sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Em teoria, não há diferença entre teoria e prática,
mas na prática há".

Jan L. A. van de Snepscheut
(cientista de computadores holandês, 1953-1994)

NATO prepara-se para intervir na Líbia

Desde ontem que estão a ser dados passos pela NATO no sentido de garantir uma intervenção na Líbia com os mais diversos pretextos, nomeadamente a possibilidade de um conflito interno. O secretário-geral convocou uma cimeira e os media já começaram a comentar essa possibilidade.
O imperialismo deixa cair a linguagem dos direitos humanos. Depois de uma barragem informativa com características diferentes das que tem ocorrido com alguns dos outros países, a palavra de ordem  neste casoreorientou-se.

A revolta  que decorre em várias  zonas da Líbia tem muitos pontos de contacto com  as do Egipto, Tunísia, Bahrein e outros países.
Mas tem diferenças significativas.
Kadhafi nacionalizou o petróleo em 1969, na sequência do derrube do rei Idris, uma marioneta do imperialismo. A Líbia tem uma população muito pequena e a riqueza produzida com o petróleo per capita é muito superior à de outros países produtores. Os países ocidentais que antes dispunham de um acesso discriminatório a esta riqueza viram-na transformar-se em factor de desenvolvimento do país e de uma significativa  elevação das condições de vida da sua população. Se bem que grandes potências estejam hoje com posições fortes na indústria petrolífera.
Incluída pelos EUA na lista negra , a Líbia viu o seu teritório ser bombardeado pelos norte-americanos em 1986 e mortas dezenas de pessoas entre as quais uma filha de Kadhafi.

Kadhafi que fora durante dezenas de anos aliado dos povos vítimas do imperialismo, começou a partir sde 2003 a abrir a economia à banca internacional e aceitou os "ajustamentos estruturais" do FMI que se traduziram em privatizações de empresas públicas, a um acréscimo da corrupção a partir dessas actividades e chegou a cortar os subsídios à alimentação e gasóleo que tanto pesam na população, organizada em tribos.
A revolta tem a sua sede, não por acaso, na zona de Benghazi, de grande produção de petróleo, dos pipelines deste e de gás, de refinarias e portos de exportação.
A actividade especulativa em torno do preço do petróleo, com pretexto nos actuais acontecimentos, e os boatos sobre as quebras das remessas, prenuncia justificações para uma intervenção norte-americana. Apoiada também na insegurança que a Frente Nacional para a Salvação da Líbia, criada, treinada e financiada pela CIA, há muitos anos tem provocado. Com os EUA a milhares de quilómetros, esta situação está a gerar um surto de refugiados para vários países europeus. E é a partir de Benghazi, que os media dizem liberto de Kadhafi, que este surto é maior.
Importa não esquecer que o Estado líbio difere do da generalidade dos países. Organizado por tribos e famílias, com um mínimo contacto entre elas e uma estrutura comum administrativa e de segurança, reflecte um equilíbrio de tribos, harmonizada pela gestão dos bens naturais em prol delas.
O aparelho repressivo de Kadhafi não é diferente e é mesmo inferior ao que existe no Bahrein, no Kuwait ou na Arábia Saudita. Mas o tratamento de "direitos humanos" de Obama a estes não se aplica porque têm bases norte-americanas e dirigentes fantoches, que fazem o que os EUA querem.
Quando em Benghazi se arvoram bandeiras da monarquia e cartazes a reclamar o petróleo para o ocidente, tudo fica mais claro.

Apoiando as reivindicações justas do povo líbio por democracia e melhores condições económicas, não devemos, porém, meter a situação ali vivida no mesmo saco que as outras. E importa sublinhar particularmente a necessidade de conjurar uma intervenção imperialista que toma por "direitos humanos" os seus direitos a ocupar parte da Líbia e a controlar gás e petróleo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Reflexão de Fidel Castro sobre os acontecimentos na Líbia

Os acontecimentos na Líbia revelam contornos diferentes de outros países africanos do norte e Nilo. Voltaremos a esta questão.



Entretanto, aqui fica uma reflexão de Fidel Castro, de que cito:

"Se podrá estar o no de acuerdo con el Gaddafi. El mundo ha sido invadido con todo tipo de noticias, empleando especialmente los medios masivos de información. Habrá que esperar el tiempo necesario para conocer con rigor cuánto hay de verdad o mentira, o una mezcla de hechos de todo tipo que, en medio del caos, se produjeron en Libia. Lo que para mí es absolutamente evidente es que al Gobierno de Estados Unidos no le preocupa en absoluto la paz en Libia, y no vacilará en dar a la OTAN la orden de invadir ese rico país, tal vez en cuestión de horas o muy breves días".

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Ridiculum acri, fortius et melius magnas plerumque secat res"

"O humor resolve melhor os grandes problemas que o azedume"

Horácio (poeta lírico e satírico romano, 65-8 aC, Sátiras I.10.14-15)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Manipulação das estatísticas

As estatísticas são um bem inestimável para qualquer actividade. Conhecer uma sequência ao longo de anos de certos valores é muito importante para detectar causas de sucessos e insucessos e, com isso, fundamentar a necessidade de introduzir correcções ou inovações nos processos.
Não foi Sócrates quem inventou a manipulação  de dados para esconder a evidência de políticas erradas nem para dificultar o discernimento de atacar as causas que provocam, efeitos negativos continuados.
Mas importa reconhecer que atingiu nisso um requinte superior ao manifestado por outros. E permitiu que a criação de certas bases de dados percam a comparabilidade de valores com outras relativas às mesmas actividades.
O caso mais recente tem sido a leitura feita sobre dados como o PIB para comparar valores anunciados com os de outros anos sem que isso tenha qualquer significado e desvalorizar comparações de evoluções negativas. Estamos ou não em recessão? Este termo tem um significado preciso. E era previsível que a ela de novo chegasse depois de nos ter batido à porta nos anos 90. As medidas de contenção do deficite tomadas em vários países, por pressão da Alemanha, e imaginação de Sócrates, desligadas de medidas sobre a economia (as exportações são importantes mas não resolvem os nossos problemas estruturais) levam a níveis de produção e desemprego de que, depois, será muito mais difícil recuperar.
Uma outra fonte de manipulação de dados tem sido o desemprego, aqui com uma abundância superior de ausências de comparabilidade para facilitar leituras diferentes dos efeitos que todos vêem na vida real.
A prevalência da importância dos dados do IEFP sobre os do INE carece de rigor. O desemprego interpretado como o número das pessoas que se registam como desempregadas no IEFP não cobre a totalidade do universo do desemprego e é uma forma mentirosa de iludir esperanças pela continuidade das mesmas políticas. O universo dos jovens desempregados e, de entre estes, os de elevadas formações académicas, muitos com vários estágios realizados em empresas, está a crescer. Que políticas é que permitem uma tal desfasagem da economia com tantos jovens sem futuro?

A mentira sistemática tem limites na sua eficácia. A verdade vem ao de cima. Se não são os governantes que a trazem, os povos fazem-na saltar e com ela os governos.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

CGTP-IN denuncia: governo incentiva o patronato a despedir

Realizou-se no dia 11 de Fevereiro a sétima reunião da CPCS para continuar a discussão sobre o lay-off e os despedimentos/indemnizações, no âmbito da iniciativa “competitividade e emprego”.

Em vez de tomar medidas para evitar a repetição de sucessivas ilegalidades cometidas por inúmeras empresas, no quadro do recurso ao lay-off, o Governo acabou por apresentar uma segunda versão que, no essencial, põe a Segurança Social a financiar as empresas duas vezes:

- Primeiro, para manter os postos de trabalho (como já hoje a lei estabelece);
- Depois, a assumir, pela via da introdução na lei, a possibilidade dos despedimentos, nestes casos, com o subsídio de desemprego a ser suportado pela Segurança Social.

Para o efeito, admite despedimentos decorridos 2 ou 4 meses após os períodos de lay-off de 6 ou mais meses.

No caso de incumprimento deste pressuposto, as empresas só teriam de reembolsar a Segurança Social relativamente aos apoios recebidos anteriormente, no que diz respeito aos trabalhadores envolvidos no despedimento.

Em suma, o Governo não só estimula como incentiva o patronato a despedir trabalhadores, depois de receber o dinheiro da Segurança Social, a pretexto da manutenção do emprego.

Esta é uma situação inadmissível. O dinheiro que o Governo diz não ter para assegurar e reforçar a protecção social de centenas de milhar de pessoas, nomeadamente desempregados, afinal não falta para dar cobertura a este tipo de negócios.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Demissão de Mubarak: uma importante vitória popular num processo que não terminou

A demissão de Mubarak, antecedida pelas declarações desde ontem de Mubarak, dos militares e agora de Omar Suleiman apresentam aspectos não coincidentes que reflectem a contínua e crescente pressão das massas populares, mas também a ingerêcia dos EUA, da Arábia Saudita, de Israel. Todos estes aflitos com uma mudança do papel do Egipto quer na consolidação de regimes semelhantes na região quer na política em relação a Israel e aos palestinianos. E os EUA a trabalharem para "soluções" que garantam da melhor forma os interesses dos EUA.
Seja qual fôr o grau de envolvimento dos militares na execução efectiva das principais reivindicações populares, nada ficará na mesma naquela região.  A pressão popular irá influenciar decisões sobre as condições de vida. A capacidade  de ingerência dos EUA, UE e Israel poderá ficar reduzida.
Não será um caminho fácil nem linear o desta revolução como o não é o de outra qualquer.


Pablo Mainetti e o seu bandonéon

Tive oportunidade ontem de ver um concerto da Orquestra Gulbenkian, dirigida por Josep Pons.
Do programa faziam parte peças de diferentes autores: Alberto Ginastera com as suas Danças do Ballet Estancia, Astor Piazzola e o Concerto para Bandonéon e Orquestra, as Integrais de Edgar Varèse e O mar de Claude Debussy.
No caso do concerto de Piazzola, sublinharia a excelente interpretação de Pablo Mainetti que aqui deixamos, interpretando uma outra peça.

Frase de fim-de-semana, por Jorge

"Não há experiências que cheguem para provar que estou certo, mas uma só basta para provar que estou errado"


Albert Einstein (físico, 1879-1955)

Na Holanda, pois claro!

Na região de Groot-Zundert, município holandês encostado à Bélgica, onde nasceu o pintor Van Gogh, a actividade dominante é a agricultura. E nela a produção de túlipas e outras flores destaca-se pelo colorido que dá ao município

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Os comunistas egípcios e a Revolução

Quando do início das grandes manifestações no Cairo e outras cidades egípcias, o PCE tornou pública a sua posição que aqui transcrevemos:


A hora da verdade aproxima-se. A hora em que o povo egípcio imporá a queda de Mubarak e a mudança do seu regime.
O regime da opressão vive os seus últimos momentos, sobretudo depois de os seus tutores dos Estados Unidos o terem largado, na sequência da Revolução popular que cresce em todas as cidades e regiões do Egipto.
As manifestações de hoje, que reuniram milhões de cidadãos gritando a palavra-de-ordem da partida de Mubarak, garantem o fracasso de todas os esquemas montados pelo ditador e pelo seu bando para liquidar a Revolução.
O acordo entre os diferentes partidos da oposição sobre a formação de um Comité de Salvação Pública, tendo o aval das massas populares, nomeadamente dos manifestantes, é um ponto decisivo para realizar as reivindicações políticas, económicas e sociais colocadas pela Revolução.
Eis porque insistimos nas reivindicações essenciais aceites por todas as forças patrióticas representadas no Parlamente popular constituído:

1- Impor a queda de Mubarak e formar um Conselho presidencial para um período bem determinado.
2- Formar um governo de aliança que ficará encarregado da direcção do país durante este período transitório.
3- Apelar à formação de uma Assembleia Constituinte eleita que terá como tarefa preparar uma nova Constituição baseada no princípio da soberania nacional e garantindo a alternância no quadro de um Estado laico, democrático e justo.
4- Julgar os responsáveis pelos massacres que fizeram centenas de mártires e milhares de feridos, assim como os responsáveis pela corrupção que roubaram as riquezas produzidas pelo povo egípcio.

Viva a Revolução do povo egípcio.
Cairo, 1 de Fevereiro de 2011

Partido Comunista Egípcio

Pode acompanhar as posições do Partido Comunista Egípcio em http://www.cpegypt.tk/

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Egipto: população não aceita a sobrevivência do regime e hoje saiu à rua ainda com mais determinação

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Centenas de milhares de egípcios voltaram esta terça feira às ruas do Cairo e de outras cidades do país, para realizarem os maiores protestos desde o início da revolta contra o presidente Hosni Mubarak
Para além de outro tipo de considerações que se possam fazer, uma coisa é certa: a operação conduzida pelo regime de Mubarak de desmobilizar as pessoas, de as fragmentar bem como às suas organizações, de deixar que o regime fique como único protagonista dos processos de "mudança", não resultou. Falharam o regime e os EUA e de Israel que ainda ontem afirmavam o seu apoio à continuidade de Mubarak até eleições...

E isto aconteceu depois de um início de "conversas" com algumas organizações da oposição, que não respondeu a nenhuma das suas reivindicações, depois do aumento de 15% nos salários da Função Pública e das Forças Armadas bem como das pensões de reformas, depois de o regime ter hoje anunciado a libertação de 34 presos políticos que não identificou, depois de nos últimos dias, em todo o mundo, os amigos de Washington tenham conduzido uma formidável campanha mediática contra os "perigos do fundamentalismo , contra as evidências que uma imprensa mais livre recolhe no local, que sublinha não existir nenhum "fervor islâmico" e que o cerne das reivindicações são a melhoria das condições sociais, o combate à corrupção, a queda do regime (fim do governo, dissolução do parlamento, revisão da constituição), a libertação dos presos políticos e o fim do estado de emergência
No "diálogo" participaram o Wafd, partido liberal, o Tagammu, conhecido como de esquerda e alguns activistas mais destacados, empresários e outras figuras públicas. Com a Associação Nacional para a Mudança, dirigida por Mohamed El-Baradei, o governo reuniu à parte. À parte ainda ficou a Direcção Unificada dos Jovens revolucionários revoltados, que inmclui várias organizações e o movimento de Baradei.

O que parece ser mais problemático é a situação das Forças Armadas e da polícia. Os EUA financiam o poderio militar egípcio com verbas chorudas para compensar a traição de Mubarak para com os palestinianos e o seu entendimento com Israel. Os EUA têm controlo sobre as chefias. Até agora não são evidentes fissuras internas no aparelho militar e repressivo para garantir perspectivas pacíficas.

Tem-se ainda falado muito do que 2  semanas de insurreição custaram ao país. Devia falar-se mais da situação que se arrasta, com perigos, devido à tentativa de sobrevivência do regime, para que o Egipto continue na esfera de influência dosa EUIA e a fazer os jeitos a Israel.

Centenas de professores de EVT manifestam-se na AR

Enquanto a Ministra da Educação dentro da AR informava dos cortes de despesas com os alunos e as escolas, foram centenas os professores de Educação Visual e Tecnológica que se manifestaram no exterior frente à AR. Presentes também manifestantes do SOS-Educação.
Carlos Gomes, da respectiva Associação frisou à Lusa que 7.000 docentes estão em risco de ir para o desemprego e de não voltarem a ser professores: “Vão fazer parte daquele grupo de professores que estão nas caixas de supermercados a registar produtos, enquanto os alunos vão ficar sentados a fazer desenhos. Só isso”.

O professor considerou que está a ser cometido “um verdadeiro desastre educativo”, alegando que “numa turma com 28 alunos e uma forte componente prática, um só professor é insuficiente para desenvolver um trabalho seguro e de qualidade”.

"Depois ouvimos o primeiro-ministro a falar em tecnologia. O primeiro-ministro não sabe o que é tecnologia e a ministra não conhece o programa de EVT”, acrescentou.

Recebidos pelo deputado comunista Miguel Tiago , este subiu para um palanque donde informou os manifestantes que o PCP tomou já três iniciativas no Parlamento para que sejam acauteladas reivindicações que se ouvem na rua: um pedido de apreciação parlamentar do decreto-lei que extingue o par pedagógico nas aulas de EVT, um projeto de resolução para reposição imediata dos dois professores e outro projeto de resolução para a estabilidade no financiamento do ensino particular e cooperativo com contratos de associação com o Estado.

“Se há contratos a mais e que não cumprem os objetivos, extingam-se esses contratos, mas nos casos em que estas escolas fazem o que o Estado devia fazer não podem alterar-se as regras a meio do jogo”, disse à agência Lusa Miguel Tiago.
“O Estado não pode acabar com o financiamento às instituições de um momento para o outro”, acrescentou.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Seara Nova: uma revista a lêr, sempre



Saiu agora o número trimestral de Inverno.
E o seu conteúdo é aliciante. Vejamos.

Perspectivas e Caminhos para o Desenvolvimento
Mesa redonda com João Ferreira do Amaral, Manuel Carvalho da Silva e Henrique Neto
Pobreza em Portugal e perspectivas imediatas perante a crise
Eugénio Fonseca
Por uma leitura substantiva e política da crise da Justiça
António Cluny
A Segurança Social na proposta de Orçamento do Estado para 2011
Fernando Marques
O capitalismo à procura de uma nova bandeira
Jorge Messias

Além destas peças sobre o país, este número inclui ainda outras sobre o centenário da República, temas internacionais e de economia social, uma tribuna pública, factos e documentos e um momento de poesia com um soneto quase inédito de José Régio que publicamos num próximo post.

Transportes: greves contra o roubo dos salários dos trabalhadores

Realizou-se hoje, com êxito, mais uma jornada de luta dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa, que encerrou toda a actividade da empresa até às 11h30. Foi uma luta contra o roubo nos salários dos trabalhadores da empresa(desde a redução dos salários, à redução do valor-hora no trabalho extraordinário  e nocturno, ao corte de diversas outras cláusulas do Acordo de Eempresa, ao congelamento dos salários, das diuturnidades e progressões).
Uma luta que se insere na semana de luta dos trabalhadores dos transportes e comunicações, que continuará já na quarta-feira com greves na Trantejo e Carris, na Quinta com greves no Sector Ferroviário e na Sexta com greves na Soflusa e empresas rodiviárias.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Frase de fim-de-semana, por Jorge

Viva a Revolução!


"Não há excepções à regra de que toda a gente pensa que é uma excepção às regras"
Bansky (artista de rua e activista político britânico, 1975-, in Wall and Piece)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Egipto: a aproximação de um ponto crítico

A próxima 6ª f, amanhã, está apontada como a de uma nova grande prova de força do protesto popular.
O vice-presidente Omar Suleiman, chefe das secretas egípcias, há dias nomeado para esta nova função por Mubarak é um homem que se entendeu particularmente bem com a CIA dos EUA e a Mossad de Israel, para que o Egício contribuísse para a estratégia de ambos.
É por isso um homem poderoso e bem aceite por ambas as administrações destes países para garantir "mudanças controladas" que poderiam deixar o país na mesma. Quer os EUA quer Israel receiam qualquer outra solução. Do apoio inicial de ambos a Mubarak poderão agora ir até aí: ser a estrutura da ditadura a conduzir o processo que se segue.
Mas não é isso que o povo egípcio pretende.
Por isso as forças repressivas montaram ontem uma provocação, a partir de elementos seus, que mataram vários manifestasntes anti-Mubarak, nas barbas da polícia que só interviu quando esses elementos foram escorraçados da Praça da Libertação, para os protegerem, criando uma zona tampão. Toda a gente pôde ver através da CNN o linchamento por esse bando de alguns populares que exibiram num viaduto como exemplos... A ausência no terreno de estruturas do Estado de apoio a pessoas agredidas é ilustrativo da natureza do regime.
Esta provocação tem por objectivos criar receios, "justificar" novas intervenções policiais e do exército contra a oposição ao regime, criar a idéia de que há dois campos.
Omar Suleimam fez saber que irá falar em breve. É evidente que o que vai dizer não corresponderá às exigências dos manifestantes.
No plano internacional os grandes media fizeram circular outros motivos de medo. O eventual encerramento do Canal do Suez com os correspondentes efeitos negativos sobre o comércio mundial. E a subida do preço do petróleo numa base especulativa face a esse "receio"...Mas, são os manifestantes que poderão ou terão interesse nesse desenvolvimento? Claro que não.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Egipto: para além do entusiasmo

A pressão popular no Egito é o único factor que pode gerar mudanças políticas que vão ao encontro das suas reivindicações e preocupações.
Por isso vai faltando o tempo para que uma sua expressão orgânica representativa apresente o respectivo programa político, automizando-o das ingerências externas que estâo a ser feitas pelos EUA sobre a estrutura dirigente egípcio, e militar onde dispõe também de grandes fidelidades, para encontrar uma solução.
As duas forças oprganizadas que parecem ter hoje maior expressão no seio do movimento da revolta são a fraternidade Islamita e a Igreja Copta (Cristã). Não sendo organizações "extremistas" ou "terroristas", se se tornarem força maioritária na sociedade, romperão com o servilismo em relação a Israel, criando a este uma forte dor de cabeça, depois de vários regimes árabes ao longo de anos terem vindo a ser captados pelos EUA para esta posição.
No dia de hoje um grupo de "apoiantes do regime" agrediu os manifestantes e é de esperar que esta actividade organizada se mantenha até como forma de justificar a intervenção militar.
Obama mandou para o Cairo um conhecido especialista de guerra suja, Frank G. Wisner que, junto de Mubarak e do seu vice das secretas e comandos militares, preparará as saídas à americana: ser favorável às democracias que gerem "boas escolhas" (dirigentes servis) e opor-se aos povos que "façam más escolhas" (independentes). Isto quer dizer que os EUA estão preparados para dar cobertura a um banho de sangue.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A revolução egípcia e a Dra. Ana Gomes

Habituado aos desaires dialéticos da eurodeputada do PS, não me surpreendi com a tirada desta na Antena Um enquanto tomava café.
Dizia a senhora qualquer coisa como a Irmandade Muçulmana egípcia estar organizada e poder acontecer como o PCP no PREC que quiz avançar com a revolução mas que teve que ir a votos, não lhe tendo sido permitido prolongar o PREC. O mesmo se deverá passar no Egipto com os islamitas, não devendo deixar-se que vão tomando conta das estruturas do Estado. Esta flexibilidade intelectual que lhe está nos genes desde que em 75 andava atrás dos "sociais-fascistas", servindo de braço rasteiro da contra-revolução é natural que a leve a dizer hoje este e outros disparates.
Das declarações de apoio aos protestos retiro que o que é importante para a senhora é que não haja um período revolucionário mas se calhar eleições já amanhã com a mesma estrutura do Estado, com um governo de torcionários sem Mubarak, sem que as correntes políticas clandestinas ou debilitadas pela repressão pudessem actuar livremente, com as mesmas estruturas de corrupção e nepotismo, os mesmos comandos no exército e forças militarizadas, sem uma informação livre que não apenas a das rerdesd sociais.
Dito por outras palavras, a eurodeputada não quer a revolução.
Enquanto escrevo estas palavras não posso deixar de me emocionar com as imagens da Al-Jazeera da Praça Tahrir que vejo ao mesmo tempo.