segunda-feira, 4 de maio de 2009

Anotação sobre um santo


"Quanto a Nun'Álvares, a sua avidez e ganância são atestadas por numerosos incidentes, conflitos e reclamações.
Assim, por exemplo, quando D. João I lhe doou os direitos de Almada, Nun'Álvares achou pouco e tomou conta, por sua iniciativa e abuso (sancionado depois com uma demanda) dos esteiros de Arrentela e Corroios.
Os seus rendimentos provenientes das doações feitas por D. João I foram avaliados em 16.000 dobras cruzadas. Mais de uma vez, quando resistiam à sua desmedida ganância e à dos seus apaniguados, Nun'Álvares ameaçava... abandonar.
Lutar, lutava. Mas mais bem pago que o rei. Assim Nun'Álvares se torna senhor de Barcelos, Braga e Guimarães, Montalegre e Chaves, Ourém e Porto de Mós, Alter do Chão e Sousel, Borba e Vila Viçosa, Estremoz e Arraiolos, Montemor-o-Novo e Portel e ainda Almada, Évora-Monte, Monsaraz, Loulé e muitos e muitos outros reguengos e muitas e muitas rendas de muitos e muitos lugares.
É de um homem destes que a Igreja Católica fez um santo, erguendo-lhe uma igreja em Lisboa aonde os pobres vão orar-lhe e pedir-lhe a sua intervenção junto de Deus..."

Álvaro Cunhal, "As lutas de classe em Portugal nos fins da Idade Média", Ed. Estampa, 1975.

1 comentário:

Nocturna disse...

Quando a igreja tem que «tornar santo», um rapineiro ganancioso, e homem de guerra que falta ao primeiro dos 10 mandamentos que a igreja diz serem fundamentais : não matarás; é mau sinal para a própria igreja.
Nem eles próprios respeitam as leis que querem que os outros cumpram !!
Reflexões à parte, era mesmo o que, estava a fazer falta a Portugal, era um santo de pau-carunchoso,feito à pressa, para ver se as pessoas se esquecem, neste período de tanto desemprego, corrupção e roubalheira , dos verdadeiros problemas e da forma CERTA de os resolver.
Um abraço
Nocturna