segunda-feira, 11 de outubro de 2010

As muitas caras da CIA

Os EUA dispõem há cerca de vinte e cinco anos, de um organismo - a Fundação Americana para o Desenvolvimento (FAD ou NED, em inglês) - que, tendo como objectivo expresso  "promover a democracia em todo o mundo".... De facto a sua criação foi a forma de Reagan dar a volta nos anos 80 à denúncia sistemática feita pela imprensa de infiltrações da CIA numa vasta série de organizações para a conjura política com meios de outros países com vista a alterações políticas favoráveis aos desígnios dos EUA. Aproveitando o impacto positivo em termos humanitários de muitas organizações não governamentais (ONGs, vários partidos verdes, associações de defesa dos direitos do homem, etc.), a acção privilegiada de intervenção da CIA passou a realizar-se por muitas delas. Com a vantagem adicional de, não sendo as ONGs organismos do Estado, as intervenções ficariam, em princípio, livres do ónus de ingerência estado a estado por se tratarem de organizações da chamada "sociedade civil".
O jornalista Thierry Meyssan, foi um dos que recentemente confirmou alguns factos ao longo dos anos referidos por vários outros autores.
Hoje muitas ONGs constituem um novo tipo de exército com que a inteligência norte-americana passou a poder contar.
Imbuídos de concepções puritanas desde a historicamente recente criação do seu país, muitos americanos assumem como seu dever "exportar a democracia", com concepções e restringindo-se a vertentes com que a administração americana. concorde (não pode incluir direitos dos povos ou dos trabalhadores mas desta pessoa ou daquele grupo, não abriga o fim dos armamentos, a defesa da paz e a não ingerência na vida de outros países, etc.).
A sobrevalorização por muitos norte-americanos fazem do seu "modo de vida" (apenas gozado por uma parte da população), faz escapar-lhe a natureza predadora do imperialismo, das suas forças armadas, dos seus métodos de interrogatório, de como o Estado se entrelaça com o narcotráfico e com o tráfico de armamentos. A imagem que têm do militar norte-americano é a de um anjo irrepreensível e incomodam-se com obras e arte que revelam o contrário. Os objectivos de intervenção ´são entendidos como virtuosos porque os livram do "império do mal".
Na mentalidade de muitos norte americanos e em muitos textos legislativos, a começar pela Constituição, não está clara a "soberania do povo", adquirida por outras civilizações milenares com uma longa história.
O acesso ao poder, a partir do voto individual, está na prática blindado por um complexo emaranhado de instituições e regras. Só o caso da democracia nos EUA daria para muitos congressos, seminários, obras de investigação.

É evidente que não generalizo. Visitei os EUA. Diariamente acedo a outras coisas bem diferentes desta. É um país de uma cultura fervilhante que nos contagiou. Existe um pensamento democrático em muita gente e uma produção marxista, em vários ramos, assinalável. Aí não encontramos as concepções messiânicas de combate ao "império do mal".

Porque a prosa já vai longa não deixaria de referir que as dotações financeiras para a FAD são aprovadas pelo Congresso, independentemente das que são aprovadas para a CIA e são canalizadas para outras quatro ONGs (uma virada para os sindicatos e geridas pela AFL-CIO, outra dirigida para as empresas e gerida pela Câmara do Comércio dos EUA, e outras duas dirigidas directamente para os partidos democrático e republicano, nomeadamente para as relações internacionais de ambos...

1 comentário:

António disse...

António Abreu
Permita-me que "devasse" o seu Blog e divulgue outro Blog "O CASTENDO" do António Vilarigues. O seu pai Sérgio Vilarigues e sua mãe Maria Alda Nogueira passaram pelas prisões fascistas na ditadura de Salazar e Caetano.
Saudações democráticas
António Carvalho