segunda-feira, 30 de setembro de 2013

«A BARCA DO INFERNO», de José Pacheco Pereira, 28 Setembro 2013


 Depois de amanhã, voltamos ao Portugal da troika. Vai começar o discurso puro e duro da violência social

Amanhã vota-se nas eleições autárquicas. Apesar do enjoo que suscitam no pedantismo nacional e no engraçadismo que substituiu o debate público, foram e são particularmente interessantes. São-no pelo seu significado nacional e local, são-no pela imensa participação cívica, pelo que revelam de tendências mais profundas da vida político-partidária, com a emergência de “independentes” fortes, mas são-no acima de tudo porque mostram um fugaz retorno da política e da democracia ao país da “emergência financeira”. Durante um mês, não fomos “intervencionados”, seja por escapismo irrealista, seja por liberdade, a política soltou-se. Não é por acaso que os partidários do “estado de excepção financeira” as tratam tão mal, como à democracia.
Estas eleições foram eleições livres da troika, para a asneira e para a coisa boa, capazes de ainda manter algum espaço saudável em que o garrote vil das “inevitabilidades” não entra. Foram eleições em que o PSD e o CDS prometeram pontes e calçadas, túneis e aquedutos, livros gratuitos e medicamentos para todos, óscares de Hollywood e prémios internacionais de arquitectura, ou seja, foram eleições que ocorreram nos bons e velhos idos do esbanjamento no seu máximo esplendor. Sócrates devia sentir-se em casa, no meio dos cartazes autárquicos, Passos Coelho devia pintar a cara de preto por não conseguir convencer os seus dos méritos de empobrecer. Mas, bem pelo contrário, andou nas arruadas soterrado por círculos e círculos de guarda-costas e polícias. Estranho, não é?
Depois de amanhã, voltamos ao Portugal da troika, em pleno pós-”crise Portas”, com o fantasma da instabilidade que o “irrevogável” fez sair da lâmpada e que não volta outra vez para lá, a habitar os escritórios assépticos da Moody”s e da Fitch. O Governo está paralisado, diria eu mais uma vez, se não fosse esse o estado mais habitual. Se os portugueses soubessem como são os Conselhos de Ministros, como todo o trabalho orçamental está bloqueado pelas resistências de ministros e pela espera das decisões da troika, percebiam muito do que é o estado do país. A coisa está tão negra e tão confusa, tão desesperançada, que nem o ministro da propaganda Maduro está com força anímica para inventar mentiras eficazes.
O último produto do laboratório orwelliano governamental para responder às decisões do Tribunal Constitucional é contraditório e pífio. Por um lado, diz Portas, o essencial da “reforma laboral” passou no Tribunal Constitucional (os feriados e os dias de férias…), e o menos importante (os despedimentos sem regras, estão mesmo a ver a irrelevância…) chumbou. E logo a seguir, dito pelo mesmo, o mantra ameaçador da perplexidade dos mercados face às decisões do Tribunal. Não percebo por que razão tendo tido o Governo vencimento de causa constitucional no que era mais importante, cai o Carmo e Trindade da Comissão, do BCE e do FMI, pela parte que era menos importante… Já nem sequer se preocupam em elaborar mentiras com algum nexo.
Mas o essencial do enorme impasse em que está a governação reside na conjugação da tempestade perfeita: a “crise Portas” deitou fora a “credibilidade” de Gaspar, e é natural que assim seja porque Portas saiu “irrevogavelmente” por considerar que a política de austeridade estava esgotada e queria mostrar resultados na “economia” e pôr a troika na rua. Está-se mesmo a ver como é que esses “sinais” são lidos pelos “mercados”, até pela sua inconsequência. Portas é o directo responsável pela crise dos juros portugueses e anda por aí em campanha eleitoral a falar de “recuperação económica”. Se houver segundo resgate, como muito provavelmente haverá, de forma aberta ou encapotada, agradeçam-lhe num lugar de honra. Não é o único, bem pelo contrário, mas foi de todos aquele que mais mal fez ao país, pela futilidade da sua vaidade e do seu gigantesco ego.
O menosprezo do Presidente pelos factores políticos da crise, que levou a manter em funções o “navio-fantasma” do governo da diarquia Passos-Portas, apoiado pela opinião publicada que assume o discurso da “inevitabilidade”, pela imprensa económica e peloestablishment financeiro, assente na fraqueza de Seguro, impediu que a solução, arriscada, imperfeita, e com custos, das eleições antecipadas pudesse alterar os dados da questão e permitir mais espaço de manobra política. Conheço muita gente que nem queria ouvir falar de eleições e hoje começa a perceber que elas permitiriam alterar os dados políticos, que o actual impasse não permite.
Por tudo isto, depois de amanhã vamos acordar na antecâmara do Inferno. Pensam que estou a exagerar? Na verdade, nestes dois anos, a realidade tem sido sempre pior do que a minha mais perversa imaginação, porque as coisas são como são, tão simples como isto. E são más. A partir de amanhã, haja convulsão mansa no PSD, ou forte no PS, acabarão por milagre as pontes, túneis e medicamentos gratuitos, que ninguém fará, nem pode fazer, e vai começar o discurso puro e duro da violência social contra quem tem salários minimamente decentes, quem tem emprego no Estado, quem recebe prestações sociais, quem precisa de serviços de saúde, quem quer educar os seus filhos na universida
de, quem quer viver uma vida minimamente decente, quem quer suportar uma pequena empresa, quem paga, com todas as dificuldades, a sua renda, o seu empréstimo.

O que nos vai ser dito, com toda a brutalidade, é que os nossos credores entendem que ainda não estamos suficientemente pobres para o seu critério do que deve ser Portugal. Apenas isto: vocês ganham muito mais do que deviam, não podem ser despedidos à vontade, têm mais saúde e educação do que deveriam ter, trabalham muito menos do que deviam, vivem num paraíso à custa do dinheiro que vos emprestamos e, por isso, se não mudam a bem mudam a mal. Isto será dito pelos mandantes. E isto vai ser repetido pelos mandados da troika, sob a forma de não há “alternativa” senão fazer o que eles querem. Haver há, mas nunca ninguém as quer discutir, quer quanto à saída do euro, quer quanto à distribuição desigual dos sacrifícios, de modo a deixar em paz os mecânicos de automóveis e as cabeleireiras e olhar para os que se “esquecem” de declarar milhões de euros, mas isso não se discute.
Por que é que, dois anos depois de duros sacrifícios, estamos pior do que à data do memorando, por que é que nenhum objectivo do memorando foi atingido, por que é que o Governo falhou todos os valores do défice e da dívida, porque é que o desespero é hoje maior, a impotência mais raivosa, o espaço de manobra menor, isso ninguém nos explicará do lado do poder. Vai haver um enorme atirar de culpas, à troika, do PSD ao CDS ao PS, à ingovernabilidade atávica dos portugueses, aos sindicatos comunistas, aos juízes conservadores do Tribunal Constitucional, e o ar ficará denso de palavras de raiva e impotência. Mas “vamos no bom caminho”, dirá o demónio de serviço à barca do Inferno. Depois de amanhã ouviremos essas palavras.»

A casita clara, de c. 1916, de Amadeo de Souza-Cardoso


sábado, 28 de setembro de 2013

As premonições de Natália Correia



"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".

"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"

"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".

"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".

"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".

"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"

"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis.
 Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir".


Natália Correia

Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993


Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.

Frase de fim-de-semama, por Jorge

"Democracy is a device that ensures 
we shall be governed no better than we deserve."
"A democracia é um sistema que garante 
não se ser mais bem governado do que se merece"

George Bernard Shaw
(nobel da literatura irlandês, 1856-1950)

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Domingo o voto é na CDU


LISBOA

LOURES

ALMADA
ODIVELAS
SINTRA




AMADORA

AZAMBUJA

VILA FRANCA DE XIRA

LOURINHÃ

CASCAIS





sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Repensar o 11 de Setembro

No passado dia 11 de Setembro reuniram-se em Times Square centenas de activistas do movimento "Repensar o 11 de Setembro" que mantêm em aberto a questão da origem das explosões e derrocadas em Nova Iorque. Metade dos nova-iorquinos têm sérias ou muito sérias dúvidas sobre as justificações oficiais. A maior parte das pessoas ignoram que uma terceira torre implodiu, tal como as "duas gémeas", e tal como elas, com todas as caracteriísticas de uma derrocada controlada como se faz a alguns prédios que as autarquias ou outros proprietártios pretendem demolir, e a que já assistimos em Portugal em Tróia ou no Bairro dos Aleixos.
Este movimento, baseado  num largo grupo de engenheiros e arquitectos de todo o mundo, tem um abaixo assinado a correr e a que poderá aceder neste site
http://rethink911.org/news/rethink911-events-in-new-york-city-september-2013/

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Grandes fotógrafos, grandes imagens, por Jorge

Gabriele Basilico - estética do todo: a fotografia de arquitetura e de paisagem
A luz é sempre amiga
GB

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Frase de fim-de-semana, por Jorge











"That's clear! That's clear? Dark's clear!"
"Claro! Claro? Escuro, claro!"
final da ópera multimédia 
A Laugh to Cry de Miguel Azguime,


estreada no recente 30º Festival de Almada

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Numa factura da EDP de 116 euros só 34 corresponderam ao que, de facto, consumimos...




Descriminação
Taxa
Importância
CUSTO EFECTIVO DA ELECTRICIDADE CONSUMIDA

34,00
Taxa RDP e RTP
7%
6.80
Harmonização Tarifária dos Açores e da Madeira
3%
1,60
Rendas por passagem de cabos de alta tensão para Municípios e Autarquias.
10%
5,40
Compensar de Operadores - EDP, Tejo Energia e Turbo Gás
30%
16,10
Investimento em energias renováveis
50%
26,70
Custos de funcionamento da Autoridade da Concorrência e da ERSE
7%
3,70
Soma

94,30
IVA
23%
21,70
Total

116,00












domingo, 8 de setembro de 2013

A guerra do gás


1
O gás representa mais de um quarto do consumo energético da Europa e a tendência é para aumentar rapidamente. A visualização, neste caso dos gasodutos, explica muitas das guerras e tensões no Médio Oriente. O continente europeu importa 50% do gás que consome, sendo a Rússia, a Argélia e o Qatar os principais fornecedores. Um quarto desse gás vem da Rússia, através de uma única empresa: Gazprom.
2
Para contornar a passagem actual do gás pela Ucrânia, a Bielorússia e a Polónia, a Rússia decidiu criar dois gasodutos, a norte o "North Stream" e a sul o "South Stream", como podemos observar, a vermelho, no mapa seguinte: O "North Stream" é um projecto caro, dado que deverá passar por baixo do mar Báltico para atingir directamente a Alemanha. Este projecto é financiado a 51% pela Gazprom, mas também pela Alemanha, através da E. On e BASF com 20% cada. O "South Stream" deverá atravessar a Bulgária, a Hungria e a Sérvia e transportar 63 mil milhões de m3 de gás por ano. A Servia, aliado histórico da Rússia irá ter um papel determinante, com a construção de um depósito de 300 milhões de m3 de gás para eventuais falhas de abastecimento. Este projecto é co-financiado pela italiana ENI.
3
Este último projecto é um concorrente directo, como podemos ver do projecto europeu de "Nabucco", a vermelho no mapa seguinte: O gás proveniente do Azerbaijão deveria chegar até à Hungria, onde depois, seria distribuído na Europa ocidental. No entanto, o consorcio Shah Deniz, do Azerbaijão, optou recentemente por um projecto alternativo: o "Trans-Adriatic Pipeline" (TAP), no mapa seguinte a laranja. O projecto TAP tem a vantagem de ter uma extensão com menos 400 km de que o gasoduto de Nabucco. De qualquer maneira, apesar de concurente do projecto russo, TAP ou Nabucco terá um custo duas
4
vezes superior ao de "South Stream" e só estará concluído em 2018 contra 2015 para o russo. Existe um outro projecto de abastecimento europeu com o gás proveniente do Qatar, terceira maior reserva do mundo, este deverá ser encaminhado através do sul do Iraque, da Jordânia e da Síria para chegar à Turquia. Aliás, a Turquia já tem essa parte do gasoduto pronta. A Síria é um obstáculo a esse projecto, compreende-se melhor a participação activa da Turquia e da Jordânia na queda do presidente Sírio. Existe, finalmente, um projecto para abastecer a Europa com gás proveniente do Irão com um gasoduto que atravessa o Iraque e a Síria, onde sairia em direcção aos vários países europeus: o "Islamic Gas Pipeline":
5
O projecto de um eixo Irão-Iraque-Síria não é bem visto pelos americanos e seus aliados europeus, mas não prejudica o projecto russo e pelo contrario compete com os projectos americanos e europeus. Este facto explica, em parte, a instabilidade criada pelos Estados Unidos na Síria, que tem neste quadro uma importância estratégica fundamental.

(publicado no blog Octopus)

Repensar o 11 de Setembro. Uma reflexão de técnicos americanos e de outros pa'isesé

Rethink911.org logoSEPTEMBER 4, 2013
ReThink911 Billboard Towers Over Times Square
Forward the Image Far and Wide


NYC’s committed supporters came ready on September 3rd to hand
 out brochures and educate the public immediately upon the heralded
 installation of the gigantic billboard overlooking Times Square.
 At least one million people will see this 54’ x 46’ billboard each day
 throughout the month of September, bringing unprecedented
 attention to the destruction of World Trade Center Building 7. 
We in the ReThink911 campaign would like to thank everyone
 who donated and worked so hard to bring this billboard to Times Square.
Please help us spread the impact of this powerful image
far beyond Times Square by sharing the above photo in any or all of the following ways:
1. (Preferred) Post the image to a social network by:

• Clicking this link to open the image
http://ReThink911.org/ReThink911-Times-Square.jpg
• Saving the image to your computer.
• Uploading it to Facebook, Twitter, 
Pinterest, Google+ or any of your favorite social media sites, 
and tag it with the www.ReThink911.org web address
 (and the #ReThink911 hashtag for Twitter.)
2. Share the link to this article on Facebook and Twitter and with 
all of your email contacts:http://rethink911.org/news/times-square
-billboard-is-here-make-this-historic-image-go-viral/
3. Upload the image to your website and write about it.
Thank you for giving this critically important campaign your all.
Together we can get the entire world talking about the third tower that fell on 9/11.

"Grandes fotógrafos, grandes imagens", por Jorge












Stanley Kubrick 
antes do cinema, a fotografia! ...e a ponta de génio já visível

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Frase de fim-de semana, por Jorge










"US has become an orwellian state"
"Os EUA tornaram-se um estado orwelliano"
Oliver Stone, realizador e veterano de guerra
 americano, n.1946, em entrevista de dez. 2012