quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A crise energética e o desrespeito pela entropia


John Michael Greer, apresenta no seu blog uma reflexão sobre esta crise e a chamada segunda lei da termodinâmica.
O crescimento capitalista impediu que os avanços teóricos e a formulação de leis observáveis na relação do homem com a natureza tivessem consequências nas consciências para além das aplicações técnicas imediatas.
O autor é um historiador de idéias, hermeticista e druída que reside em Ashland no estado norte-americano de Oregon.
Aconselhamos o contacto com o seu trabalho e a leitura integral deste texto, mas deixamos algumas passagens.

A consequência fundamental da lei da entropia, para aquilo de que estamos a falar, é que não é a energia como tal, mas sim a diferença de energia potencial , que permite realizar trabalho. Imagine duas rochas arredondadas de igual peso, uma delas assente num planalto liso e a outra assente na inclinação de uma colina abrupta. Se as duas estão à mesma distância do centro da Terra, a gravidade confere-lhes exactamente a mesma energia potencial. Mas, se empurrar a do planalto não é provável que vá além do retesar dos seus músculos, ao passo que se der um empurrão igual àquela que está no plano inclinado, poderá pô-la a rolar colina abaixo, esmagando tudo que encontre no seu caminho (…).
Com o tempo que a luz solar demora para chegar até nós, depois de atravessar 150 milhões de quilómetros de espaço vazio, ela não é simplesmente aquela fonte concentrada de energia. Eis porque levou muitos milhões de anos aos organismos de fotossíntese da Terra a acumular as reservas de energia que nós agora dissipamos tão livremente. O vento e a energia hidroeléctrica são ambos luz solar em segunda mão, o produto de ciclos naturais orientados pelo sol e o mesmo é também naturalmente verdade para todos os tipos de bio-combustíveis, A energia nuclear é um recurso de energia não solar que adquirimos, mas ela tem problemas e limitações severos por si própria, nem que seja pelo facto de que os inputs de combustível fóssil que precisamos para construir, operar e desactivar um reactor nuclear são tão elevados que há um problema real de saber se é uma fonte líquida de energia afinal de contas. (Naturalmente que quanto mais a promoção de uma tecnologia nuclear está longe da implementação real, melhor parece, pode-se perguntar se não será promessa de um optimismo infundado).
Mas, será que isto significa que a aposta nas energias alternativas é um desperdício de tempo? Naturalmente que não. Por muito modesta que seja a produção de fontes alternativas, elas são o que temos para trabalhar quando os combustíveis fósseis desaparecerem. O que isto significa, pelo contrário, é que o tipo de civilização que construímos nos últimos três séculos não sobreviverá ao fim dos combustíveis fósseis baratos e abundantes. Uma sociedade que está habituada a ter as coisas feitas por rochas enormes a rolarem colina abaixo está em vias de ter de aprender a contentar-se com os muito menos pródigos resultados do lançamento de calhaus.O problema aqui é que muito poucas pessoas querem lidar com esta realidade. A grande maioria fará por acreditar no ponto zero de energia e em diabólicas lagartixas do espaço e quaisquer outros absurdos que se possam referir, em vez de engolir em seco, respirar profundamente e admitir que a prosperidade que desfrutámos durante os últimos três séculos foi comprada em prejuízo dos nossos netos. Por vezes suspeito que uma das razões porque tantas pessoas gostam de imaginar um fim apocalíptico para a era industrial é que a extinção súbita é mais fácil de contemplar do que a experiência de vagarosamente despertar para a plena extensão da nossa própria estupidez colectiva.

1 comentário:

neves disse...

Uma reflexão muito importante.
A nossa "estupidez colectiva" é uma boa forma de resumir o quanto todos nós vamos contribuindo para a destruição de tudo o que nos é indispensavel.
Ha que tomar consciência e agir, enquanto podemos.