Conheci o Paulo antes do 25 de Abril como a sua família que foi de entrega generosa
à conquista da liberdade, ao objectivo de projectar a democracia conquistada, realizando um percurso para um socialismo que teríamos de construir , não com base em modelos alheios mas com a nossa experiência e com as nossas gentes.
O capital falou mais forte, Mário Soares e o PS, deram as mãos a Carlucci e, com a direita atrás, quiseram derrotar a utopia.
As mulheres e os homens bons sofreram muito mas não pararam de lutar e passaram a novas gerações a fibra, o carácter, a utopia.
Paulo é um desses homens bons.
Na sua Declaração aqui transcrita percebe-se a condição dos que tendo valor, recusam os caminhos pouco claros de honrarias e prebendas. Não estarei de acordo com uma ou outra coisa mas é uma pedrada no charco.
Licenciado em história pela Universidade Clássica de Lisboa (1978), mestre em história da arte pela Universidade Nova de Lisboa (1988), doutorado em história da arquitectura pela Universidade de Coimbra (1999). Docente do DARQ desde 1991, professor convidado do Dep. Autónomo de Arquitectura da Universidade do Minho desde 2001, docente convidado de outras universidades portuguesas e estrangeiras. A principal área de investigação e publicação tem sido a história da arquitectura e da cultura arquitectónica portuguesa dos séculos XVII e XVIII.
DECLARAÇÃO
As medidas que o Estado português se prepara para tomar não servem para nada. Passaremos anos a trabalhar para pagar a dívida, é só. Acresce que a dívida é o menor dos nossos problemas. Portugal, a Grécia, a Irlanda são apenas o elo mais fraco da cadeia, aquele que parte mais depressa. É a Europa inteira que vai entrar em crise.
O capitalismo global localiza parte da sua produção no antigo Terceiro Mundo e este exporta para Europa mercadorias e serviços, criados lá pelos capitalistas de lá ou pelos capitalistas de cá, que são muito mais baratos do que os europeus, porque a mão-de-obra longínqua não custa nada. À medida que países como a China refinarem os seus recursos produtivos, menos viável será este modelo e ainda menos competitiva a Europa. Os capitalistas e os seus lacaios de luxo (os governos) sabem isso muito bem. O seu objectivo principal não é salvar a Europa, mas os seus investimentos e o seu alvo principal são os trabalhadores europeus com os quais querem despender o mínimo possível para poderem ganhar mais na batalha global. É por isso que o “modelo social europeu” está ameaçado, não essencialmente por causa das pirâmides etárias e outras desculpas de mau pagador. Posto isto, tenho a seguinte declaração a fazer:
Sou professor há mais de 30 anos, 15 dos quais na universidade.
Sou dos melhores da minha profissão e um investigador de topo na minha área. Emigraria amanhã, se não fosse velho de mais, ou reformar-me-ia imediatamente, se o Estado não me tivesse já defraudado desse direito duas vezes, rompendo contratos que tinha comigo, bem como com todos os funcionários públicos.
Não tenho muito mais rendimentos para além do meu salário. Depois de contas rigorosamente feitas, percebi que vou ficar desprovido de 25% do meu rendimento mensal e vou provavelmente perder o único luxo que tenho, a casa que construí e onde pensei viver o resto da minha vida.
Nunca fiz férias se não na Europa próxima ou na Índia (quando trabalhava lá), e sempre por
pouco tempo. Há muito que não tenho outros luxos. Por exemplo: há muito que deixei de comprar livros.
Deste modo, declaro:
1) o Estado deixou de poder contar comigo para trabalhar para além dos mínimos indispensáveis. Estou doravante em greve de zelo e em greve a todos os trabalhos extraordinários;
2) estou disponível para ajudar a construir e para integrar as redes e programas de auxílio mútuo que possam surgir no meu concelho;
3) enquanto parte de movimentos organizados colectivamente, estou pronto para deixar de pagar as dívidas à banca, fazer não um, mas vários dias de greve (desde que acompanhados pela ocupação das instalações de trabalho), ajudar a bloquear estradas, pontes, linhas de caminho-de-ferro, refinarias, cercar os edifícios representativos do Estado e as residências pessoais dos governantes, e resistir pacificamente (mas resistir) à violência do Estado.
Gostaria de ver dezenas de milhares de compatriotas meus a fazer declarações semelhantes
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
Para uma visão bastante diferente da questão,emnora sem nenhuma desconsideração pessoal por Paulo Varela Gomes,talvez convenha ter em conta a opinião expressa no blogue «sem punhos de renda» - disponível em http://sempunhosderenda.blogspot.com/2010/10/e-porque-nao-para-guerrilha-ja-e-em.html
Paulo Varela Gomes, podes contar comigo, subscrevo a tua declaração, excepto nas questões que te são próprias. Obviamente.
Antonio Costa
Um ponto de vista muito forte... Contudo não nos podemos esquecer que a Europa não produz mais que alguma inteligência e tecnologia. No qual estamos a ficar ultrapassados pelos países em desenvolvimento. Além do mais temos toda a América contra o euro e há que confessar que congelar a economia não é a solução, apesar de ser exactamente o que a Europa está a fazer.
Quanto ao resto Paulo Varela Gomes é mesmo o melhor do seu ramo, há que dizê-lo com frontalidade e penso que toda a minha geração ficaria a perder muito se se aposentasse.
Enviar um comentário