Mas que seja só por esta via que as duas preciosas fontes de energia se originam já divide investigadores.
Não vou inclinar-me para uma dessas atitudes porque não estou habilitado para isso, se bem que seja questão que há muito me suscita interesse. Nem entrar pela especulação de que esta seria uma alternativa de fonte de energia que não limitasse a prospecção a jazidas de origem fóssil. E ainda menos que não teria razão de ser o receio expresso por tantos nas últimas dezenas de anos de que teríamos que encarar o fim do fornecimento do petróleo.
Em Julho deste ano, um livro (1) dava conta de investigações realizadas no Real Instituto de Tecnologia de Estocolmo que demonstravam que os fosseis animais e vegetais não eram obrigatórios nestes processos, conclusão que abriria a hipótese, que referimos atrás, de poder ser muito mais fácil encontrar estas fontes de energia e em todo o globo.
Estas investigações têm envolvido centros russos, suecos e norte-americanos que estão a contribuir para que a teoria da origem orgânica destas fontes de energia coexista com uma outra, a teoria inorgânica ou abiótica sem intervenção de matéria viva) com cada vez maior aceitação nos meios científicos.
Não as desenvolvendo agora aqui, importa reter que esta corrente dispõe também de fortes argumentos para uma não aceitação da teoria orgânica. Ao mesmo tempo que afirma não ter que se aceitar que o ciclo do carbono se restrija à superfície da crosta, sendo mais razoável aceitar que o Carbono é continuamento bombado para a superfície devido às altíssimas pressõe3s do interior da Terra.
A possibilide de sintetizar hidrocarbonetos a partir de matéria orgânica deu no passdado muita força à teoria dos combustíveis fósseis.
Mas agora é possível sintetizar etano (C2H6), a partir do metano (CH4) e outros hidrocarbonetos pesados num ambiente sem matéria viva, fóssil.
Mas agora é possível sintetizar etano (C2H6), a partir do metano (CH4) e outros hidrocarbonetos pesados num ambiente sem matéria viva, fóssil.
A utilização de uma cápsula e pressão, conhecida como bigorna de diamante (ver esquema ao lado) e uma fonte de calor a laser, os cientistas submeteram o metano a pressões mais de 20 mil vezes superior à pressão atmosférica ao nível do mar, e a temperaturas variando de 700° C a mais de 1200º C, reproduzindo assim as condições ambientais encontradas no manto superior da Terra, entre 65 e 150 quilómetros de profundidade.
No interior da célula de pressão, o metano reagiu e formou etano, propano, butano, hidrogênio molecular e grafite. Os cientistas então submeteram o etano às mesmas condições e o resultado foi a formação de metano, demonstrando a reversibilidadfe das duas reacções.
Essas reações demonstram que os hidrocarbonetos pesados podem existir nas camadas mais profundas da Terra, muito abaixo dos limites onde seria razoável supor a existência de matéria .
No interior da célula de pressão, o metano reagiu e formou etano, propano, butano, hidrogênio molecular e grafite. Os cientistas então submeteram o etano às mesmas condições e o resultado foi a formação de metano, demonstrando a reversibilidadfe das duas reacções.
Essas reações demonstram que os hidrocarbonetos pesados podem existir nas camadas mais profundas da Terra, muito abaixo dos limites onde seria razoável supor a existência de matéria .
A opção por esta teoria, segundo os autores, levaria a um drástico abaixamento dos preços de extracção de petróleo e gás natural e dos preços ao consumidor industrial e doméstico e à generalização a todo o mundo de novos estudos para novas captações em locais até agora não explorados.
O entusiasmo que esta perspectiva pode gerar terá que ser temperado com a necessidade de novas investigações que os autores referem, para além das implicações da reconversão de toda a tecnologia envolvida
Mas seria uma alegria que daríamos ao Raul Solnado sobre a possibilidade da descoberta que fez há uns anos: "Há petróleo no Beato!!"...
(1) "Methane-derived hydrocarbons produced under upper-mantle conditions", Anton .
Kolesnikov, Vladimir G. Kutcherov, Alexander F. Goncharov, Nature Geoscience26 July 2009Vol.: Published onlineDOI: 10.1038/ngeo591
4 comentários:
Interessante, anoto a referência, mas até provas mais convincentes, continuo céptico (ou, vá lá, expectante).
De qualquer modo, o que me surpreende é a afirmação de que a opção por esta teoria - que não é nova, mas que terá ganho pontos a favor - "levaria a um drástico abaixamento dos preços de extracção de petróleo e gás natural" e, por conseguinte, dos preços ao consumidor. Mas como, se esses hidrocarbonetos existiriam em camadas tão profundas?
Mesmo que fosse verdade, já se avaliaram os custos financeiros de uma extracção deste tipo? E, mais importante ainda, dos custos energéticos (numa métrica física, e não financeira)?
É que apesar das numerosas e omnipresentes aplicações industriais do petróleo, este é extraído principalmente para funcionar como fonte energética.
Não se pode gastar mais energia na sua extracção, refinação e distribuição, do que aquela que dele se obtem (ou teríamos uma rentabilidade energética negativa).
Esta é a questão mais importante de todas. Porque, enfim, compostos de carbono não faltam. Veja-se o caso dos hidratos de metano, e o mito actual das suas possibilidades (a curto prazo) como fontes energética.
HM
A afirmação do autor de que o grau de precisão na busca de óleo é aumentada dràsticamente de 20 a 70 por cento e a refere a que a perfuração para a obtenção de petróleo e gás natural, sendo um processo muito caro, pode ter o custo muito diminuído para as empresas de petróleo, e no final, provavelmente também para os consumidores, não estão documentalmente sustentadas para se poder dizer, como o autor diz, que seriam poupados milhares de milhões de dólares.
Procurarei verificar se os autores tem suportes adicionais para tais afirmações.
Como diz, a "teoria inorgânica" há muito que é sustentada. Lembremo-nos de Mendeleiev, por exemplo. Agora terá maior sustentabilidade.
Mas as questões do cepticismo quanto a uma maior e mais vasta produção e quanto à rentabilidade da sua extracção para ser mìnimamente competitiva com a da actual indústria petroquímica permanecem e os autores não terão (?)equacionado esta questão copmo se exigiria para tornar menos especulativa a notícia.
or tudo isso, também não me inclino para a aceitação de tal teoria.
Meu caro
Agradeço a tua atenção.Como tev disse, iria tentar contactar os autores.
1. Goncharov, atendeu-me amavelmente e disse-me que o interesse dos três investigadores vinham de experiências e previsões teóricas anteriores (já referidas no trabalho do falecido Thomas Gold para que me remeteste, publicado em 01/10/2007, na resistir.info). Nessas experiências o metano sujeito a altas pressões e temperaturas dava origem a hidrocarbonetos mais pesados. Mas as moléculas não se podiam identificar, apresentando uma distribuição semelhante. Goncharov afirmou-me terem ultrapassado essa questão com a sua técnica de aquecimento a laser, em que puderam tratar volumes maiores e mais uniformemente, tendo verificado que o metano pode ser produzido a partir do etano e que, portanto, existe uma reversibilidade de reacções.
2. Já não consegui obter resposta de Kutcherov que foi quem fez a declaração não fundamentada das promissoras perspectivas económicas, na apresentação do trabalho em Julho.
Sobre estas duas questões dou, também hoje, conta num novo post sobre o assunto.
Um abraço
A. Abreu
Camarada Abreu,
não posso deixar de agradecer a atenção. Li o novo post.
Se faço aqui o comentário, no primeiro post, é para discordar de uma "previsão" do Jorge Figueiredo, embora concorde com ele quanto ao fundamental.
Estamos, de facto, no que respeita à produção de petróleo, na fase do "planalto", ou seja, a produção(anual) mundial de petróleo andará nos próximos tempos, com ondulações, à volta de valores próximos do máximo absoluto.
É até possível, embora não tenha isso por garantido, que esse máximo absoluto tenha já sido atingido em 2008 (é difícil comprová-lo, visto que a produção de petróleo este ano de 2009 foi restringida devido à crise económica e não apenas pelas dificuldades de extracção).
Seja como for, é, repito, possível que o declínio até já tenha começado. No entanto, e aí está a minha divergência, um declínio acentuado, devido a razões físicas (e não económicas), não se verificará daqui a um ou dois anos, o "plateau" durará bastante mais tempo, pelo menos mais cinco ou seis anos, talvez quase uma década.
Se a economia mundial tivesse prosseguido com o ritmo de crescimento anterior à crise, com o inevitável aumento da procura de petróleo, e a impossibilidade da oferta corresponder (exactamente porque se atingiu, ou atingiu aproximadamente, o tecto de produção), o problema ter-se-ía agravado seriamente em todas as suas dimensões. Tivemos um pequeno vislumbre disso no nosso país em meados do ano passado (greves de camionistas, pescadores, agricultores, taxistas, dificuldades de abastecimento alimentar, etc.).
No entanto, o afloramento da gravíssima crise em que estamos mergulhados - a primeira grande depressão do século XXI - veio disfarçar o problema. Na melhor das hipóteses, o consumo energético mundial só retomará os níveis de 2008 em 2012. Se a crise se aprofundar, ou simplesmente se a retoma for adiada, não voltaremos a consumir tanta energia (e, por conseguinte, tanto petróleo) antes de meados da próxima década.
Se a crise estiver aí para durar, mesmo que degenerando numa estagnação prolongada (que será apenas outra forma dela), digamos aí para uma década, como a fase do "planalto" na produção petrolífera se estenderá provavelmente por mais uma boa meia dúzia de anos, o problema fica "adiado" também quase por uma década. Senão, pode estoirar lá para 2012-13, mas nunca antes disso.
Tudo depende da gravidade da depressão económica.
Claro que não lidamos aqui com variáveis independentes. A incapacidade de corresponder a uma procura energética gerada por uma eventual retoma económica mais vigorosa, prejudica e condiciona fortemente essa mesma retoma.
Esse é um dos ingredientes novos desta grande crise que atravessamos(não o único, refira-se por exemplo a maior transnacionalização da economia mundial e os monstruosos volumes de capital fictício). E que contribui para a distinguir de apenas mais uma crise cíclica do capitalismo (carácter que, inegavelmente, também tem, mas combinado com elementos estruturais novos) e lhe confere uma particular gravidade.
Não posso aprofundar aqui.
Resumirei apenas dizendo que um dos factores que contribuiu para a gravidade da crise é o facto qualitativamente novo de estar ensarilhada com a entrada em declínio (ainda que suave nos próximos anos) da principal fonte energética da economia mundial.
Renovo o meu agradecimento pela atenção.
Abraço do HM
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