sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Encontrada na Colômbia, a maior vala comum da América Latina,corre o risco de ser eliminada pelas autoridades

Segundo o jornal Pravda, do passado dia 17, foi recentemente descoberta, na Colômbia, a maior vala comum da história contemporânea do continente latino-americano, horrenda descoberta que foi quase totalmente oculta pelos meios de comunicação na Colômbia e no mundo. A vala comum contém os restos de pelo menos 2.000 pessoas e está em La Macarena, departamento de Meta. Desde 2005, o Exército, espalhado pela zona, enterrou ali milhares de pessoas, sepultadas sem nome. Transcrevemos o que o Pravda refere.

A população da região, alertada pelas infiltrações putrefatas dos cadáveres na água potável, e afectada pelos desaparecimentos, já havia denunciado a existência da vala em várias ocasiões ao longo de 2009. Em vão, pois a não se realizaram as investigações. Foi graças à perseverança dos familiares de desaparecidos e à visita de uma delegação de sindicalistas e parlamentares britânicos, que investigava a situação dos direitos humanos na Colômbia, em Dezembro de 2009, que se conseguiu trazer à luz este horrendo crime perpetrado pelos agentes militares de um Estado que lhes garantia impunidade.

Trata-se da maior vala comum do continente. Dois mil corpos numa vala comum é um assunto grave para o Estado colombiano, mas sua comuncação social e a mundial, cúmplices do genocídio, se encarregaram de mantê-lo quase totalmente em silêncio, quando para encontrar uma atrocidade parecida é preciso remontar às valas nazistas. Este silêncio midiático está sem dúvida vinculado aos imensos recursos naturais da Colômbia e aos mega-negócios que ali se realizam à custa dos massacres.

A Comissão Asturiana de Direitos Humanos, que visitou a Colômbia em Janeiro de 2010 (menos de um mês depois da descoberta da vala), perguntou às autoridades sobre o caso. As respostas foram preocupantes: na investigação, na procuradoria, no Ministério do Interior, na ONU, todos se tentam esquivar do assunto. E  tratam de “operar” a vala para lhe retirar importância, mas a delegação britânica constatou-a, e as próprias autoridades reconheceram a existência de pelo menos 2.000 cadáveres. Em Dezembro, “o Presidente da Câmara, aliado do governo,  também o denunciou, mas depois, as pressões oficiais tendem a fazer “diminuir suas apreciações sobre o número de corpos”.

A Delegação Asturiana denunciou a ostensiva vontade de alterar a cena do crime: “ninguém está a proteger o lugar. Ninguém está a impedir que se possam alterar as provas.Um trator pode entrar e voltar a misturar os cadáveres anónimos, a tirá-los e levá-los para outro lugar”. “Solicitamos às instituições responsáveis do Governo e do Estado colombiano que implementem as medidas cautelares necessárias para assegurar as informações já registradas nos documentos oficiais, que tomem as medidas cautelares necessárias com a finalidade de assegurar o perímetro para prevenir a modificação da cena, a exumação ilegal dos cadáveres e a destruição do material probatório que ali se encontra (…) É fundamental a criação de um Centro de Identificação Forense em La Macarena com a finalidade de conseguir a individualização e plena identificação dos cadáveres ali sepultados”.

A Delegação Asturiana transmitiu às autoridades outra denúncia. As autoridades invocaram desconhecimento, e alegaram incapacidade operativa.“Há tantas valas comuns no nosso país que…”. Trata-se do município de Argelia em Cauca: “Um ‘matadouro’ de gente, onde as famílias não puderam ir buscar os corpos de seus desaparecidos, pois os paramilitares não as deixaram entrar novamente em suas comunidades: deslocando os sobreviventes”. As vítimas sobreviventes relataram: que“havia pessoas amarradas sobre as quais eram lançados cachorros esfomeados para que os assassinassem pouco a pouco”.

Na Colômbia, a Estratégia Paramilitar do Estado colombiano, combinada com a ação de policias e militares, foi o instrumento de expansão de latifúndios. O Estado colombiano desapareceu com mais de 50.000 pessoas através de seus aparelhos assumidos (policiais, militares) e do seu aparelho escondido da  Estratégia Paramilitar. O Estado colombiano é o instrumento da oligarquia e das multinacionais para a sua guerra classista contra a população: é o garante do saque, a Estratégia Paramilitar se inscreve nessa lógica econômica.


A ocultação de uma vala comum das dimensões da da vala de La Macarena  inscreve-se no contexto de que os negócios de multinacionais e oligarquias se baseiam nesse horror, e em que esta vala foi produto de assassinatos diretamente perpetrados pelo Exército nacional da Colômbia, o que prova ainda mais o carácter genocida do Estado colombiano no seu conjunto (para além do seu anterior presidente Uribe, cujos negócios e vínculos com o narcotráfico e os paramilitares estão mais do que comprovados).

A cumplicidade da grande imprensa é criminosa, tanto a nível nacional como internacional. Os povos devem romper o silêncio com que se pretende ocultar o genocídio. Urge solidariedade internacional: a Colômbia é, sem dúvida, um dos lugares do planeta no qual o horror do capitalismo se plasma da forma mais evidente, em seu paroxismo mais absoluto.

E é a Colômbia, mesmo com os actuais dirigentes, que é a grande base militar dos EUA, e seu maior aliado.

1 comentário:

Helena disse...

Chocante! Chocantes os factos, chocante a estratégia imperialista, chocante o comportamento dos estados lacaios desse mesmo imperialismo.
Contra os horrores deste mundo unipolar, denunciar é a arma que temos na mão.
Como tu fazes, como todos, que se reclamam de 'cultura humanista' deveriam fazer.