segunda-feira, 16 de março de 2009

Mais um importante passo na América Latina: candidato da FMLN vence eleições em El Salvador

Na sua primeira mensagem ao país, Maurício Funes, candidato da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), vencedor das eleições salvadorenhas, fez um apelo à reconciliação e unidade nacional, numas eleições dominadas pelo medo e as ameaças da candidatura da direita da ARENA, que passaram pelo assassinato há três dias de dois jovens que ostentavam bandeiras da FMLN no município de Nejapa.
Funes fez a declaração de vitória, ontem à noite, quando estavam contados 91,7% dos votos, a sua candidatura atingira 51,3% e a do candidato da ARENA 48,7%. O candidato da ARENA já reconheceu a derrota.
O resultado era o previsto por todas as sondagens.

Funes, um dos comunicadores mais influentes no país, deixou a sua profissão de jornalista de TV para seguir a actividade política, que o levou a ser agiora eleito presidente.
Carlos Mauricio Funes Cartagena nasceu em San Salvador em 1959 e durante mais de 20 anos dedicou-se ao jornalismo com uma grande popularidade, principalmente devido às suas fortes críticas a diversos sectores e especialmente ao Governo da direita.
Com seu triunfo, o FMLN, que entre 1980 e 1992 travou uma luta armada contra o Governo, chega pela primeira vez ao poder e coloca fim a 20 anos de hegemonia da Aliança Republicana Nacionalista (Arena), de direita, que concorreu nestas eleições com Rodrigo Ávila.
O presidente eleito é casado com a brasileira Vanda Pignato, representante do PT na América Central.

Funes foi ratificado como candidato do FMLN em 11 de Novembro de 2007, data em que faziam 18 anos da última ofensiva lançada pela ex-guerrilha, e desde esse dia todas as sondagens o situaram na frente das preferências eleitorais.
Funes não teve passado guerilheiro e tirou os seus estudos básicos e universitários com os jesuítas, embora não tenha conseguido concluir a carreira de Licenciatura em Letras na Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA).
Entre 1986 e 1991 trabalhou no "Canal 12", onde chegou, em 1997, a ser diretor de informação e a dirigir programas de grande audiência, caracterizados por serem muito críticos em relação ao Governo.
Também foi até há poucos meses, antes da sua indigitação como candidato, o correspondente em El Salvador da cadeia americana de notícias "CNN" em espanhol.
Em 1994 recebeu o prémio Maria Moors Cabot, da Universidade de Colúmbia.

Ao escolher Funes como presidente, os salvadorenhos também designaram como vice-presidente do país Salvador Sánchez Cerén, o único membro do Comando Geral do FMLN, durante o período guerrilheiro, que ainda se mantém neste partido.
O governante eleito prestará juramento em 1 de Junho por um período de cinco anos, sucedendo a Elías Antonio Saca, quarto presidente que a Arena levou ao poder nos últimos 20 anos.

A viragem à esquerda em El Salvador é importante para o processo emancipador na América Latina onde forças muito diferentes, com diferentes concepções estratégicas e percursos diferenciados, se reclamam de objectivos de esquerda. No caso de El Salvador, o processo de paz ratificado em 1992 pôs fim aos combates e a FMLN integrou-se na vida política legal com uma grande pujança, mas com alteração de posições políticas.
Este resultado está ameaçado por uma direita muito activa, relacionada com os grandes proprietários e com instituições, que nestas eleições, apoiaram claramente a ARENA, com a qual a FMLN terá que fazer compromissos para poder governar, sendo certo que essa direita vai fazer todos os esforços para reverter a curto prazo os resultados de ontem.
A nossa solidariedade vai impôr-se!

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