a flexibilidade uma vez que se tomem as decisões"...
Na zona os EUA têm um razoável número de bases, nomeadamente no sul de Itália e na Sicília, a cerca de uma hora de voo da Líbia
A intenção de dominar a situação interna na Líbia deve-se ao facto de que os EUA não faziam, até agora parte da exploração do petróleo líbio. Esta tem sido feita pela BP, Shell, Total,. BASF, Statoil, Repsol e outras multinacionais europeias. A Europa, Rússia e a China têm sido beneficiadas com isso. Agora não se sabe, havendo já quem veja nestes acontecimentos também uma acha para o confronto anunciado entre os EUA e a China. Do petróleo líbio, 85% tem-se destinado à Europa, onde a Itália é o principal importador (com 37% do mercado europeu, onde também pesam a Alemanha, a França e a China).
A Alemanha está bem alinhada com os objectivos da NATO em África. Está a construir em Adis-Abeba um edifício monumental destinado a sede de futuros entendimentos entre a União Africana e a NATO no que respeita à extensão da NATO a este continente.

A saída do país em massa de técnicos e operários especializados da indústria petrolífera estão, para já, a causar problemas gravíssimos na sua exploração e refinação. Em poucos dias, dos boatos passou-se a este êxodo. A especulação na subida dos preços é agora acompanhada pela perda progressiva dos bens que constituíram nas últimas dezenas de anos a alavanca ao desenvolvimento interno e a um razoável nível de vida se comparados com outros regimes árabes: o petróleo e o gás.

A cadeia de TV Al Jazeera, pertença do emir do Qatar e do seu governo, tem dado o seu apoio aos revoltosos, projectando figuras desconhecidas que são dirigentes da Frente Nacional de Salvação da Líbia, há dezenas de anos financiada pela CIA e pela Arábia Saudita.