domingo, 15 de março de 2009

O narcotráfico, a América Latina e a África Ocidental (4)

Os tentáculos do polvo
O narcotráfico movimenta hoje entre 750 e mil milhares de milhões (biliões) de dólares, equiparando-se em dimensão à produção de bens dos sectores de ponta à escala internacional: automóvel, petrolífera e de componentes electrónicos.
Porém os lucros gerados pelo narcotráfico são muito superiores aos dessas indústrias devido à grande diferença entre a matéria-prima e o preço final ao consumidor. No caso da folha de coca ela é vendida nos principais países produtores como a Colômbia a 2,5 dólares/kg. Depois de transformada em cocaína e de atravessar vários patamares, esta é vendida nos EUA a 40 mil dólares/kg…Neste negócio o custo da produção da matéria-prima representa 0.5% e o da distribuição 3% do valor do produto. Isto significa que o narcotráfico realiza lucros várias vezes superiores aos daquelas três grandes indústrias atrás referidas.
Isto é o que se passa com a cocaína porque situações análogas se encontram com a produção, na Ásia, de papoila para produzir a heroína e o ópio ou de metanfetaminas.
Os narcotraficantes dispõem de grande poder, incluindo algum apoio popular devido ao emprego que geram e à transformação da actividade agrícola saqueada e inviabilizada pelas multinacionais de outros sectores. E o seu volume de negócios representará hoje uns 10% da produção mundial.
Mas entendamo-nos: os lucros desta actividade ilícita vai direitinha para as camadas dominantes dos países mais ricos, que são simultaneamente aqueles onde se deixa crescer a procura que depois se reflecte na produção. Mas daí as recriminações só vão para os camponeses que sobrevivem produzindo a folha da coca…Ou para os governos que não aceitam a ingerência interna da estrutura americana de combate às drogas (DEA) que, a pretexto de uma política que tem falhado, procura apenas ser outra forma de ingerência política e neo-colonialismo. Mas Á DEA voltaremos noutro post seguinte.
Mas esse apoio não é a característica social mais importante. A articulação e/ou concorrência de cartéis, recorrendo a armamento muito sofisticado produzido e traficado a partir dos EUA, gerou impérios subterrâneos, são os métodos violentos e terroristas, o cruzamento com organizações terroristas, o controle de outros sectores de actividade, de governos e organismos policiais (incluindo os destinados ao combate do narcotráfico…), financiando como na Colômbia paramilitares usados pelo governo para perseguir comunistas e dirigentes indígenas. O suborno e a extorsão dispõem de rios de dinheiro. O narcotráfico está associado à lavagem do dinheiro dele resultante, ao tráfico de armamento, à prostituição incluindo a de crianças, ao tráfico de órgãos humanos.
Como referimos a actual crise financeira pode levar o narcotráfico a tornar-se no principal fonte de poder económico em todo o mundo devido ao ainda maior “fechar de olhos” à origem do dinheiro de que o sistema carece para sobreviver.
O neo-liberalismo, antes desta crise acelerou esse crescimento pela abertura indiscriminada de mercados e a desregulamentação financeira que permitiu, com o apoio dos grandes bancos internacionais, eficazes lavagens de dinheiro nas Caraíbas, América Latina, Suiça e nos EUA. Só nos EUA se lavarão anualmente 240 biliões de dólares. Com a crise a situação piorou.

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