domingo, 8 de março de 2009

O narcotráfico, a América Latina e a África Ocidental (3)

Guiné-Bissau: um narco-estado?

Em Maio do ano passado, um alto funcionário do organismo da ONU de combate às drogas e criminalidade (UNODC), Ahmedou Ould-Abdallah, fez um apelo à comunidade internacional para deter a progressão dos cartéis da droga que estavam a pôr em risco os países pobres do continente africano e a ameaçar transformá-los em narco-estados.
Meses depois, o responsável deste organismo, António Maria Costa, revelaria, numa reunião dos países ameaçados realizada na cidade da Praia em Cabo Verde, que pelo menos 50 toneladas de cocaína proveniente da região andina da América Latina estavam a circular por países da África Ocidental, transformando a Costa Dourada em Costa da Coca…Desde 2005 o tráfico tem duplicado todos os anos e o dinheiro que faz circular duplica, em alguns casos, o produto interno bruto desses países. E ameaça dissolver todas as raízes destas sociedades, para ale de permitir apoio a importantes actividades conexas em tráfico de armamento e apoio directo a organizações terroristas.
A droga, principalmente originária da Colômbia, chega de barco e pelo ar e é preciso ter em conta que, por exemplo, a Guiné - Bissau tem 90m ilhas mas apenas 17 são habitadas…E sai, por exemplo, em voos comerciais da Guiné-Konacry, Mali, Nigéria e Senegal.
A falta de recursos impede-os de vigiar as suas costas recortadas e territórios imensos e de acompanhar com meios tecnologicamente equiparados os meios poderosos usados pelos cartéis da droga (meios financeiros, logísticos e de comunicações) que recrutam recursos humanos de apoio nesses estados, incluindo dirigentes, polícias e militares destes, para através deles e do medo do funcionamento dos seus tentáculos mafiosos junto da população disporem de segurança para a sua actividade criminosa para chegar aos mercados do norte.
Países como a Nigéria, o Gana e a Costa do Marfim servem de placas giratórias mas a Guiné - Bissau é de todos eles o que tem menos recursos e mais débil é particularmente desde a separação de Cabo Verde, resultante do golpe de Estado de Nino Vieira que depôs Luís Cabral. Os narcotraficantes alargaram nos últimos anos as suas actividades, usando particularmente o Norte da Guiné - Bissau e o Sul do Gana e progridem no controlo do país. O combate à sua acção tem sido escasso e com atitudes contraditórias por parte da polícia quanto à mobilidade dos criminosos. Em traços muitos gerais os episódios sangrentos desta semana terão a ver com o papel central que Nino Vieira terá nesta actividade, ostentando de vez em quando recursos não revelados mas que lhe permitiram, por exemplo, ter garantido o apoio de Kumba Ialá na segunda volta das últimas presidenciais e contactos em Portugal, entre os quais se contavam há alguns anos Valentim Loureiro e o nada recomendável empresário que negociou com a Indonésia noutros tempos...
Os chefes militares, ciclicamente assassinados, que têm sido identificadas como resistência ao narcotráfico bem como o partido que está no governo e que Nino Vieira abandonou, depois de ter sido o seu líder histórico depois do assassinato de Amílcar Cabral pelos colonialistas portugueses.
No funeral de Batista Tagmé Na Waié, hoje realizado, o Ministro da Defesa numa alocução garantiu que o combate contra o narcotráfico continuará.

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