terça-feira, 1 de setembro de 2009

Nos 70 anos da invasão nazi da Polónia (actualizado)

Passam hoje 70 anos sobre o bombardeamento de uma base polaca, perto de Gdansk pelo cruzador alemão Schleswig-Holstein.
Este ataque, sem qualquer aviso prévio, desencadeou a 2ª guerra mundial onde morreram mais de 70 milhões de pessoas.
Os governos dos EUA, da Inglaterra e da França financiaram desde muito cedo o armamento alemão na expectativa de que este contribuísse para conter e aniquilar os movimentos comunistas que se desenvolveram na Europa depois da Revolução Russa.
Em dez anos, estes governos e outros seus aliados concederam à Alemanha créditos de 27 mil milhões de marcos com esse objectivo, sendo que 70% dessa verba foi garantida pelos EUA.
Quando da invasão da Checoslováquia pelos nazis, no ano anterior ao início da guerra, o governo polaco ocupou parte dela. O governo polaco trabalhava com Hitler na perspectiva de, a partir de insurreições que os seus serviços secretos garantiriam entre diferentes etnias da Rússia, desintegrá-la e facilitar o objectivo de Hitler antes da invasão da URSS, que se viria a verificar 2 anos depois.
Passados estes 70 anos, como já aqui referimos há dias, tem estado em curso um movimento de comentadores e tentativas institucionais, como na OSCE, de minimizar o papel da URSS na derrota dos alemães, de tentar associar o Tratado de Não-Agressão entre a URSS e a Alemanha nazi a um tratado de partilha da Polónia, de atribuir intenções premeditadamente criminosas às tropas russas no combate contra os nazis ou em actos inaceitáveis que todos os outros grandes protagonistas deste conflito cometeram, de fazer equivaler nazismo e comunismo.
Mas esquecem-se que muitos outros países, particularmente a Inglaterra fizeram tais tratados com a Alemanha. Que neste caso a intenção era atirar os nazis em exclusivo contra a URSS, é matéria que muitos historiadores já abordaram. E que o tratado com a URSS foi a forma de atrasar a invasão pelos nazis para que a URSS, sem os generosos créditos ocidentais concedidos aos nazis, se dedicasse a uma autêntica economia de guerra para os poder vencer.
Esquecem que a página que virou a guerra foi a derrota de Estalinegrado que fez acelerar o desembarque aliado, que muito tardou, na Normandia.
Porque, até aí, persistiam esperanças em alguns governos de que Hitler levaria de vencida os soviéticos, antes dos EUA se decidirem pela derradeira batalha, o que lhes traria ganhos políticos consideráveis e mais uma Rússia destruída para lhe alargar as hipotecas de reconstrução que alargaria o domínio dos EUA a outras zonas para além da Europa Ocidental e o Japão
Ignorar outros factos, além destes, não permite ter o quadro total de conhecimento que permitana entender melhor a origem de algumas opções soviéticas.
É o caso de nos estados bálticos (Letónia, Estónia e Lituânia), pnde, com apoio dos respectivos governos, se alistaram no exército nazi ou nas SS, 285 mil cidadãos desses países. Ou da Holanda e Noruega onde se alistaram 26 mil. Ou na Geórgia, Azerbeijão, Daguestão, Chechénia, Crimeia, Arménia e na Bósnia onde se alistaram 156 mil. Ou ainda o caso de alguns dos estados do leste europeu que tinham regimes nazis e aliados do Reich como a Hungria, a Eslováquia, a Croácia, a Bulgária e a Roménia.
É neste quadro, para além do apoio em equipamentos, metais, combustível, que grandes empresas americanas forneceram ao Reich - e que levou depois da guerra a indignada Eleanor Roosevelt a defender que fossem fechadas as empresas colaboracionistas como a IBM (que iniciou os programas computorizados em cartões perfurados com as liquidações sistemáticas de seres humanos no holocausto...) - que se tem que compreender o papel da URSS.
É por isso normal até que Churchill, o autor posterior do conceito de "cortina de ferro" que esteve associado à "guerra fria", tenha valorizar o papel insubstituível que a URSS teve na conquista da liberdade na Europa ocupada.

A ida de Putin hoje à celebração de Gdansk é passo importante para deter este revisionismo histórico, apesar de ter questionado a "moralidade" do pacto Ribbentrop/ Molotov, e para desenvolver a cooperação nos países do leste europeu que, de novo, estão a ser aproveitados para combater a Rússia.
O carácter do gasoduto do russo-alemão do Báltico (Nordstream) no quadro da necessidade de diversificar o transporte de gás da Rússia para a Europa, as compensações à Polónia pelo gás deixado de receber devido às manobras do presidente ucraniano e a construção pela Rússia, de um gasoduto na Polónia, a ser detido a50% por ambas as partes, e a homenagem aos polacos civis e resistentes, vítimas dos nazis , foram gestos importantes desta visita.
Numa visita onde não faltou a crispação pela interpretação diferente de factos históricos como os massacres de Katyin, Putin reagiu dizendo que a Rússia se comprometia a abrir os seus arquivos da época se a Polónia fizesse o mesmo, o que foi aceite.

3 comentários:

migana disse...

Excelente análise.
obrigado

António Abreu disse...

A interpretação dos factos históricos tem que ser baseada em dados fidedignos e não na vontade de reescrever a História, de forma não sustentada, para fins políticos.
Há factos desse período que ainda estão em arquivos fechados.

migana disse...

Muito da nossa historia esta por contar...