sexta-feira, 15 de maio de 2009

Patxi Andion - do concerto de ontem à recordação de Tonicha e Ary



Já afastado dos palcos, Patxi Andion acedeu à presente série de concertos que o leva a quatro cidades portuguesas: Figueira da Foz, Lisboa, Porto, e Guarda.
Ontem o S. Jorge estava cheio. Muitos espanhóis, é certo. Mas fundamentalmente portugueses da sua geração e um número razoável de jovens. Foi uma noite cheia das suas belas canções de amor, onde em pano de fundo ou intimamente intrincadas com os temas do amor estão as situações sociais e políticas que o identificam como um homem de esquerda, de causas, de combate ao fascismo espanhol, à sua maneira – a de cantar o amor.

Para mim, Patxi Andion era uma voz já conhecida no final dos anos 60, em actos do movimento estudantil mas, curiosamente, o renovar do interesse por ele foi pela voz de Tonicha, a partir do trabalho de Ary dos Santos, e sob a direcção musical do Thilo Krassman, que em 1972 ouvi e voltei ouvir tantas vezes nas “4 canções de Patxi Andion”, disco que só teve o pecado de ter uma capa onde a cantora mal se reconhece e em cuja contra-capa Ary dos Santos deixou escrito

Pax (?) Andion é - e já muitos o têm dito - um "caso" musical.
Mas, quanto a mim, a grandeza maior desse "caso" reside no impacto de uma força profundamente humana que quase se sente e se aprende fisicamente em todas as suas canções. Ao ouvi-las é impossível dissociarmo-nos da imagem do homem novo ibérico que, com os pés assentes na terra e os olhos virados à esperança, canta, sem dó nem piedade, o seu próprio destino.Em boa hora decidiu Tonicha interpretar algumas das suas canções, de cuja versão portuguesa tive o prazer de me ocupar. Também ela à sua maneira, personifica mais do que nenhuma outra, entre nós, o canto da nova mulher portuguesa. Canto de amor do povo e de amor pelo povo. Canto personificado num talento de facto ímpar mas, por força da sinceridade e do poder de comunicação humana, tornado colectivo e geral."


De uma experiência juvenil no rock, tem as suas primeiras experiências políticas e perseguições que o levam a partir à aventura, como marinheiro, para a Terra Nova. Passa fome e vai para Paris em 68, onde convive com os grandes músicos da época, canta em bares e em estações de metro, se envolve no ambiente revolucionário da cidade. A sua voz rouca com surpreendentes modificações de tonalidades, e a pronúncia basca – em cuja língua cantou a solo duas canções, mistura o pop com raízes populares do País Basco, sua terra de origem, traz-nos desde o seu primeiro single proibido “Canto para Jacinta”, que, por isso fez questão de cantar em todos os seus concertos.
Numa entrevista à revista portuguesa “O mundo da canção”, em 1970, numa das primeiras vezes que vem a Portugal, sem ser de forma semi-clandestina, ao falar das suas canções, Patxi diria:

“Creio que são canções de amor diferentes daquelas que até agora foram apresentadas em Espanha. O panorama no capítulo do amor resume-se a denguices e pieguices, não de Amor. O Amor é uma coisa que é muito bonita e é muito feia. Entendamo-nos: é uma coisa como a vida é; e se a vida ora é agradável ora o contrário, também o amor, que é a base dessa vida, oscila da mesma maneira. Há pois que aceitá-lo e vivê-lo como é, sem idealizá-lo, porque então deixa de ser o amor. O amor não pode ser lírico, porque desse modo pode perder a sua essência. Para se saber o que é o amor, é preciso que as pessoas se “manchem”.

Depois foi uma carreira que nos deixou canções inesquecíveis, depois de Jacinta, como Un, dos y tres, La Samaritana (1971), Veinte aniversario (este composto em 1965 e cuja letra se refere em baixo, publicado em 1971)), Compañera (1971), Padre (1972), o fabuloso El Maestro (1973) ou essa outra que não paro de assobiar desde o concerto de ontem, Nos pasaram la cuenta (também de 1971), e por aí fora…
E foram mais canções suas, o Patxi escritor, professor universitário e até, mais recentemente, director da Escola Espanhola de Caça...

4 comentários:

Maria disse...

... e ainda "Amor primero", "Con toda la mar detras", "Canela pura", "Y es mar" e, no final, o grande final com "Verde"!
Foi lindo...

Anónimo disse...

QUE BELA NOITE!!! INESQUECÍVEL E PARA QUEM NOS ANOS 70 ACOMPANHOU MUITO DA SUA VIDA COM PATXI ANDION COM AQUELA "AQUI" ENTÃO,, SEM SAUDOSISMOS VIVEU BELOS MOMENTOS.
AINDA BEM QUE LÁ ESTAVAS, TU E A ISABEL.

Anónimo disse...

PATXI ANDION UM NOME POUCO DIVULGADO E, PERCEBE-SE PORQUÊ, INCOMODAVA E AINDA INCOMODA MUITA GENTE, MAS FELIZES OS QUE ESTIVERAM NESTE ESPECTACULO TÃO POUCO DIVULGADO MAS QUE MESMO ASSIM ENCHEU O S. JORGE.
ALACANT

Anónimo disse...

o espetaculo do S Jorge foi simplesmente fantastico,desde os meus 17 anos que me apaixonei pela sua maravilhosa voz,ele e unico nunca aparecera um cantautor a este nivel,estas coisas so acontecem uma vez na vida,nem o tempo lhe transtorna a voz,nem a sua simpatia e um Homem muito simples e humano.Tive o prazer no final do espetaculo de o poder felicitar e trocar algumas palavras com ele, esperei 30 anos mas consegui,graças a sua lindissima mulher.Foi uma noite linda...