sexta-feira, 11 de março de 2011

Líbia: o que se segue?

1. A guerra civil iniciada na semana passada na região Cirenáica com a liquidação pelos revoltosos das forças pró-Kadhafi e a captura de grandes arsenais de armamento, tem logo desde o início este como traço distintivo dos processos ocorridos na Tunísia, no Egipto ou noutros países da região.
Destes acontecimentos a informação certificável é quase inexistente. Fala-se em centenas de mortos mas sem uma maior precisão.
A fuga de muitos milhares de pessoas destas regiões afectadas pelo combate para países vizinhos causa uma perigosa situação humanitária, nas fronteiras africanas mas também uma pressão sobre a Itália e a França que, com tonalidades diferentes, descobriram agora o carácter do regime anti-popular de Kadhafi...
Sarkozy é o mais belicoso e que veícula no teatro europeu a estratégia e os objectivos de Washington que, por sua vez tem Londres atrelada. Para ele, a Europa e a NATO deviam abrir o corredor aéreo para impedir Kadhafi de dar combate à progressão armada dos revoltosos, a Líbia deveria ser bombardeada, os revoltosos serem abastecidos de novos armamentos, e deveria haver uma intervenção da NATO imediata na Líbia bem como o reconhecimento do Conselho Nacional Líbio como única autoridade do país.

2. Michel Chossudovsky publicou nos últimos dias dois artigos na Global Research, que dirige e que o resistir.info publicou em português.
Neles o autor refere que "As implicações geopolíticas e económicas de uma intervenção militar EUA-NATO contra a Líbia são de grande alcance.

A Líbia está entre as maiores economia petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo, mais do dobro daquelas dos EUA.
A "Operação Líbia" faz parte de uma agenda militar mais vasta no Médio Oriente e na Ásia Central, a qual consiste e ganhar controle e propriedade corporativa sobre mais de 60 por cento da reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas de oleodutos e gasodutos.
Países muçulmanos incluindo a Arábia Saudita, Iraque, Irão, Kuwait, Emiratos Árabes Unidos, Qatar, Iémen, Líbia, Egipto, Nigéria, Argélia, Cazaquistão, Azerbaijão, Malásia, Indonésia, Brunei possuem de 66,2 a 75,9 por cento do total das reservas de petróleo, conforme a fonte a metodologia da estimativa". (Ver Michel Chossudovsky, The "Demonization" of Muslims and the Battle for Oil, Global Research, January 4, 2007) .

3. Não são os direitos humanos mas o petróleo que movem os EUA, Inglaterra e França. Nem é a democracia...Alguém sabe de onde surgiu este Conselho Nacional Líbio? Que métodos electivos o legitimam?
Hoje a UE irá debater as propostas da França e definir-se em relação à intervenção no território líbio.
Vejamos então até que ponto querem ou podem ir.

2 comentários:

Sonia disse...

Sim está bem, mas com Kadhafi também está tudo bem?

António Abreu disse...

Como já aqui escrevi, Kadhafi, que encabeçou uma revolta contra o rei Idrís, há muitos anos atrás, passou a fazer jeitos políticos e na exploração do petróleo às potências ocidentais.
Sendo o país da região talvez com um mais elevado nível de vida entre a população, devido à aplicação nisso dos rendimentos do petróleo, Kadhafi foi assumindo um carácter despótico e ignorando o difícil equilíbrio que num país constituído por diferentes tribos, com elevado poder económico e de auto-organização.
O exemplo da Tunísia e do Egipto, onde entretanto as respectivas revoluções defrontam grandes dificuldades resultantes da coligação entre anteriores governantes e a cumplicidade das potências ocidentais, fez o resto.
Caberá aos líbios decidir sobre o futuro de Kadhafi e dasa transformações do regime que montou.