sexta-feira, 15 de maio de 2009

Guatemala: reacções aos incidentes

As questões já aqui referidas a propósito da tentativa de imputar ao Presidente guatemalteco o assassinato de um advogado, pelo ineditismo de que se revestiu com a ampla distribuição de um vídeo premonitório e acusador, por parte da vítima dias antes de ser encontrado morto a tiro, tem contornos pouco claros e em torno das reacções vão-se, para já definindo duas atitudes que se traduzem desde há três dias em manifestações e o reflexo da sua presença na comunicação social dominante.
Dum lado, exigindo a demissão de Colom, estão os meios mais abastados, com evidentes sinais exteriores de riqueza, que não se definem por políticas alternativas à do actual presidente, e que coincidem com a orientação da generalidade dos meios de comunicação social.
Do outro, apoiando Colom, estão camadas populares, particularmente as que estão envolvidas por programas sociais de desenvolvimento promovidos pelo governo e autarquias, a UASP, central sindical e de outras organizações sociais, bem como o partido que elegeu Colom em Novembro de 2007. Esta corrente está praticamente ausente da comunicação social.
Ambas preparam manifestações para o mesmo local da capital para o próximo domingo.

Deixando às investigações o apuramento deste caso que, seja qual for não está a evitar uma forte desestabilização no país, importa acompanhar o evoluir dos acontecimentos, que foram antecedidos de uma evolução política cujos traços essenciais convém recordar.

Depois de 30 anos de ditaduras militares e mais 20 de governos de Direita, a Guatemala elegeu, pela primeira vez, um Presidente daquilo a que hoje muitos chamam de centro-esquerda.
Nas eleições de 2007, Álvaro Colom teve 53% contra 47% do candidato da direita, o ex-general Otto Pérez Molina, um dos responsáveis pela chacina de quase 200 mil indígenas, na guerra civil que varreu o país por mais de três décadas. Rigoberta Menchú foi uma das candidatas que não passou à 2ª volta.
Colom quer combater a pobreza que atinge 80% da população.
Ao declarar-se vencedor das eleições, Colom apelou à "conciliação nacional de todos os guatemaltecos", sublinhando que então começaria um processo de transformação e mudança que não aconteceu em 50 anos".Esta foi a segunda volta das eleições. Na primeira volta Colom ficara à frente com 28% dos votos, contra os 23,5% de Perez Molina.

A campanha ficou marcada pela violência, facto que influenciou a elevada abstenção, de 65%. Cerca de 50 pessoas morreram durante o processo eleitoral.A insegurança e violência que assolam o país estiveram no centro da campanha eleitoral.
A Guatemala tem a taxa mais alta do Mundo de assassínios per capita, com 2.857 homicídios na primeira metade de 2007. Perante isto, o candidato da direita exigia "mão dura" enquanto Colom tentou recentrar o discurso na "conciliação e solidariedade", apesar de ser igualmente favorável à continuação da pena de morte. Social-democrata assumido e com ligação à Internacional Socialista criou o movimento que o elegeu, a UNE.

A pobreza atingia então 80% da população da Guatemala, o país mais populoso da América Central (13 milhões de habitantes). Mais de metade dos 14 milhões de guatemaltecos sobrevivia em 2007 com o equivalente a 1,5 euros.

Para Colom, os guatemaltecos tinham, virado “a página trágica" do militarismo na Guatemala. Entre 1960 e 1996 este país viveu uma guerra civil que custou a vida a cerca de 200 mil pessoas, quase todos indígenas. Segundo a Comissão Independente de Clarificação Histórica, o exército foi responsável por 90% das violações de direitos humanos ocorridas nessa altura, sendo que o candidato da direita, Perez Molina, assumia então funções de alta responsabilidade no exército guatemalteco.Alvaro Colom, engenheiro de profissão, é uma das raras pessoas não-índias distinguidas com o título honorífico de "chaman" (pai) por parte das comunidades indígenas maias, que representam a maioria da população (60 por cento).

1 comentário:

migana disse...

Como dizes esta é uma "história" para acompanhar mas, se calhar os guatemaltecos ainda não abandonaram completamente a sua fase militarista.Aguardemos o desenrolar dos acontecimentos.
Algo me parece certo este Presidente está a incomdar alguém, isso está!