terça-feira, 14 de abril de 2009

Origem histórica dos acontecimentos na Tailândia (2)


os partidos de direita

Ontem e hoje a situação em Banguecoque e noutros pontos do país regressou, aparentemente, à normalidade. Os dirigentes dos camisas vermelhas (UDD) que estavam no palácio do governo renderam-se, depois de a polícia ter passado a uma fase de intervenção superior, em que terão ocorrido as primeiras mortes.
A situação vai continuar a ser tensa. As chefias militares e da polícia não são tão benevolentes com os camisas vermelhas como o foram com os camisas amarelas que interromperam a governação próxima da UDD, maioritária no país, e conseguiram o actual primeiro-ministro da sua côr. A gerneralidade da imprensa, afecta à direita, fez propaganda do catastrofismo para o país destas novas manifestações e o líder por quem os camisas vermelhas se batem está ausente e entendeu não regressar ao país no período em que os seus partidários cresciam de influência.

Mas retomaremos agora o fio à meada dos antecedentes dos acontecimentos que ontem iniciámos aqui.

Ao contrário dos actuais manifestantes que agora dispersaram e que usam camisa vermelha, e integram a Frente Unida pela Democracia contra a Ditadura (UDD, sigla correspondente ao nome em inglês), os activistas do PAD (também sigla em Inglês), usam camisas amarelas e tiveram papel destacado quando nos anos anteriores pressionaram com manifestações muito mais violentas que as actuais a queda de dois primeiro ministros que sucederam a Thaksin e que apontavam como seus apoiantes: Samak Sundarajev e Somchai Wongsawatt, ambos propostos pelo PPP que sempre tem ganho as eleições desde 2001, ao contrário do partido do actual primeiro-ministro
Nessas movimentações ocuparam o palácio do governo durante três meses e mantiveram o aeroporto de Banguecoque encerrado, o que provocou grandes prejuízos para o turismo, uma das principais fontes de receitas do país.
Na altura, em Dezembro do ano passado, o PAD só conseguiu que fosse nomeado um outro primeiro-ministro consigo alinhado, depois de ter conseguido alterar a composição do parlamento, obtendo a “transferência” de alguns deputados e alterando a composição política da maioria sem novas eleições. Foi assim que o actual Primeiro-ministro Abhisit, líder do Partido Democrata que também se batera pela queda de Thaksin.
O PAD é formado por monárquicos de direita, empresários e pessoas da classe média urbana. Foi criado, como dissemos no post anterior por um patrão dos média, Sondhi Limthongkul e é hoje dirigido por este e pelo ex-general Chamlong Srimuang, com influência entre alguns conselheiros do rei.
O PAD também já tinha liderado a movimentação contra Thaksin que terminou no golpe militar de 2006. Também aqui a violência nas ruas superou em muito a actual. Nessa altura, os militares indicaram como primeiro-ministro um militar conciliador e muito respeitado pelo Rei e pela população.
O PAD, expressão da elite do país, quer alterar o sistema eleitoral, com o fim do princípio “uma pessoa, um voto” em troca de uma representação por corporações profissionais e classes sociais, deixando transparecer que os camponeses – a grande maioria da população – não teriam maturidade para votar…
Quanto ao Partido Democrático, do actual primeiro-ministro, foi criado em 1946 e sempre foi um corpo conservador e anti-comunista, particularmente no período de grande influência comunista, que passou pelo massacre por militares afectos ao Partido Democrático, de dezenas de dirigentes estudantis e sindicais, em termos horríveis e de grande desumanidade, na Universidade de Thammasat, com a conivência do rei.
Depois do golpe militar de 2006, o carácter democrático retrocedeu na letra da 17ª Constituição que o país conheceu no ano seguinte. Esse foi um dos grandes objectivos das chefias militares.
Num país onde ainda tem grande peso o crime de “lesa-majestade”, afirmar-se republicano ou comunista é entendido como confrontação a monarquia que não pode ser questionada. Os jornalistas acatam essa imposição. O PAD e o Partido Democrático são os partidos que a querem fazer impor contra a vontade expressa da maioria dos tailandeses.
No próximo e último post desta série iremos referir-nos ao Rei, às Forças Armadas e ao extinto Partido Comunista da Tailândia.

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