segunda-feira, 2 de agosto de 2010

SIC-Notícias: o plano a inclinar-se





Anteontem vi o Plano Inclinado, cada vez mais inclinado pelos elementos fixos do painel, neste caso João Duque e Medina Carreira, excepção feita ao Mário Crespo na sua posição de moderador.
Manuel Carvalho da Silva deu "uma lição" aos dois professores.

Mas os professores-alunos revelaram uma atitude intelectual que importa sublinhar e de que importa reter quatro posições de base:
1. Só há uma maneira de sair da crise: cortar salários e direitos dos trabalhadores;
2. Só assim com a competitividade acrescida à base dos custos do trabalho podemos exportar para atenuar deficite;
3. Estamos completamente manietados por dependências externas, leia-se estarmos dependentes da concessão de crédito, muito selectivo hoje, ou por estarmos na União Europeia, que retirou importantes zonas de soberania aos estados-membros, com particular alcance para países como Portugal;
4. Os sindicalistas modernos não deviam ser reivindicativos.
Ora, quanto a nós e certamente quanto a muita gente que se não refugia nas fatalidades dos dias de hoje,

1. Sair da crise implica crescer economicamente e isto não se consegue com trabalho escravo e famílias desfeitas e vidas desreguladas.
2. A competitividade nos mercados externos tem outros factores a ter em conta como a qualidade de gestão da empresa na organização do processo produtivo, a modernização tecnológica, estar atento aos perfis produtivos em que podemos competir com vantagem.
3. Se para produzir importa ir procurar crédito que, actualmente, não se atrai por condições próprias do país, então há que rever a relação dos estados com o sistema financeiro, que não pode tornar-se independente dos Estados, que vive à custa do trabalho de biliões de pessoas, que entende só apoiar quem quer e optar por um crescimento de lucros próprios, não à custa do apoio à economia (razão que levou à sua criação), mas da especulação financeira, onde tudo pode esfumar-se e os cidadãos serem de novo roubados para resolverem os problemas do sector financeiro, que para isso já parece não ser autónomo.
O mesmo se diz às relações com a União Europeia.
4. Quanto ao papel dos sindicatos ser contribuir para a resolução dos problemas e não reivindicar (!!!), importa dizer que compete ao domínio do poder político e económico resolver as situações porque foram responsáveis. Ou será que o sistema financeiro, o poder político e o poder económico preferem entregar a matéria aos trabalhadores e outros cidadãos, indo eles para os sindicatos cooperarem com os trabalhadores na condução de uma outra +política para o país? Olhe que não, diria alguém que nos é querido.
Os sindicatos lutam pelos direitos e condições de vida dos trabalhadores e perspectivam a necessidade de outras políticas. E quão importante tem sido o seu papel para que os trabalhadores e a sociedade não voltem aos tempos da escravatura, para que a sociedade tenha acedido ao que se convencionou chamar o "estado social".

Mas que painel este o do Plano/ Inclinado...Numa primeira fase a crítica às políticas do governo procuraram ir ao encontro de queixas objectivas dos cidadãos, agora tornaram-se em porta-vozes das intenções de um aprofundamento da política da direita...

5 comentários:

F. Penim Redondo disse...

Caro António Abreu,

nós podemos fazer muitos discursos sobre como o mundo devia ser. Mas só com discursos bem intencionados não mudamos o mundo que existe.

A China é o fenómeno mais importante das últimas décadas.
Mostra que não é absolutamente certo que, como dizes,"sair da crise implica crescer economicamente e isto não se consegue com trabalho escravo e famílias desfeitas e vidas desreguladas".

Os chineses, apesar da sua dimensão e estabilidade política garantida pelo PC, perceberam que tinham que fazer das tripas coração para tirar o seu país do buraco em que se encontrava. E conseguiram. Hoje dão cartas no plano económico e todos os anos tiram dezenas de milhões de famílias da pobreza.

Eu sei que fazer isso na China não é o mesmo que fazer isso em Portugal. Mas tem que chegar o dia em que tomaremos o nosso destino nas nossas próprias mãos.

Se assim não for acabaremos na mais tenebrosa miséria.

candido disse...

viva a todos.
Acrescento ao pensamento do Penim o seguinte:
A Europa tinha regalias que funcionavam como travão ao avanço do comunismo.Os operários tinham elevados padroes de vida se comparados com o leste. O muro caiu, a China abriu as portas, a economia já não assenta na procura mas sim na oferta, e nós ainda não percebemos! Abcs

Marisa disse...

Carvalho da Silva , dá liçôes a muita gente ....
Como gostaria de o ver à frente dos destinos deste país....
Um dia quem sabe???
Tudo é possível.
Abraço

antreus disse...

Agradeço o comentário de todos, sobre os quais diria ainda o seguinte:

1. Não sou adepto do discurso bem intencionado, despido de outro tipo de considerações. Nesse aspecto acho que durante anos o Dr. Medina Carreira nos bateu a todos aos pontos.

2. Não me parece de todo razoável perfilarmo-nos pelo exemplo chinês. O crescimento económico chinês - crescimento capitalista acompanhado com largo poder de intervenção do PCC no poder - baseou-se em condições de vida que já eram más e que se têm vindo a melhorar como orientação política do Estado. No nosso caso já crescemos no passado - pouco é certo - com mais elevados padrões de direitos e regalias dos que estão a impôr agora aos trabalhadores. O aparelho prudutivo foi abandonado como opção política sob o véu de uma "suposta modernidade". A banca foi deslocando a sua actividade da nossa capacidade de, com o seu apoio, podermos fazer crescer a economia, entregando-se à actividade especulativa e à concessão "à força" de créditos ao consumo com condições leoninas depois da atractibilidade inicial ter ganho consumidores que queriam alargar os seus padrões de vida. Não vale a pena estender mais o lençol e remataremos dizendo que isto não foi feito na China.

3. Tomar o destino nas nossas próprias mãos tem-nos sido negado pelo tipo de integração europeia por que o poder político aqui optou. Isso implica alterações muito significativas deste "paradigma europeu".

4. Não é certo que os governos europeus tenham dado regalias para conter a progressão do comunismo no pós-guerra. Foram, isso sim, obrigado a cedê-las, no período de reconstrução e de debilitamento do fascismo, devido às lutas dos trabalhadores. Nada foi dado, tudo foi conquistado.
A derrocada do socialismo no leste europeu e numa parte mais próxima da Ásia gerou sem dúvida maiores intransigêncis do patronato. Tal como a perda dos equilíbrios geo-estratégicos e a debilitação de organismos internacionais, subsidiários da ONU,que hoje são altamente condicionados ou usados pelos EUA. A perda de uma referência dos trabalhadores em relçação à possibilidade de outro tipo de sociedade certamente afectou os ânimos de muitos. Mas o movimento sindical tem muita força.

antreus disse...

Agradeço o comentário de todos, sobre os quais diria ainda o seguinte:

1. Não sou adepto do discurso bem intencionado, despido de outro tipo de considerações. Nesse aspecto acho que durante anos o Dr. Medina Carreira nos bateu a todos aos pontos.

2. Não me parece de todo razoável perfilarmo-nos pelo exemplo chinês. O crescimento económico chinês - crescimento capitalista acompanhado com largo poder de intervenção do PCC no poder - baseou-se em condições de vida que já eram más e que se têm vindo a melhorar como orientação política do Estado. No nosso caso já crescemos no passado - pouco é certo - com mais elevados padrões de direitos e regalias dos que estão a impôr agora aos trabalhadores. O aparelho prudutivo foi abandonado como opção política sob o véu de uma "suposta modernidade". A banca foi deslocando a sua actividade da nossa capacidade de, com o seu apoio, podermos fazer crescer a economia, entregando-se à actividade especulativa e à concessão "à força" de créditos ao consumo com condições leoninas depois da atractibilidade inicial ter ganho consumidores que queriam alargar os seus padrões de vida. Não vale a pena estender mais o lençol e remataremos dizendo que isto não foi feito na China.

3. Tomar o destino nas nossas próprias mãos tem-nos sido negado pelo tipo de integração europeia por que o poder político aqui optou. Isso implica alterações muito significativas deste "paradigma europeu".

4. Não é certo que os governos europeus tenham dado regalias para conter a progressão do comunismo no pós-guerra. Foram, isso sim, obrigado a cedê-las, no período de reconstrução e de debilitamento do fascismo, devido às lutas dos trabalhadores. Nada foi dado, tudo foi conquistado.
A derrocada do socialismo no leste europeu e numa parte mais próxima da Ásia gerou sem dúvida maiores intransigêncis do patronato. Tal como a perda dos equilíbrios geo-estratégicos e a debilitação de organismos internacionais, subsidiários da ONU,que hoje são altamente condicionados ou usados pelos EUA. A perda de uma referência dos trabalhadores em relçação à possibilidade de outro tipo de sociedade certamente afectou os ânimos de muitos. Mas o movimento sindical tem muita força.