Confesso que não me apetecia escrever sobre o Saramago. A atitude recente em relação às autárquicas de Lisboa não me caiu nada bem e preparava-me para uma quarentena de citações. Tenho o direito a ficar chateado.
Mas o desatino, a propósito de uma obra sua, voltou. Com toda a força do disparate.
Saramago decidiu promover o seu novo livro Caim com referências à Bíblia e ao Deus que ela nos configura. Ninguém de bom senso, nos dias de hoje, pode negar que as impressões que a Bíblia transmite a quem a leia, no seu isolamento e sem recorrer a um "conversor" teológico, é a que o autor refere. E fá-lo porque isso tem a vêr com o que o leitor deste novo livro nele vai encontrar.
Porta-vozes da Igreja, responsáveis da nossa comunidade judaica, até um deputadozito se atiraram a Saramago como gato a bofe. Guardai a vossa ira para a condição humana que se forja em torno de vós! Se o não fizerdes e gastarem o vosso tempo como algumas velhas gaiteiras não há Deus que vos valha e muito mal o estarão a servir!...E até desconfio que vos peçam credenciais quando rumarem ao reino dos céus...Vade retro, pois.
Já alguém disse que as vozes se levantaram sem que tivessem lido Caim. E leram a Bíblia?
PS - Em aditamento, aqui reproduzo comentário feito a um post do F. Penim Redondo sobre a matéria no dote.com.
"Saramago é criticável como qualquer comum dos mortais. Mas o tipo de crítica para com ele não colhe. Quer pela não leitura do seu livro, que poucos terão feito até agora e desde domingo, quer pela não aceitação de que a Bíblia contem, de facto, elementos suficientes para fomentar o ateísmo, como qualquer outro livro antigo que não sofra nas mensagens adequações teológicas aos dias de hoje. Sem iso não é assimilável àquilo que a Igreja apresenta hoje como sua doutrina.
Com tudo isto não subscrevo a exploração mediático-comercial característica de cada um dos seus últimos livros pelo próprio. Sobre isto penso que, sim, Saramago é indiscutivelmente passível de crítica."
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