(a partir do artigo publicado por Walter Wullenweber na Stern em 15de Março passado)
Na Alemanha, nas últimas décadas, o número
de funcionários das autoridades tributárias (Finanças), mal pagos, diminuiu 5%.
Em contrapartida o número de especialistas em otimização fiscal (leia-se fuga
legal aos impostos) aumentou 30% e o número de advogados fiscalistas (outro
tipo de especialistas na fuga ao fisco) aumentou 60% e são altamente
remunerados.
Mesmo que mais nada dissesse bem se
percebe para que lado têm andado as coisas.
Há 4 grandes empresas que detêm o grosso
da atividade de fuga aos fisco, uma atividade essencial ao mundo da alta
finança internacional. São conhecidas pelas BIG FOUR: a Deloitte, a PriceWaterHouseCoopers, a Ernst &
Young e a KPMG.
Deloitte
Deloitte
Têm ao seu serviço 700 mil especialistas, trabalham em 150
países e faturam 76,5 mil milhões
de euros por ano.
Só no minúsculo Chipre têm ou tinham 2.500
especialistas. São seus clientes as maiores multinacionais. Por exemplo a
Deloitte tem a Vodafone ou a Microsoft, a Ernst & Young tem, p.ex. a
Google, a Aple, a Amazon, a Coca Cola.
A fonte é um estudo do alemão Walter
Wullenweber que o publicou, em 15 de Março deste ano, na revista Stern, um estudo em parte reproduzido no
Courrier Internacional, origem destes
dados.
Nesse estudo diz-se que as Finanças de
países como a Grécia, Chipre, Portugal ou Irlanda são incapazes de cobrar
impostos às grandes fortunas. Mas o exemplo poderia, se este alemão quisesse,
alargar-se à Alemanha. De facto um pouco adiante ele refere que na Alemanha
desde 1960 os impostos sobre salários, consumos energéticos ou sob a forma de
IVA, isto é os que atingem a população em geral, quase duplicou e os impostos
sobre lucros, isto é sobre o capital e portanto sobre as grandes fortunas,
caíram 75% . É obra!
Todas estas situações parecem paradoxais
mas “esmiuçando” percebe-se que não o são assim tanto.
Os
estados e os governos querem cobrar o máximo de impostos ou pelo menos todos os
impostos que a lei estipula mas…nada se perceberá ou ganhará coerência se não
se perceber que a função dos estados e dos governos é disputada e influenciada
por forças contraditórias. Por um lado, pelo mundo do trabalho, por forças
democráticas, por grande parte do eleitorado e por outro pelo mundo do capital,
pelos bancos, gestores de fundos e fortunas, o mundo financeiro em geral. Mas
os campos não são perfeitamente delimitados. Os altos salários estão em geral
do lado do capital e o pequeno capital está, frequentemente, do lado do
trabalho. E quem detém a maior parte da influência, e frequentemente o controlo
dos governos salta à vista.
Aquele exército de 700.000 funcionários
da fuga ao fisco e os mil e um paraísos fiscais convivem em perfeita harmonia
com os governos e os Estados porque nestes prevalecem os interesses do capital
e, em particular, do capital financeiro.
Do ponto de vista ético esta situação é,
para os que não conhecem bem as leis que regem a sociedade, profundamente
desmoralizadora e obriga a olhar para os governos, especialmente os dos mais
fortes países ou para as organizações internacionais, EUA, Alemanha Japão, UE,
ONU, etc como entidades profundamente hipócritas, cúmplices dos
multimilionários quando não da ilegalidade e do crime.
Todos sabemos que as BIG FOUR e quejandas
só existem porque os parlamentos e os governos que fazem as leis fazem-nas
frequentemente sob o controlo dos juristas especializados na fuga ao fisco,
funcionários daquelas empresas ou de sociedades de advogados especializados no
mesmo objeto.
A fuga aos impostos em grande escala pelas grandes
empresas, bancos e sociedades é uma forma da concentração da riqueza em cada
vez menos cidadãos e uma forma de contrariar a redistribuição da riqueza
pelo estado social que assim fica com menos meios para a educação, para a saúde
para as reformas e demais medidas sociais.